Até os dias atuais, continua indefinida a participação do Irã e da Coréia do Norte na construção do reator de Al-Kibar.
O destino do ex-vice-ministro da Defesa e general da Guarda Revolucionária do Irã tornou-se ignorado pouco tempo depois de ter sido levado para fora do seu país. Uma boa leitura a respeito pode ser encontrada em
Para os estrategistas de Israel a operação Mivtza Bustan terminou tão secretamente como começou, dando a entender que o seu destino era o de permanecer arquivada por um prazo de tempo indeterminado. Entretanto, a imprensa internacional começou a apurar os fatos nas semanas seguintes ao ataque e, pouco a pouco, a misteriosa incursão no deserto sírio foi tendo o seu véu de mistério levantado. Logo, ela passou a ser conhecida na mídia por dois codinomes: Operation Orchard e Operation Outside The Box, que estão disponíveis em várias fontes. Uma das mais abrangentes pode ser acessada em:
.A narrativa a seguir está baseada nessa fonte e em suas referências bibliográficas:
A rede CNN foi uma das primeiras a noticiar o acontecimento. Em 11 de setembro de 2007, informou que autoridades sírias acusaram Israel de violar seu espaço aéreo e de realizar um ataque ao país. Além das bombas, Israel também teria alijado tanques de combustível dos jatos dentro da fronteira turca. Esta não teria sido a primeira violação, conforme uma carta endereçada ao secretário geral da ONU pelo governo sírio, na ocasião. As FDI não comentaram o relato. Fontes da CNN informaram que as Forças Terrestres também teriam auxiliado o ataque. O alvo teria sido "armamentos destinados a guerrilheiros libaneses".
No dia 17 de setembro, o jornal britânico The Guardian aventou que se tratava do bombardeio a uma instalação nuclear na Síria. O governo israelense preferiu não comentar os incidentes e teria solicitado a colaboração da mídia de seu país para não divulgar a notícia independentemente. Entretanto, em 2 de outubro, o periódico israelense Haaretz noticiou a suspensão da censura pelas FDI sobre a ocorrência do ataque aéreo; porém, não obteve detalhes em relação ao nome do alvo, às unidades das FDI enviadas ao local, ao resultado do ataque e às causas que motivaram toda a operação.
O acesso de dados de Inteligência pela imprensa norte-americana iniciou em 10 de outubro. Segundo fontes do jornal The New York Times, os israelenses haviam compartilhado o dossiê do ataque sírio com a Turquia. Subsequentemente, numa visita a Damasco, emissários turcos confrontaram os sírios com o dossiê, que mencionava um programa nuclear. Negando vigorosamente, o governo sírio afirmou que o alvo fora um depósito de armazenamento de mísseis estratégicos.
Duas semanas depois, o The New York Times divulgou que o prédio suspeito não mais existia, conforme fotos de um satélite comercial obtidas antes e depois do ataque. Na sequência, conforme o jornal, fontes de Inteligência de dentro e de fora dos EUA informaram que a instalação atacada por Israel parecia estar num estágio muito aquém da conclusão e que anos transcorreriam antes que o reator sírio pudesse fabricar combustível nuclear, reprocessá-lo e produzir plutônio. Conforme as fontes, embora tivesse assinado o TNPAN, a Síria não seria obrigada a declarar a existência do reator durante as fases iniciais da construção e também teria o direito legal de concluí-lo, desde que o propósito fosse o de gerar eletricidade.
Novas fotos da Instalação foram divulgadas em 26 de outubro pelo The New York Times, sugerindo que os sírios haviam removido também quase totalmente os escombros do bombardeio da construção. Fontes de Inteligência dos EUA estimaram que uma operação de tal envergadura demoraria até um ano para ser concluída e manifestaram espanto com a velocidade com que ela foi realizada. Uma seção inteira de uma colina adjacente do suposto prédio do reator foi escavada e a terra removida teria sido usada para cobrir o local. Caso a Síria pretendesse esconder uma parte subterrânea do prédio destruído, enterrá-la teria sido mais fácil do que removê-la. Para alguns, a pressa poderia ser devida ao interesse de esconder evidências de irregularidades. Dois dias depois, em sua página na internet, o The New York Times revelou que as autoridades sírias continuavam negando a existência de uma planta nuclear prévia no local bombardeado e insistiam na versão de que a instalação era, na verdade, um grande armazém militar vazio.
Até o final do ano de 2007, os governos das nações potencialmente envolvidas mantinham silêncio oficial sobre o ataque a Al-Kibar, com exceção de Damasco e de Pyongyang. O governo Norte Coreano condenou fortemente a ação de Israel, classificando-a de uma "provocação muito perigosa, um pouco menos do que uma violação arbitrária da soberania da Síria e seriamente ameaçadora da segurança e da paz na região".
Nenhum outro governo árabe comentou o episódio do bombardeio a Al-Kibar naquele ano. Devido à falta de uma reação oficial mais incisiva em relação aos demais países árabes, uma parcela da mídia ocidental especulou que estes governos poderiam, tacitamente, estar apoiando o ataque israelense. Tampouco o Irã emitiu um comentário formal. Sem maiores dados, a mídia especializada trabalhou com hipóteses sobre o ocorrido naquela noite de 6 de setembro. Como resultado, sobraram conjecturas e controvérsias, mas faltaram confirmações. Os analistas de política internacional não só divergiam sobre as razões do ataque, mas também acerca dos antecedentes.
Em 24 de abril de 2008, foi entregue uma declaração pelo Secretário de Imprensa da Casa Branca a alguns comitês do Congresso, afirmando que o governo supunha que a Síria havia construído um reator secreto com assistência norte-coreana, capaz de produzir plutônio para finalidades não pacíficas. Ele aduziu que AIEA fora informada sobre a ocorrência. A AIEA confirmou o recebimento da informação e foi a campo investigar. A inspeção, realizada em junho daquele ano, gerou um relatório divulgado em novembro: "as constatações da visita dos inspetores ao local não foram suficientemente conclusivas sobre a existência prévia de um reator nuclear". Entretanto, admitiu que "o complexo tinha características semelhantes às de um reator nuclear não declarado e que os inspetores da ONU encontraram traços 'significativos' de urânio no local, o que requer mais investigações". Ao final, o relatório informou que a Síria seria solicitada a mostrar aos inspetores os detritos e equipamentos retirados do local após o ataque aéreo israelense de setembro de 2007.
Em fevereiro de 2009, um novo relatório da AIEA informou que amostras retiradas do local revelaram novos vestígios de urânio processado. Um alto funcionário da ONU declarou que a concentração de partículas de urânio nas amostras era significativa, embora ainda fosse prematuro relacioná-las à atividade nuclear. Também constou no documento a recusa da Síria em permitir que os inspetores da agência fizessem visitas de acompanhamento a locais suspeitos de abrigar um programa nuclear secreto, apesar dos repetidos pedidos dos altos funcionários da agência. As reivindicações da AIEA foram contestadas pela Síria.
Num relatório de novembro de 2009, a AIEA anunciou que sua investigação foi prejudicada em virtude da pouca cooperação da Síria. Em fevereiro de 2010, a AIEA afirmou que "a presença de tais partículas [de urânio] aponta para a possibilidade de atividades nucleares no local e aumenta as questões relativas à natureza do edifício destruído (... ) A Síria ainda não forneceu uma explicação satisfatória para a origem e presença dessas partículas". Contestando as afirmações, o governo sírio manifestou que não há um programa nuclear militar no país e que tem o direito de usar a energia nuclear para fins pacíficos. O ministro das Relações Exteriores da Síria afirmou que: "Estamos comprometidos com o acordo de não proliferação entre a Agência e a Síria e (apenas) permitimos que inspetores venham de acordo com este acordo ... Não permitiremos nada além do acordo porque a Síria não tem um programa nuclear militar. A Síria não é obrigada a abrir seus outros locais para inspetores.". Segundo fontes oficiais sírias, "o urânio encontrado no local veio de mísseis israelenses". Em abril daquele ano, a AIEA declarou pela primeira vez que o alvo era, de fato, o local secreto de um futuro reator nuclear.
Desde 2011, a Siria enfrenta uma guerra civil contra forças internas e estrangeiras que lutam ao mesmo tempo contra o governo e entre si, sob várias combinações. Em maio de 2014, o sítio de Al-Kibar foi capturado pelo grupo militante Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), mas foi retomado em 2017 depois pelas "Forças Democráticas da Síria" - uma coalizão de curdos e combatentes árabes. Desde então, o local permanece dentro do território governado pela Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria.
Em 22 de março de 2018, Israel oficialmente assumiu a responsabilidade da destruição de um reator nuclear no nordeste da Síria, província de Deir ez-Zor, ocorrido em 2007.
O diretor da Comissão de Energia Atômica da Síria encontrava-se ainda na função em 2021, segundo a Agência de Informações daquele país ().
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O Gato do Deserto
Tarihi KurguEste é um romance de ficção inspirado em fatos reais. Em 6 de setembro de 2007, a Força Aérea Israelense bombardeou cinematograficamente as instalações de um provável reator nuclear clandestino em pleno deserto sírio, suspeito de ter sido fin...