Capítulo 10

4 0 0
                                    


Em quarenta e oito horas, Akin embarcou para Istambul, onde havia previsão de permanecer por, no mínimo, duas semanas. Cumpriu agenda de reuniões na empresa e de visitas a importadores locais, com quem assinou vários contratos e ampliou o leque de itens do agronegócio iraniano. Chegou a imaginar que, caso algum dia decidisse se tornar um empresário de verdade, sem contar com o suporte da Organização, teria um décimo daquele êxito.

No tempo restante, participou de encontros de atualização com Hakan Durmaz na estação do Mossad. Numa dessas conversas, Durmaz deu-lhe nova informação.

- Talvez você tenha curiosidade sobre o método que usamos para monitorar Asadi durante todos esses anos. Não é um método completamente eficiente, mas ele entrega o que precisamos com baixíssimo risco de exposição. Utilizamos um sistema de coleta eletrônica de informações sobre o nosso "ativo". Temos um artefato inserido numa sala alugada num edifício a poucas quadras do Ministério da Defesa. O aparelho, assim como sua antena, estão escondidos numa falsa parede. Eles são capazes de escutar e gravar remotamente as conversas do telefone celular de Asadi. Essa interceptação foi possível quando conseguimos introduzir um software espião pela frequência de trabalho do celular do general.

- Parece ser o sistema MITM  (10) - interrompeu Akin- Estou a par. É um sistema invasor difícil de detectar. Funciona como torre espiã de celular entre dois aparelhos de telefone.

- Precisamente. Usa a tecnologia "stingray" (11). Por mais avançada que seja, ela tem um curto prazo de existência não detectável, pois nossos opositores também investem em métodos de contraespionagem. O prazo da atual versão está se esgotando.

- E como ocorre a coleta de informações do sistema?

- Antigamente, era manual. Alguém, periodicamente, precisava esvaziar o conteúdo de um pendrive do sistema e nos enviar. De uns tempos para cá, usamos nova versão que criptografa o conteúdo da mensagem e o redireciona por via telefônica digital a um local remoto, vigiado por uma base americana, no Paquistão. De lá, via satélite, é distribuída para conexões aliadas. Uma delas é para nós.

Durmaz também explicou-lhe que a sala no bairro próximo ao gabinete de Asadi fora alugada em nome de uma pessoa fictícia portando falsificação perfeita da sua documentação. Como cobertura, a sala continha roupas usadas enfileiradas em cabides, dando a impressão de ser o depósito de algum mascate. As taxas do imóvel eram pagas automaticamente por uma conta bancária aberta com o mesmo sistema. O prédio era antigo, mal conservado e não tinha porteiro, zelador ou bisbilhoteiros. Era perfeito para a função.

A tarefa para Akin consistia em receber um novo stingray semelhante ao já em uso, mas com nova capacidade: a de também ativar o microfone do aparelho celular "grampeado", captando e retransmitindo as conversas ao redor, mesmo estando ele aparentemente desligado; idem para mensagens de texto recebidas e transmitidas por Asadi. Akin deveria providenciar a instalação do equipamento com um Sayan e verificar a operacionalidade do novo sistema. A tarefa deveria ser efetuada imediatamente após a sua chegada a Teerã.

Em seguida, Durmaz enfiou a mão no bolso da calça, de onde retirou duas chaves numeradas, e as entregou a Akin. Deu-lhe as instruções finais e dispensou o seu katsa para aquele dia.

ooo0ooo

Naquela mesma tarde, sentada à mesa em seu escritório na Balik Trading, Pinar recebeu um telefonema. O interlocutor falava um francês rudimentar, mas se fazia entender.

- Madame Balik? Boa tarde. Sou telefonista do Ministério da Defesa. O Vice-Ministro Aziz-Reza Asadi deseja falar-lhe. É possível atendê-lo?

- Sim. Pode passar, por favor. - Sentiu o coração disparar e ficou alerta. Como espiã em território hostil, precisava estar preparada para qualquer eventualidade.

O Gato do DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora