Degania Alef é considerado o primeiro kibutz de Israel. O assentamento iniciou em 1910 no norte do país, às margens do Mar da Galileia e do Rio Jordão, quando o território ainda se encontrava sob domínio do Império Otomano. Não foi somente a "Lei do Retorno", aprovada em 1950 pelo parlamento israelense, a qual garantia cidadania para qualquer judeu vivendo alhures, que seduziu um determinado casal europeu a imigrar. O outro grande motivo foram as notícias sobre um atrativo sistema comunitário de utilização dos recursos agrícolas e pastoris produzidos nesta gleba de boa irrigação, que ganharam determinada ressonância em partes do mundo devastadas pela Segunda Guerra Mundial. Em 1952, numa das sucessivas ondas trazendo judeus da Europa, o casal Shapiro aportou em Haifa trazendo seus três filhos. A menor, de um ano, chamava-se Elah.
Apesar do kibutz ter sido destruído pelo exército sírio na Guerra de Independência de 1948, conta a tradição que os moradores, auxiliados por um contingente militar, resistiram e evitaram a invasão síria para o restante do Vale do Rio Jordão. Em pouco tempo, o kibutz foi reconstruído, deixando um legado de resiliência repassado para a nova geração de colonos. Foi o que Elah aprendeu na escola em Degania Alef e nunca mais esqueceu
Entre 1969 e 1971, a jovem Elah serviu às FDI. No ano seguinte, foi envolvida pela mesma comoção que seus compatriotas frente ao atentado sofrido pelos atletas olímpicos israelenses nas Olimpíadas de Munique. Disposta a defender seu país, foi batendo nas portas certas até ser aceita pelo Mossad. Ao final do treinamento, uma delas conduziu-a à presença de Golda Meir e ao encalço dos perpetradores do atentado. Seus métodos e talentos junto à comunidade de informações pavimentaram sua trajetória profissional, mas no plano privado, lhe cobraram um alto preço. Em 1982, seu país envolveu-se militarmente na Guerra do Líbano. Foi onde ela passou a conviver com um promissor operador de campo, 15 anos mais velho e de quem absorveu um grande volume de conhecimentos na profissão. Aliás, não somente na profissão. Ele continha todos os atributos que ela não havia encontrado em nenhum de seus namorados, que não foram poucos. Elah apaixonou-se em pleno território inimigo e foi correspondida. O romance, intenso, contrariou vários parágrafos do regulamento do Mossad para operadores de campo. Inclusive, infringiu um dos mais críticos, que visava evitar brechas eventualmente aproveitadas como chantagem pelo inimigo: o que impedia relações amorosas entre agentes de campo. Com mais razão ainda, se um deles já fosse casado, pois os efeitos seriam, potencialmente, catastróficos. A Inteligência de Israel jamais os perdoaria, caso soubesse.
Ao retornarem para Israel, decidiram terminar o romance. O nome do seu amor era Eitan Holtz.
As demandas estratégicas do país conduziram-na a diversos cargos, nos quais cresceu em experiência e competência. Um dia, quem sabe, poderia sentar-se na cadeira do espião-mestre, aquele que respondia diretamente ao primeiro-ministro. E, assim, passou a dedicar-se mais à segurança de seu país do que a outros interesses pessoais. Perdeu um pouco da doçura, mas ganhou em sagacidade, argúcia e impiedade. Um dia, conheceu uma socióloga da sua idade que lhe oferecia bons papos, parceria, bom humor e sexo. Estavam juntas desde então.
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Tel Aviv, 8 de outubro de 2001.
Pouco mais de dois anos transcorreram nos centros de treinamento do Mossad. Certamente a carreira militar pregressa do ex-major, se bem que não tivesse sido excepcional até o acidente de 1992, somara pontos. Mas para ser efetivado, o fator decisivo havia sido o seu desempenho nas provas de avaliação intelectual e tática. Sabia que a iminente entrevista final com a diretora do Tzomet seria, talvez, ainda mais importante.
Gafoor Ghazari estava em pé frente à porta principal aguardando a chamada. Estava ansioso. No tempo em que havia passado na Agência, percebera as diferenças de tratamento em comparação às das FDI. Tinha maus pressentimentos e esperava estar errado a respeito, caso fosse aceito. Ao ser chamado, atravessou o pequeno recinto, cumprimentou-a e foi convidado a sentar. Estavam sozinhos na sala.
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O Gato do Deserto
Ficción históricaEste é um romance de ficção inspirado em fatos reais. Em 6 de setembro de 2007, a Força Aérea Israelense bombardeou cinematograficamente as instalações de um provável reator nuclear clandestino em pleno deserto sírio, suspeito de ter sido fin...