Capítulo 17

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Tel Aviv, 27 de novembro de 2006.

Eitan Holtz revisou pacientemente a leitura do dossiê. Anotou detalhes da biografia e das avaliações do ex-major das FDI, agora seu espião nos últimos quatro anos. "O sujeito até que goza da simpatia de alguns avaliadores", pensou. Intimamente, porém, considerava o operador de campo Khatool Holot um ser humano peculiar: inteligente e talentoso, mas independente e imprevisível. Nos subterrâneos da sua mente, uma tênue voz de alerta soava a cada reavaliação periódica do agente. Apesar da integração do povo druso com a cidadania israelense, ele detinha informes que o perturbavam. Por exemplo, de que alguns remanescentes da comunidade drusa do Golã continuavam a manifestar lealdade à Síria. A cada ano, na data nacional daquele país, não era raro observar bandeiras e discursos pró-sírios nas cidades israelenses. Evidentemente, as convicções políticas de Khatool Holot sempre foram monitoradas pelo setor de Contra-Inteligência do Mossad e nunca dispararam qualquer alarme. Era uma rotina indistinta da Organização. "Mas, de qualquer maneira, aí estava o caso recente de Ashraf Marwan, um agente duplo (servindo a Israel e Egito simultaneamente) ou triplo (e também ao Reino Unido?) a provar que todo o cuidado é pouco neste ramo. Sendo assim, até que ponto podemos entregar novas e enormes responsabilidades a ele?"- Indagou-se o espião mestre, arrolando argumentos para reforçar sua tese.

No dia seguinte, tentaria expor suas divagações a Elah com mais objetividade. Mas não tinha tanta certeza de convencê-la. "Que diabos? Era escolha dela. Então, que assumisse a responsabilidade caso algo desse errado!"

Recebeu-a em seu gabinete no mesma tarde, conforme combinado. O pendrive contendo o dossiê de Kathool Holot e a evolução de toda a Operação Pomar de Oliveiras até ali estava sobre a sua mesa. Entregou-o a Shapiro ao convidá-la a sentar-se.

Ele manteria seus argumentos contrários à indicação do katsa para chefiar a missão a Londres:

- Li todo o arquivo. Nosso agente parece esforçado, mas boa parte do mérito é da katsa Zrikha. Em minha opinião, Khatool Holot ainda precisa comprovar sua capacidade de liderança e seu comprometimento com o plano. Portanto, meu entendimento da situação pouco mudou. Pelo que vejo, o desfecho da OPO está próximo. O que ainda está faltando para a extração do general?

- Preciso atualizá-lo sobre um novo informe recebido de Kathool Holot e Zrikha há poucas minutos. Eles fecharam um acordo com Asadi para a sua extração!

Holtz retesou-se na cadeira.

- Já não era sem tempo - grunhiu.

- Sim. Khatool Holot e Zrikha abriram o jogo para ele. Está recrutado e concorda em desertar. Estamos agora estruturando a exfiltração deles. Devido à geopolítica da região, precisamos acertar alguns pormenores com os nossos "vizinhos aliados". Dê-me duas semanas para concluí-lo. Em breve, nosso homem estará sentado à sua frente, eu prometo.

O espião-mestre apenas resmungou. Shapiro prosseguiu:

- Acho que não é o momento para discutirmos o assunto em aberto.

Sem esconder o desconforto, Holtz finalizou a conversa:

- Vamos dar um prazo para o final da OPO: 7 de dezembro, impreterivelmente; ou seja, daqui a 10 dias. Organize a remoção. Em seguida, precisaremos detalhar a missão a Londres referente a Irfan Oshmani, antes que seja tarde demais. Se Kathool Holot vai liderá-la ou não, dependerá de ele voltar vivo da operação no Irã.

ooo0ooo

O plano para a extração de Asadi foi recebido pelos dois katsas em Teerã quatro dias após a reunião entre Eitan Holtz e Elah Shapiro. Tinham pouco tempo para ultimar os preparativos até o prazo fatal de 7 de dezembro. A possibilidade de recuo de sua decisão de desertar foi considerada mínima por Tel Aviv, levando em conta o isolamento político, o retorno iminente à prisão militar para cumprir o restante da pena e o risco de ser novamente condenado nos demais processos a que estava respondendo. Sem perda de tempo, Pinar compareceu sozinha à residência do general para verificar os últimos detalhes antes do dia aprazado. Ao sentar-se numa cadeira da sala de estar perante ele, aguardou que ficassem sozinhos. Assim que pôde, reinquiriu-o sobre a decisão de abandonar o seu país. A resposta do ex-vice ministro foi afirmativa e decidida. Então, entregou-lhe uma sacola onde havia roupas e um par de tênis. Dirigiram-se ao fundo da residência, onde ela fotografou o pátio e os muros. Discutiram o roteiro da manobra de fuga e, ao término, combinaram a data e o horário do evento: 5 de dezembro à noite.

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