Capítulo 39

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2/5 FIM

Talles abriu os olhos e outra vez estava na maldita clínica para loucos. Já de manhã cedo, ouviu o grito de pelo menos dois dos mais violentos.

A cela em que ele estava sendo mantido era branca, com uma cama simples, cadeira e uma mesinha. Havia também uma janela pequena e fechada por grades e ferros. O local era caro e ele sabia que quem o mantinha ali eram as perfeitas Bicalho de Albuquerque.

Ele se sentou na cama e passou a mão no rosto várias vezes para tentar amenizar o efeito das drogas. Uma coisa boa havia acontecido: Cyntia estava desaparecida da sua mente quebrada.

"Talvez tenha ficado com o saco de lixo." Pensou ele.

Assim que acabou de fazer as necessidades matinais no banheiro totalmente exposto, o som do cadeado o fez virar o rosto. Um dos seguranças abriu a porta e deu passagem para uma mulher. Apesar dela ser aparentemente nova, era séria e profissional. Parecia saber bem o que fazia ali. Tinha a feição dura e os olhos cor de jambo, que combinavam com o cabelo escuro.

- Bom dia, senhor! Como está se sentindo?- Ele lhe deu as costas como resposta, e segurou a grade com as duas mãos. A raiva crescia cada vez mais. - Bem, imagino que queira tomar um sol, o dia está lindo e eu tenho notícias para você.- Talles então olhou por cima do ombro. - Vem comigo!-

Ele a seguiu até a área de sol, se sentou em um banco de madeira e encarou os pés. Estava com frio pois as unhas estavam roxas. A mulher logo voltou a dizer:

- Vou tirar o medicamento de você aos poucos. Vai passar pela abstinência nos primeiros dias, e depois vou lhe ensinar a ser outro homem.-

- Nem se eu morrer.- Ele riu pelo nariz.

- Eu sei o motivo da sua revolta, e sei que é um dos garotos ricos. Um pobre bastardo.-

- Se sabe, o que faz aqui? Pode me deixar apodrecer naquele quarto. É isso o que todos querem.-

- É isso o que você quer? Passar a vida ali dentro?-

Ele pensou por um bom tempo. No fundo só queria mesmo ser livre.

- Eu só queria parar de ver a minha mãe. Só isso.-

- Sua mãe é um demônio que vai te acompanhar, até você ter a coragem de matá-la dentro de você... Quando isso acontecer, vai ser livre.-

- Legal.- Ele se encolheu. - Você mentiu.-

- O que disse?- Ela se aproximou dele.

- Me disse que estava fazendo um sol lindo. Na verdade está cada dia mais frio aqui. E mentiu quando entrou no quarto se passando por médica.-

- O que te faz pensar que eu sou uma mentirosa compulsiva?-

- Se olhar em volta, vai ver que todas as médicas aqui seguem um padrão. E você nem se apresentou.-

- É por isso que você me chamou a atenção. É esperto, além de frio.-

- O que quer comigo?- Ele finalmente virou o rosto e encarou os olhos dela.

- Hoje a noite você será levado para a unidade do Rio, e eu vou junto. Vou esperar pelo desmame do seu remédio enquanto trabalho com você. Se você aceitar, posso mudar a sua vida.-

Talles riu, dessa vez ela estava sendo a lunática ali. Só podia ser um paciente que furtara o jaleco de alguma médica. Contudo, o sorriso morreu quando ele percebeu a seriedade no olhar dela e a proximidade do segurança.

- O que você vai fazer pra me dar uma vida nova?-

- Eu vou te matar e transformar a sua raiva em algo ainda pior. E depois vou direcioná-la para o lugar certo. Só preciso que aceite a minha proposta, sabendo que deixará de ser um meio irmão louco e violento. Vai ter que esquecer tudo o que te prendeu aqui.-

Uma babá para Luca. (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora