Capítulo 26

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Depois de uma sessão torturante de vômitos e cólicas, Rafaella totalmente limpa e vestida, desceu para encontrar o pai lendo algum artigo em alguma revista exclusiva para médicos.

- Bom dia!- Mirian disse, ao colocar uma fatia de pão no prato, enquanto encarava a enteada de lado. - Como tem se sentido?-

- Tirando os vômitos, estou indo.- Rafaella se sentou

- Tem notícias do garotinho?- Sebastião perguntou fechando a revista, colocando-a de lado, para logo cravar os olhos na filha.

- Ele está bem! Conversei com ele ontem por vídeo. Não terá sequelas na perninha.-

- Fico feliz, meu bem. Só me preocupa uma coisa...- Ele então cruzou as mãos em cima da mesa. - A mãe dele, que deu uma de mulher gato... Sair escalando muros por aí, pode acarretar em acidentes graves.- Rafaella se manteve em silêncio, engolindo em seco. Logo notou a madrasta segurar a risada, mas não se atreveu a olhar para os lados. - Diz para ela que da próxima vez, pode sair pela porta. Eu não vou espanta-la daqui a pauladas.-

- Não vai mais acontecer.-

- Espero que não!- O médico voltou a se concentrar no café.

Rafaella comeu o quanto podia. Acordara decidida a dar o primeiro passo. Terminaram o café após longos minutos de conversas e então voltou para o quarto. Tomou um banho, se agasalhou e saiu novamente.

- Não demoro a voltar.- Ela beijou a testa do pai. - Até logo!-

- Seja forte, querida.-

Ela assentiu um tanto ansiosa. Por fora era a calmaria em pessoa, por dentro se desmoronava. E só desejava que o dia acabasse logo.

Dirigiu até uma loja, comprou flores e dois balões que mandou encher. Voltou ao carro e enviou uma mensagem simples.

"Me encontre onde deixou a Maria."

Ela sabia onde a filha estava repousando, só não tivera coragem de ir até lá. Agora, parada na frente daquele portão de ferro, encarava a vida com estranheza. Lá dentro tinham pais, mães e filhos. Histórias encerradas. Ficou encarando o portão até ouvir o som de rodas no paralelepípedo.

- Rafa?- Antônio se aproximou. - O que veio fazer aqui hoje?-

- Enterrar a minha filha. Da forma certa.-

- Já faz mais de um ano. Não acha que isso pode abrir a ferida em você?-

- Vem ou não?- Ela começou a andar.

Uma garoa fina começou a cair em cima do mausoléu mais bonito daquele cemitério luxuoso. Antônio havia tido o cuidado de refazer o quarto da filha.

Ele destrancou a porta de vidro e entrou fazendo partículas de poeira voar sobre seus pés. A mesma poltrona, os ursos, e o berço, que na verdade era o
sepulcro da pequena Maria Antonella.

Rafaella entrou ali e logo foi tomada pelas lágrimas. Sentou-se na poltrona sem forças para continuar em pé. Antônio logo tirou o celular do bolso e depois de uma breve procura, uma música começou a tocar. Ele então fechou os olhos. Emocionado de mais, começou a traduzir a música.

- "Além da porta existe paz, tenho certeza. E eu sei que não haverá mais lágrimas no paraíso.- Ele fungou. - Você saberia meu nome se eu o visse no paraíso? Você seria o mesmo se eu o visse no paraíso? ...."-

Quando aquela música acabou ele caiu de joelhos, segurou no pequeno berço chorando alto feito uma criança machucada. Rafaella se abaixou ao lado dele e pôde ali sentir ser rasgada ao meio. Sentiu tanta dor que pensou não suportar. Então colocou a mão sobre o bercinho e desejou mil vezes a morte.

Uma babá para Luca. (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora