Capítulo 37

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Valentina digitava no notebook. O pescoço doía pelo tanto de tempo que estava ali. Olhou em seu relógio de pulso, constatando que já era quase sete horas da noite e logo voltou ao trabalho. Não podia reclamar do cansaço, pois Rafaella passara horas sentada naquela cadeira, olhando para a mulher pálida e desacordada. Ela viu de canto de olhos, quando a mão de Gizelly se levantou e voltou a pousar na cama. Desesperada, ela fechou o notebook e o deixou em cima da mesa. Se levantou e analisou o monitor.

Gizelly abriu os olhos vagarosamente, primeiro focou no teto e tentou abrir a boca. Essa que estava muito ressecada e doía um bocado. O abdômen também doía. Ela então arrastou a mão até o ferimento, sentindo as camadas de curativos ali, e saindo dela, um cano.

- Você passou por uma cirurgia delicada.- Valentina se aproximou da irmã e pousou a mão no ferro da cama. - Você perdeu uma parte do baço, e teve um pequeno ferimento no intestino. Isso aí é uma sonda, e logo abaixo tem uma bolsa. Você não ia querer ver o tanto de fezes aí.-

Gizelly franziu o nariz, não olharia nunca para uma bolsa daquela.

- Quanto tempo eu...-

- Um ano.- Ela lhe respondeu. E notando o olhar de
incredulidade da irmã, continuou: - Rafaella veio aqui com o namorado.-

- Porra!- Gizelly fechou as mãos em punho. A voz saía um pouco fraca. Logo fixou os olhos na irmã e a viu brotar um sorriso, que virou uma risada.

- Quatro dias.- A neurologista contou a verdade, e logo ficou séria outra vez. - Assim que acabou o procedimento e você passou as primeiras vinte quatro horas, minha equipe te trouxe para o Rio. Está em casa, cara.-

- E a Rafaella?-

- Ela passa a noite aqui com você, e eu ou Luiza os dias. Aliás, falta pouco pra ela chegar aqui.-

Gizelly se lembrava de tudo, até mesmo da visão que tivera com o pai. Porém não contou, pois Valentina também passou por um momento entre a vida e a morte e relatou ter visto a mãe. Se Fernando quisesse ter visto a filha, teria ido até ela também.

- Achei que fosse morrer.-

- Eu também. Esperei aquela maldita cirurgia acabar, temendo que você nos deixasse. Os médicos foram precisos, ágeis... Cara, você aguentou firme até o fim. Sua cirurgia foi um sucesso.-

A advogada respirou aliviada. Pelo menos estava ali e poderia voltar para a família.

- Rafaella veio comigo?-

- Acompanhou tudo de perto. A hora que te levaram para o centro cirúrgico, ela ajoelhou no chão do hospital e passou horas assim. Nunca vi uma pessoa tão abalada, ser tão forte. Até mesmo a Lu se surpreendeu com a quantidade de sangue nela.-

- Ela não pode passar por isso, está grávida.- Gizelly virou o rosto para o outro lado.

- Estão bem, Gi. Eu mesma monitorei de perto. As dores dela foram brandas, o DIU nem se moveu. Está tudo bem!- Gizelly não perguntou por Talles, não queria saber dele, ainda mais depois de saber a verdade por trás de toda a loucura. - Você perdeu muito sangue. Precisou de algumas bolsas, e ainda não sabemos se vai precisar de mais algumas. O seu médico passará amanhã pela manhã. Eu venho com ele.-

Gizelly se sentia envergonhada, nunca foi tão exposta assim. Sempre se precaveu, e naquele dia encerrou o contrato com a empresa de segurança, achando que em movimento ninguém a faria mal. Valentina reuniu as coisas, se despediu da irmã e saiu do quarto sem contar que na verdade, Rafaella havia sentido dores sim. Houve uma pequena dilatação e ela começou o tratamento de cerclagem imediatamente, na esperança de segurar os bebês até estarem fora de perigo.

Uma babá para Luca. (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora