Capítulo 25

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O relógio da cabine de comando marcava 17 horas de sexta-feira, 24 de agosto de 2007, quando, num céu claro e sem nuvens, a fragata INS Eilat se posicionou no Mar Mediterrâneo a meio caminho entre a costa do Chipre e a da Síria,. Removida parte da coberta, emergiu uma silhueta aerodinâmica que rapidamente foi ativada. Apontada para o leste, seus motores zumbiram à toda força, mas de intensidade sonora surpreendentemente baixa para o seu tamanho esguio de 8,5 metros de comprimento e 16 m de envergadura. Ao ser catapultada para o céu, imediatamente descreveu curva para leste e, 60 segundos depois, já não era mais detectável a olho nu.

Controlada por satélite, voaria por 438 quilômetros, entregaria sua carga de 105 quilos e retornaria em oito horas e meia ao mesmo navio, seja lá onde ele se encontrasse. Sob a coberta da INS Eilat, havia ainda uma réplica do mesmo aparelho. Ambos se alternariam nos céus de Deir ez-Zor, centrados sobre o alvo. O procedimento era parte do plano B de Navid Dahan.

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Sahoun havia retornado com uma trouxa de ramos secos e tudo o mais que encontrara pelo caminho para alimentar três diminutas fogueiras em forma de triângulo sobre a areia e distantes três quilômetros do seu refúgio, por precaução. Quando seu relógio marcou nove horas da noite, acendeu um fogo e correu para outra duna a 200 metros. Sacou a luneta que o acompanhava e varreu o ambiente à sua volta.

Poucos minutos se passaram até que, ao olhar para cima, num ponto bem acima das fogueiras, notou um objeto pendurado em paraquedas caindo do céu. Não conteve o sorriso: "depois que introduziram o apoio aéreo por drones, a profissão tornou-se muito mais fácil".

A cautela e a paciência eram grandes aliadas do sucesso. Ele rapidamente apagou as fogueiras com areia, eliminando a chance de terem atraído a atenção de algum destacamento militar próximo. Mesmo assim, após a queda, retornou e permaneceu cerca de 90 minutos sobre a duna alta, monitorando com os olhos e ouvidos o deserto à sua volta. Então, esgueirando-se o melhor que pôde, dirigiu-se até o paraquedas e à sua carga. Abriu o pacote, removeu a comida liofilizada e a água, o cobertor, o uniforme de combate, o colete de kevlar, as armas, um GPS, a câmera digital em forma de caneta e mais uma sacola. Dentro dela, havia três artigos inesperados. "Cortesia de Shapiro", concluiu: folha com instruções cifradas, pequena lanterna com lâmpada de LED e um sistema de comunicação a laser, composto de transceptor e antena miniaturizados, para comunicação segura com o drone. Em seguida, jogou o material dentro da mochila e prendeu a Uzi enviesada no dorso entre os ombros. Enterrou o paraquedas e os restos das fogueiras, desfez as pegadas e qualquer vestígio do que há pouco acontecera ali e rumou para a sua cova. A mochila devia pesar cerca de 60 quilos, remetendo-o aos tempos da Marcha Beret. Com uma diferença: estava 20 anos mais velho e tinha aquela limitação na coxa. Caminhando sem pressa na escuridão, cumpriu o planejado. Estava satisfeito, pois era o que gostava de fazer. Conforme o texto que acabara de ler, haveria muita ação naquelas areias em breve. O céu estava estrelado e o aroma do deserto trazido pelo vento lhe fazia bem. Dormiu aquecido e de estômago cheio.

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A noite de Halab foi péssima. Ele passara boa parte do dia tentando convencer seus superiores em Damasco sobre a iminente prisão do espião israelense. Um general enquadrou-o ao final da tarde: as buscas deveriam ser eficientes e, se possível, discretas a ponto de evitar a circulação de rumores entre a população. Recebera 72 horas de prazo para deter o espião. Caso contrário, tropas federais seriam enviadas para varredura em larga escala. Mesmo não tendo lhe mencionado claramente, o general insinuara que futuras promoções estariam suspensas a partir daquele prazo. Esta era a regra.

O Gato do DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora