O Gato do Deserto

Capítulo 20

Londres, 14 de dezembro de 2006.

Dois operadores do Kidon postaram-se próximos à saída do corredor de desembarque internacional do Aeroporto de Heathrow, em Londres. Tinham um especial interesse no voo da Qatar Airlines, procedente de Doha. Havia um determinado passageiro de meia-idade, cujo passaporte se referia a um cidadão libanês, cujo verdadeiro nome era Irfan Oshmani, e sua cidadania, síria.

Os operadores vestiam uniformes de uma companhia de táxis e, portanto, misturavam-se discretamente a outros poucos motoristas no saguão, já que a abordagem aos passageiros não era bem vista no local. Naturalmente, havia dezenas de pessoas aguardando os viajantes daquele voo, a maioria árabes residentes em Londres. Quando Oshmani surgiu puxando sua mala, um homem vestindo paletó e gravata o abordou, identificou-se e o conduziu até o estacionamento. Sem perceber os dois katsas, eles foram discretamente fotografados à distância e seguidos até o automóvel. Dali, no veículo de um terceiro Kidon que os aguardava, foram acompanhados até o Hotel Prince Edmund I, um cinco estrelas encravado no bairro de Belgrave em meio a prédios vitorianos imponentes, embaixadas e muitas lojas ao redor. No restante daquele dia, os cinco Kidons intercalaram-se na vigilância externa de Othman. Sempre com o agente de segurança na sua retaguarda, e segurando uma valise de mão, ele se dirigiu, inicialmente, à embaixada Síria, localizada muito próxima ao hotel, onde permaneceu por duas horas e meia. Ao sair, não portava mais a valise. Ele perambulou por lojas de departamentos em Bond Street e Covent Garden, sempre na companhia do segurança.

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John Smith fora um arrombador. E dos bons. Na infância pobre, vivida na periferia de Haifa, notabilizou-se por abrir, com crescente facilidade, fechaduras, cadeados e automóveis. À medida que os anos passaram e a tecnologia evoluiu, passou a se interessar por um ou outro cofre, clonar telefones celulares, invadir veículos de acesso keyless (21) e a se aventurar em caixas eletrônicos. Um dia, o diretor do reformatório em que acabou internado foi procurado por um agente do governo. Ele assumiu a custódia do menino de 17 anos e o levou para uma instituição privada, onde o visitava frequentemente. Meses mais tarde, num banco de praça da cidade, o agente identificou-se para Smith, agora com 18 anos, e o alertou:

- Trabalho para o Serviço Secreto do Estado de Israel. Neste país, já temos problemas demais e gente como você é um peso para a sociedade. Caso persista nessa escalada de crimes ao deixar esse novo reformatório, você será considerado um gangster. Mas antes que isso aconteça, será deportado para outro país e nunca mais verá a sua família! Entretanto, proponho-lhe uma chance de ouro para você mudar de vida. Escute bem...

Desde então, o infrator juvenil mudou de vida, mas não de profissão. Enquanto Oshmani aterrissava em Londres, John Smith pendurou o aviso de "não perturbe" na maçaneta externa da porta do seu quarto de número 510 do Hotel Prince Edmund I. Em seguida, abriu sua mala e começou a retirar seus equipamentos. O primeiro era uma diminuta antena parabólica que ele precisou prender do lado de fora da janela, mediante um extensor feito com canos de alumínio retráteis, a fim de alinhá-lo corretamente com o satélite israelense e obter um sinal de internet seguro e de alta velocidade. O segundo era do tamanho de uma caixa de camisas, possuía vários botões de controle, display digital e antena telescópica com um metro de comprimento. Por via das dúvidas, Smith encontrou um bom esconderijo para ele dentro do armário do quarto e o ligou na tomada. O artefato ganhou vida. Era um dispositivo de interceptação do tipo "man in the middle". Após programá-lo com o seu notebook e infiltrá-lo na rede telefônica celular do bairro, realizou uma varredura geral. Milhares de aparelhos celulares foram detectados na área de cobertura do MITM, mas o objetivo de Smith era encontrar e identificar somente os telefones com chip sírio. No momento, nenhum foi detectado nas proximidades.