i can see you ⊹ shawbrina

01 ⊹ Give it a try.

s a b r i n a

Assim que as luzes se apagam e me despeço do público, desço alguns degraus para fora do palco e imediatamente me assusto com barulhos de palmas vindo de todos os lados. Quando consigo voltar aos meus sentidos, percebo que Janelle está na minha frente segurando um enorme bolo com a frase "Primeira noite da Emails I Can't Send Tour" gravada em um coração vermelho e é praticamente impossível não me emocionar.

— Não acredito que vocês estão fazendo isso comigo.

Ouço todos rindo enquanto enxugo algumas lágrimas que, mesmo com bastante resistência, escorreram dos meus olhos. Percebo que minha agente estava me erguendo o bolo com as velas acesas e assim que as assopro mais palmas ecoam pelo ambiente, me fazendo tentar segurar o choro o mais do que conseguia.

— Pode chorar, bonita. Não tem mais motivo para manter a maquiagem intacta. Por enquanto. — ela recua com o bolo e da uma piscadela para mim.

— Mas também não posso me humilhar, calma lá. — após mais algumas risadas consigo me recompor — Não importa, vamos partir esse bolão caríssimo aqui.

O bolo não era tão grande, mas com a quantidade certa de esforço todos ao redor conseguiram um belo pedaço antes de irmos para o hotel e continuar a comemoração por lá.

Pensar de que acabei de sair de um teatro lotado de pessoas que sabiam absolutamente todas as minhas músicas seguido de uma quase farra com a equipe, composta por amigos, que fez tudo aquilo ser verdade me fazia pensar que eu não podia pedir por mais nada. Tudo parece perfeito. Tudo parece ter o seu lugar. Todos parecem felizes, até mesmo alguns amigos de infância que não tinham o menor contato com a indústria da música ou com qualquer tipo de fama sabiam que valeria a pena me acompanhar pelo menos nessa primeira noite. Ah... Como eu gostaria que todas as próximas fossem exatamente assim.

Talvez os únicos que não estejam tão felizes sejam os funcionários e outros hóspedes do hotel. Mas creio que temos uma boa causa.

[...]

Pela manhã, o mínimo barulho era um incômodo. Bem como eram as luzes, o que não ajudou nada quando abri as cortinas e tive certeza que já não era mais tão manhã assim. Pelo menos o espelho ainda me entregava boas notícias.

Após um longo banho e um tempo a toa, ouço batidas leves na porta.

— Boa tarde, Bela Adormecida. Sobreviveu? — A voz de Jane ecoa pelo quarto e peço para que entre — Responda.

— Nunca estive tão viva quanto agora. Apesar das dores de cabeça... E das costas... E dos pés.... A vida ainda é bela.

— Que bom que é... — sorriu — ... Porque eu confirmei uma reunião daqui a uma hora com o pessoal da Island, então se arrume e coma alguma coisa. Querem aproveitar enquanto você ainda está na cidade.

Reuniões inesperadas com os "patrões" eram sempre um certo incômodo antes que elas começassem de verdade. Poderiam ser uma ótima noticia que mudaria tudo, poderiam me demitir ou poderiam apenas me parabenizar por algo em cinco minutos e continuar com suas rotinas de controlar os passos de artistas famosos. Quero acreditar que seja apenas a última opção, não só porque é o que faz sentido devido ao contexto do dia, mas porque, com essa ressaca, não estou com muita capacidade de falar sobre assuntos sérios.

Janelle permaneceu no meu quarto enquanto u me arrumava no banheiro, tagarelando sobre algo que eu não consegui certamente prestar tanta atenção. Mas gosto de fingir que sim.

Ela é o tipo de pessoa que dá conselhos e discursos motivacionais mesmo quando ninguém pediu... Principalmente quando ninguém pediu. E após esses anos eu aprendi a balançar a cabeça positivamente e abrir um belo sorriso. Não porque o que ela diz é ruim ou inconveniente, mas são sempre as mesmas frases que apesar de cuidadosas, ficaram previsíveis.