Capítulo 14

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Akin viajou para Istambul para liberar Pinar em sua parte no plano. Era quinta-feira, 14 de abril. Sozinha em seu apartamento no bairro de Elahiyeh, Pinar leu suas ordens na revista , recém coletada. Em seguida, ligou para Asadi.

- Meu querido, estou morrendo de saudades. Muito sozinha e muito carente. De tudo! Tenho boa notícia para nós: estarei livre neste fim de semana. Pensei em passá-lo junto a você para retomar seus carinhos, mas gostaria que tivéssemos total privacidade

Ávido como estava por ouvir aquela voz e amar aquele corpo, Asadi demorou não mais do que um segundo para lhe dar a resposta:

- É claro! Tenho compromissos marcados para sábado e domingo, mas eles que me perdoem! Estou louco para te ver! Posso dar um jeito e desmarcá-los. Concordo com a privacidade! Que tal Al-Hasakah novamente?

ooo0ooo

No sábado pela manhã, dia 16 de abril, encontraram-se cedo no Aeroporto Internacional de e logo estavam a bordo do A36-Bonanza. A chegada coincidiu com o horário do almoço na residência de Al-Hasakah. O cozinheiro, único funcionário da casa no momento, preparou Morasa Polo, um prato iraniano tradicional e da preferência de Asadi, feito com arroz salpicado de pequenos pedaços de frutas e grãos, cozido com pistache, amêndoas, casca de laranja, bérberis e açafrão misturados e servidos com carne de frango e salada de cenouras.

Pinar elogiou o prato, um dos melhores que já havia provado desde que se mudara para o Oriente Médio, o que era verdade. Após, Asadi convidou-a para um passeio a pé, sob o sol, pelas imediações. Era primavera e o ar estava impregnado de aromas e de borboletas. Duas horas depois, já de volta, Pinar emitiu um gemido e se queixou de desconforto abdominal, o que era mentira. Pediu licença, foi até o dormitório, apanhou a bolsa e trancou-se no toalete contíguo. Abriu uma pequena ampola, aspirou-a com a seringa e injetou o conteúdo na veia do antebraço. Após o uso, descartou todo o material pelo vaso sanitário.

Ao retornar, Asadi acompanhou-a até o dormitório.

- Estou um pouco tonta e sinto cólicas. Desculpe, Aziz. Tinha grandes planos para hoje à noite. Não queria estragar o nosso encontro - disse, recostando-se no leito.

Dias antes, Pinar havia recolhido a ampola e a seringa no guarda- volumes do terminal de ônibus de Teerã, conforme instruções prévias de Durmaz. A substância injetada era Prostaglandina E, utilizada em obstetrícia como indutora do trabalho de parto. Tinha, também, efeitos colaterais, como febre, náusea, vômitos e diarreia. Na dose utilizada por Pinar, as manifestações durariam cerca de um dia e meio.

Cerca de uma hora mais tarde, já febril, levantou-se às pressas e voltou ao banheiro. Não foi sem aflição que Asadi, aconchegando-se a ela na cama, escutou as manifestações gastrintestinais da droga. Pegou o telefone, mas não encontrou um médico disponível no hospital da cidade para atendimento domiciliar na área rural ́àquela hora. Então, informou a Pinar que telefonaria para o seu próprio médico de família, em Teerã, ao que Pinar se contrapôs.

- Não, querido! Vamos levantar suspeitas de estarmos juntos aqui, o que é muito comprometedor no Irã. Tenho outra ideia. Posso telefonar para a minha médica particular em Istambul e pedir orientações. Eu tenho alergia a certos condimentos, como açafrão. Não me dei conta que havia esse tempero na comida. Já tive episódios assim antes. Devo melhorar em poucas horas. Não se preocupe.

Asadi escutou a conversa travada em francês pelo viva voz do celular de Pinar. Respondendo às indagações da "médica", informou que a temperatura axilar era de 38,5 Co , estava hidratada, a pulsação era de 85 batimentos por minuto e que respirava normalmente. "O quadro é compatível com infecção intestinal que, na sua idade, costuma melhorar espontaneamente. Vou prescrever antitérmico, antiemético e solução de eletrólitos por via oral. A diarreia deve ceder por si. Ligarei amanhã para acompanhar sua evolução. Faça repouso absoluto enquanto isso. E, Pinar... nada de álcool!", completou a "médica"; aliás, uma operadora da estação do Mossad em Istambul, previamente orientada para desempenhar esse papel.

O Gato do DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora