Capítulo 13

2 0 0
                                    



A cavalgada de retorno foi feita praticamente em silêncio. O sol estava se pondo e fazia frio. Pinar ateve-se ao roteiro original. Ser enigmática e estar perdida em pensamentos compunham bem o seu papel naquele momento. Asadi, por sua vez, sopesava o que já havia descoberto sobre a investigação do casal de empreendedores. Nada de evidentemente suspeito fora detectado até ali. Conjecturas, apenas. Ou eram puramente comerciantes com um talentoso tino e senso de oportunidades, envolvendo sorte ou corrupção, ou estavam se aproximando dele por serem espiões. Somente o trabalho do Coronel Farzad Ravan responderia. "Até lá, por que não saborear o sumo daquela fruta madura"?

Após o jantar, atendido por apenas um serviçal, sentaram-se na sala de estar ao lado de um vinho - francês, naturalmente.

- Pelo menos, na Síria, podemos tomar uma boa bebida sem infringir regras - comentou Pinar.

- Então, um brinde à nossa amizade! - Proferiu o anfitrião ao erguer a mão.

Pinar girou seu vinho na taça para liberar lentamente os aromas. Por forças de ofício, era razoável connoisseur. Aproveitou o momento para fazer uma pergunta pertinente:

- Uma casa tão boa em meio a este pomar de árvores centenárias...Sua família não lhe acompanha?

- Infelizmente, não. Os poucos empregados que tenho quase não conhecem minha família. Dispensei quase todos para esse fim de semana. Meu refúgio é solitário.

Pinar não comentou de imediato. As últimas frases do vice-ministro eram um fio solto à espera de conexão ao assunto principal daquele fim de semana. Levantou-se, pegou um abrigo e convidou-o para um passeio curto até a varanda. Na mureta onde se recostaram, próximos a folhagens muito bem cuidadas, Pinar largou as taças vazias e lançou um olhar terno a Asadi. Divagaram sobre a noite invernal no deserto. Somente ela permitiria apreciar a beleza das estrelas num céu tão límpido. Aos poucos, a atmosfera de romance voltou a pairar. Naquele momento, era preciso tomar uma decisão profissional: desligar da mente as acusações que pairavam sobre ele e o fato de ser um inimigo do seu país. Era um homem bonito, elegante, bem cuidado e sedutor. Fazia jus ao arquivo sobre ele que havia na Organização. Preferiu deslizar por essa vertente e reassumir seu papel na farsa.

- Aziz, não vamos nos arrepender? Tenho respeito por Akin, embora eu precise de mais amor do que ele possa me dar...

- Estou disposto a lhe dar todo o amor que você precisa...Sem magoar ninguém. Pelo menos por um certo tempo.

Desta vez, ela aceitou sem restrições os beijos e carícias do homem resfolegante à sua frente. Quando as grandes mãos dele percorreram suas pernas e subiram até a entrada do seu corpo, a espiã do Mossad surpreendeu-se: estava umedecendo de prazer.

Correram para o quarto, deixando as roupas pelo caminho. Ao contemplá-la nua, ele sentiu-se pulsar como se fosse um colegial. Num misto de triunfo, inveja e pena de Akin Balik, também ele deixou-se seduzir por aquela face atraente, emoldurada por cabelos loiros e sedosos, o contraste daquela pele bronzeada com os pelos dourados do corpo sensual. Ainda não tivera o prazer desta visão em nenhuma outra mulher.

ooo0ooo

Durante a madrugada, Pinar precisou cumprir outra missão que recebera de Durmaz. Constatou que Asadi ressonava profundamente e ergueu-se da cama com cuidado. Abriu sua maleta, de onde retirou uma caneta Mont Blanc adaptada e se dirigiu a um armário próximo onde ele deixara a bolsa de couro. Introduziu a mão e não ficou surpresa ao tocar o cano frio de uma Glock 9 mm, que identificou simplesmente pelo tato. Mas, no compartimento interno, encontrou o passaporte. Silenciosamente, caminhou ao banheiro, onde acionou a câmera digital miniaturizada e de alta definição da caneta e fotografou as várias páginas do documento antes de recolocá-lo no mesmo lugar dentro da bolsa. Guardou a caneta e voltou ao lado de Asadi para tentar dormir mais um pouco.

O Gato do DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora