Capítulo 11

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A resposta de Durmaz a Pinar não tardou e não surpreendeu: "Evolução satisfatória. Congratulações. Assessoria de importação azeite concedida. Proceder  operação comercial. Obedeça canais alfandegários normais.  Interferiremos apenas excepcionalmente. Evitar exposição". 

Akin deu por encerrados seus compromissos comerciais em Istambul e retornou a Teerã. Ao desembarcar no aeroporto, procurou o corredor onde havia armários de aluguel, situados num desvão ao final do andar térreo do edifício. À distância, aguardou que alguns poucos usuários se retirassem e averiguou as paredes e o teto à procura de câmeras de segurança. Sem detectar problemas, sacou uma das chaves recebidas de Durmaz, abriu um determinado compartimento numerado e nele acomodou sua mala de viagem. Com a outra chave recebida, abriu rapidamente o compartimento contíguo, onde havia um pacote perfeitamente embalado. Sem removê-lo, retirou-se, tomou um táxi e rodou por vários minutos até chegar a uma avenida movimentada, onde desembarcou. Caminhou por mais um tempo até chegar a uma rua lateral deserta. Após certificar-se que não estava sendo seguido, dirigiu-se até um velho muro encardido, onde havia uma reentrância perfeita. Lá, deixou uma das chaves e seguiu em frente. No centro da cidade, deixou um certa marca de giz numa parede, um sinal ao instalador Sayan que o pacote estava à disposição. Somente, então, tomou o rumo de casa para se reencontrar com Pinar.

O reencontro obedeceu às regras da última conversa.

- Consignamos mais alguns clientes na Turquia - disse ele à parceira, mais tarde.- De fato, um deles é grande atacadista e está interessado em importar commodities agrícolas a preços mais atraentes. Leia-se: provenientes do Irã. Suas notícias referentes a Asadi chegaram até mim. Poderemos inserir o azeite na pauta desse novo importador. Estão bem interessados nas especiarias daqui. Na verdade, nossas exportações desde o Irã têm tido preços competitivos no mercado exterior.

- Presumo que os Sayanim de Istambul trabalharam bem. A OPO não sairia do papel sem eles. Conseguiram até um megacliente na hora certa. Em tese, já temos para onde escoar o azeite do general. Oportunamente, teremos que dar a ele essa notícia!

Mudaram o assunto para as atividades de Pinar em Istambul nas últimas semanas. Ela descreveu o encontro no restaurante. A evolução dos fatos transcorria rigorosamente conforme o planejado.

À noite, saíram para jantar. Antes de o garçom trazer as refeições, Pinar tomou a mão de Akin e confessou-lhe:

- Conte-me como você passou. Eu estava sentindo sua falta. Mas também me penitenciei a respeito dos limites que eu mesma não soube manter...

- O chefe da estação me interpelou a seu respeito...Eu menti para Durmaz. Não segui seu conselho, Pinar...

- Ahan! Normal! Seria de estranhar que ele não lhe perguntasse se está dormindo comigo. Me conte de você. Ainda se considera a raposa no parreiral?

- Infelizmente, sim - confessou, num sorriso triste - Vê-la hoje, linda e cheirosa na minha frente, é tortura. Mas vou suportar. Além do mais, receio que essa tortura mal esteja começando...

- OK. Paramos por aqui. Eu prometo a você uma coisa: quando essa missão acabar, voltaremos ao debate. Dou-lhe a minha palavra. Até lá, celibato total.

Pinar estava por encerrar o diálogo, mas adicionou uma última frase:

- Isso inclui você não presenciar meus banhos de sol nua na sacada. Entendido?

ooo0ooo

Eram cerca de nove horas da noite de 5 de novembro de 2003 quando o analista júnior sentado à frente da sua estação de trabalho no setor de Oriente Médio da CIA (12) em Langley, Virgínia, interrompeu a mordida em seu hambúrguer ao perceber um alerta piscante na tela. Para ser acessado, era necessária a presença do chefe da seção. Quando este chegou, solicitou privacidade e detectou que a mensagem havia sido transmitida diretamente da Divisão Ativa (Operações Clandestinas) da DGSE  (13), em Paris. Na tela, constava apenas: FS-11645. No fuso horário de Paris, eram três horas da madrugada seguinte.   

O Gato do DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora