Capítulo 31

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Gizelly retirou o celular do bolso e enviou uma mensagem rápida. Em pouco tempo um carro, que provavelmente estava por ali, parou frente a casa. Dele desceram dois seguranças.

- Um vai conosco, o outro fica pra fazer a segurança do meu filho.-

Entraram no carro e seguiram para o hospital. Rafaella, por incrível que parecesse, naquela hora estava calma. Não chorou ou se desesperou. A dor do luto a corroía com memórias deles, e depois logo vinha a confirmação de que ela e o pai foram mais próximos nos últimos dias.

Assim que chegaram, Gizelly cuidou de tudo. Enquanto isso, as mulheres eram levadas ao encontro de Sebastião.

- Senhora Mirian.- A médica do plantão noturno saiu do quarto e a cumprimentou. Logo encarou as irmãs.
- Meninas...- Ela as olhou com pesar. - Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. A última parada que o doutor teve, nossa equipe quase não conseguimos reanimá-lo.-

- Ele está sob ventilação mecânica.- Rafaella tomou a vez.

- Como sabe?-

- Conheço esse som.-

- Ele está fraco. O coração do Doutor Fernandes cresceu em um tamanho considerável, e está comprimindo parte do pulmão. Eu lamento meninas, nesses casos chamamos a família para se despedir com calma, pois a qualquer momento ele pode partir.-

Mirian não conseguiu se segurar, e chorou ali, desesperada.

- Mirian...- Rafaella pegou nos ombros da madrasta, que fora a companhia do pai nos últimos anos. - Precisamos ser fortes. Meu pai odeia choradeiras, você sabe. Entra lá a conversa com ele, depois eu e Giovanna. Nós somos tudo o que ele tem.-

Mirian limpou as lágrimas com as costas das mãos, respirou fundo e caminhou para dentro do quarto. Ao entrar, encostou-se na porta e encarou o marido moribundo, esperando pela morte.

- Ah, Tião...- Chorando contida, se aproximou do marido e tocou na mão fria dele. - Pensei que tivéssemos tantos anos pela frente, que você me veria partir, e com essa sua postura, faria tudo da forma correta. E olha só, sua filha está fazendo isso... Eu quero que saiba que eu sempre te amei e sempre vou te amar, mesmo depois da sua partida. Vai em paz meu velho e grande amor. Leve consigo um pedaço do meu coração.-

Ela o beijou no rosto e cada uma das mãos enquanto tentava desesperada gravar na mente a textura da pele dele. Demorou-se um pequeno tempo ali e por fim saiu do quarto. Sentou-se na cadeira e fechou os olhos.

- Giovanna, você vai agora.- Rafaella disse, de forma fria.
- Eu vou depois.-

Giovanna afirmou com um movimento e se levantou. Chegou a colocar a mão na maçaneta da porta, mas recuou e voltou para junto da irmã.

- Eu não consigo, Rafa. Estou com o mesmo medo que tinha, quando achava que uma bruxa me levaria para o mundo debaixo da cama.-

- É seu pai.-

- Entra comigo?- A mais nova mais parecia uma criança assustada. - Por favor! Não precisa ficar por perto, eu só não quero...-

Rafaella estava ficando nervosa, as mãos suavam muito. Levantou soltando um suspiro baixo e passou pela irmã. Em seguida abriu a porta do quarto. Giovanna entrou de olhos no chão, havia entrelaçado os dedos e os apertavam dolorosamente.

- Ele pode te ouvir. Fale com ele.- Rafaella lhe disse.

- Pai.- Giovanna levantou os olhos cheios de lágrimas, encarando o mais velho. - Papai.-

Rafaella queria odiar a irmã como nas últimas horas, mas não conseguiu. Ela mesma estava sentindo uma tristeza profunda. Então viu quando Giovanna caminhou até junto da cama do pai e esticou os dedos. O contato com a pele fria a fez se assustar, mas ali era seu pai, não um estranho. Todavia, ela entrelaçou os dedos dela aos dele.

Uma babá para Luca. (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora