Capítulo 1

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A chuva castigava a cidade de São Paulo. Era janeiro, deveria ser calor, sol forte e chuva pela tarde. Não naquela madrugada fria e chuvosa. Tudo parecia cooperar para aquele momento.

Gizelly sentou-se em sua poltrona, a casa estava no completo escuro. Nem mesmo a luz do celular podia ser acionada ali. Ela analisou o copo, levou-o até o nariz e inspirou. Com os olhos fechados virou o copo na boca. O líquido queimou a garganta, assim como os outros cinco ou seis antes daquele.

Logo esticou o braço e pousou o copo na mesinha ao lado do retrato de Cecília e Gabriel. A cabeça latejava e não adiantava se entupir de remédios. A tensão dos últimos meses desde que conhecera Ivy Moraes, o envolvimento e a notícia que mudara sua vida, eram o motivo das dores.

Ivy fora sua acompanhante de luxo, a mais cara e mais bela. Morena de olhos verdes e um corpo perfeito. Ela sabia como cansar a advogada, doutora Bicalho. Porém Ivy tinha um defeito. Era carente, e o envolvimento com Gizelly a fez imaginar que talvez elas poderiam ficar juntas. Ivy parou de tomar os remédios, e em uma viagem a negócios como acompanhante, esperou que Gizelly estivesse tão bêbada a ponto de não se importar em se proteger. No mês seguinte, ela mandou a seguinte mensagem: "Estou Grávida."

Gizelly não fez o que ela planejava, mas arcou com a responsabilidade do filho e da mãe, que não poderia trabalhar. Ivy se mostrou mesquinha, mentirosa, levou a gravidez à público, gerando um escândalo nacional. Não fosse a irmã, Gizelly teria se afundado ainda mais na depressão. Agora, sete meses depois, Ivy ainda era o foco dos programas de fofoca.

Gizelly respirou fundo, queria que tudo aquilo não tivesse acontecido. Talvez desejasse com certo afinco, que Ivy fosse apagada da história do mundo.
Ela recostou na cadeira e fechou os olhos por um minuto quando ouviu o celular tocar. Era próximo das duas horas da manhã, quem quer que fosse, não queria jogar conversa fora. Ou queria? Afinal, o nome que aparecia ali, era justamente o de Ivy Moraes.

Ligação on:

- Não me diz que está com desejo de comer algo louco?! - Gizelly perguntou com uma certa ironia, assim que atendeu.

- Senhorita Bicalho?

A voz diferente e os sons ao fundo, fez Gizelly se ajeitar na poltrona.

- Onde está a dona do celular?

- Senhorita Bicalho, Ivy Moraes deu entrada no hospital da sua família. Pode vir até aqui?

Gizelly encerrou a ligação as pressas, escolheu uma roupa fácil e correu até o carro.

Não havia trânsito naquela hora, mas a chuva ainda caía forte. Ao chegar no hospital ela parou o carro de qualquer jeito e correu porta adentro. A balconista, provavelmente a mesma que lhe informou sobre Ivy, se levantou.

- Ela está do terceiro andar. Quer que eu...-

- Sei chegar até lá.-

O elevador parecia demorar uma eternidade para descer, e mais ainda para deixa-la no andar desejado.

- Gi?-

- Marcela.- Gizelly caminhou até a amiga. - Pensei que estivesse no Rio.-

- Estava! Vim participar de um procedimento pelo projeto. A paciente apresentou sangramento pela madrugada, era coisa simples, um ponto que rompeu. Assim que saí do quarto me informaram que uma moça havia caído na entrada do hospital.-

- Onde ela está?-

- Ela chegou aqui sangrando muito, pedia para salvar o bebê. Estava bem machucada.- Gizelly mal conseguia engolir a saliva, sentia todos os músculos do corpo rígidos. - Ela foi deixada na porta do hospital por um carro que fugiu. Está agora mesmo na sala de partos.-

Uma babá para Luca. (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora