Capítulo 19

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Ana observava de longe, indignada com a burrice da patroa, em deixar um mal carácter se apossar da casa dela.

Talles era exigente, mal-educado e bagunceiro. Por vezes foi flagrado andando pela casa, e até tentou entrar no escritório enquanto Gizelly não estava. Por Sorte, a porta estava trancada.

A advogada se afundava em trabalho e chegava tarde da noite, para se enfiar no quarto da babá.

O final de semana se aproximava e Rafaella sabia que não teria tempo de ver o pai. Passou a manhã com Sebastião, levou Luca consigo e ajudou Mirian com a organização dos medicamentos.

- Sabe aquela moça, a Maia?- A madrasta chamou sua atenção.

- Sim... Nunca vou me esquecer dela.-

- Ela passou em consulta. Disse para a doutora Marcela que vai cursar enfermagem.-

- Que bom! Fiquei com medo de receber uma notícia ruim sobre ela.-

- Maia está vivendo, filha. Um dia de cada vez. A sessão de fotos dela ficou linda e está fazendo sucesso. Até já está inclusa no projeto Maria Antonella.- Sebastião disse de onde estava acamado.

Todas as vezes que ouvia o nome da filha, Rafaella sentia o peito apertar. Agora Maria seria isso, somente uma lembrança triste e um apoio para as mães que perdem seus filhos, ou lidam com as consequências do parto prematuro.

- Não fique triste, Rafa. Você foi corajosa ao ir lá.- Mirian voltou a dizer.

- Eu me coloquei no lugar dela, e na verdade eu faria o mesmo.-

- Todos nós agimos assim, impossibilitados de entregar nossas crias para um estranho enterrar.- O médico lhe disse novamente.

- Pai, eu preciso voltar. Luca tem fisioterapia mais tarde... Vou te ligar e voltar aqui assim que sair de novo.-

Assim que se despediram, ela pegou Luca com a madrasta, saiu para a rua e atravessou. Estava indo na direção do carro, quando Antônio apareceu em seu campo de visão. Sabia que corria aquele risco, afinal, ele trabalhava ali perto.

Ela caminhou tranquilamente e ele praticamente correu até ela.

- Bom dia, Antônio!- Soou seca.

-Bom dia, Rafa!- Ele se aproximou ainda mais. - O que faz aqui?-

- Vim ver o meu pai. Preciso voltar.-

- Rafaella.- Ele colocou a mão na porta do carro. - Espera, vamos conversar.-

- Então me escute bem.- Ela o encarou. - O que tenho para dizer, vai ser dito aqui mesmo. Quero o divórcio.-

A expressão do rosto dele passou de surpresa para raiva, e de raiva para deboche. Ele até riu.

- Deixa de birra, Rafa. Já se passou um ano da nossa perda. Ambos erramos, mas agora acabou.-

Ela o encarou mais uma vez. Incrédula com as
palavras dele.

- Está se ouvindo, Antônio?-

- Sim. Eu tive um caso passageiro com a sua irmã, mas acabou e eu te quero de volta... Já faz um ano que não durmo com ninguém, te esperando.-

- Deixa de ser mentiroso. Se eu for agora mesmo na portaria, descubro todos os nomes das suas acompanhantes dos últimos quinze dias.- Ela o fuzilou com os olhos. - Acabou, Antônio! Fomos o casal super do colégio e da faculdade. Casamos na presença de quatrocentos convidados e tivemos uma vida baseada em mentiras. A sua despedida de solteiro, que eu tenho certeza que foi com a Giovanna.-

- E você estava abraçada com ela.-

- Somos irmãs. Temos o sangue que nos une. Enquanto eu e você somos ligados somente por um papel inútil. Vamos acabar logo com isso, da melhor forma.-

Uma babá para Luca. (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora