XXXXII

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"🗞️🚬
𝚃.𝙵."

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Acordei desesperado com um barulho no quarto ao lado.

Não discerni o que era, mas após o som não escutei mais nenhum barulho. Me virei na cama para tentar dormir novamente, era madrugada provavelmente, senti que não tinha dormido nem duas horas, então voltei a dormir.

Estava tão frio lá fora que demorei para adormecer, estava coberto até o pescoço com a minha coberta mais quente, mas falhava em me aquecer pelo shorts que vestia.

Outro barulho.

Acordei meia hora depois.

Dessa vez com o coração acelerado e o corpo inteiro suado. Não sonhei nada, mas me encontrava assim. Pressionei minha mão em meu coração e controlei a respiração, em uma tentativa de me acalmar.

Escutei múrmuros do meu pai no quarto de Rafa, talvez eles só estejam conversando né? Não escutava nada que ele dizia, nem que colocasse meu ouvidos na parede, mas senti que a voz de meu pai estava quase como calma. Os múrmuros ficavam cada vez mais baixos até que sessaram.

Me deitei e tentei dormir novamente.

Falhei. Foi uma das piores noites de sono possíveis. Dormi e acordei com o coração acelerado, e minha respiração sem controle.

Acordei, me troquei e desci as escadas. A casa que conheço desde que nasci estava com um ar diferenciado do normal. Estava extremamente nublado lá fora, e parecia que uma fina membrana de névoa entrava dentro de minha casa. Cada passo que dava ecoava pelo salão de entrada.

- Alguém? - minha voz falhou por ser a primeira coisa a dizer no dia. Cheguei a cozinha.

Tinha uma pequena luz acesa na cozinha, inútil para essa hora do dia, desliguei. Olhei em volta e fiquei encostado na ilha no meio da cozinha.

Um telefone tocou atrás de mim.

Minha pressão baixou, segurei firme no balcão para que não perdesse o equilíbrio. Algo não estava certo. Esperei minha visão retomar ao normal e encarei o celular, o celular de meu pai, tocava em um número desconhecido. Pensei em atender, mas a superorganização de meu pai não permite, ele gosta de ter em suas chamadas perdidas todas em ordem. Arnaldo Fritz sendo Arnaldo Fritz.

Me virei para a geladeira do outro lado em que estava, havia um bilhete colado por um imã. Me aproximei.

Oi filho,
Tive que sair. Consegue se virar?
Já levei o Rafinha
Papai ❤️

Peguei o bilhete e o reli.

Algo não estava certo

[...]

Estava suado, minha camiseta estava grudada em minha barriga, todo meu tronco acumulava uma poça de suor em várias partes. Estava jogando futebol com meus amigos, apesar do frio, eu estava suando muito fácil nesse dia, enquanto todos meus amigos estavam secos, eu não estava.

Após alguns minutos de jogo, fui 'cobrar um lateral', brincava com a bola até o local enquanto meus amigos me irritavam por estar demorando. Posicionei a bola na linha e pisei em cima, quando fui chutar para o moreno do meu time senti alguém segurar meu ombro e perdi o equilíbrio. Me virei para trás para ver quem havia cometido tal ato, não o reconheci de imediato, mas sabia quem ele era. Todos os meus amigos me olharam estranho quando ele falou:

- Thiago, precisamos conversar. Por favor, me siga até minha sala

[...]

Ao redor do corredor tinha um monte de gente cochichando, algumas riam e outras davam pequenos gritinhos, e a grande maioria, era na minha direção.

Passei a mão em meu cabelo, rosto, para ver se havia algo de errado comigo, nada. Repassei mentalmente tudo que havia feito nessa semana, e na passada, e na outra, nada de errado, então por que eu estava ali?

Entrei na sala que todos haviam medo, estava tremendo por finalmente estar aqui, o pouco café da manhã que tomei estava na minha garganta, vomitaria a qualquer minuto. A sala era grande e marrom, parecia um escritório, uma mesa com um computador com várias papeladas em cima, uma cadeira acolchoada, duas grandes estantes, duas cadeiras a frente da mesa e em cima da mesa, bem no centro, o brasão da Escola Nostradamus.

Mas a sala estava relativamente normal, exceto pelas figuras que estavam presentes. Duas professoras estavam perto da porta com o rosto sem expressão algumas, mas isso não foi o choque, sim o carrinho de bebê de meu irmão com ele dentro e meu pai, Arnaldo Fritz, ao lado da mesa do diretor.

- Sente-se Thiago - apontou o diretor para as cadeiras e se posicionou ao lado de meu pai

Me sentei, olhei em volta, uma, duas vezes até perceber que meu pai estava agachado com a mão na minha coxa, ele estava com grandes olheiras e olhos marejados. Foi ai que eu já havia percebido.

- Jogou futebol hoje? - passou a mão em meus cabelos suados, assenti - Como foi as aulas? - desviou o olhar para as professoras atrás de mim

- Pai... - sussurrei - O que tá acontecendo? - engoli seco

- Filho... - colocou a mão no meu ombro - Sabe, - a voz falhou - Sabe aquela doença que a mamãe tinha?

- Depressão? - perguntei engolindo o choro que vinha

- Basicamente - deu uma piscadela - Então... - o interrompi

- Não precisa continuar - coloquei as mãos no rosto e apoiei meu cotovelo no joelho, e comecei a chorar.

Dizem que você não pode afirmar que seu mundo acabou quando é apenas um adolescente. Mas o meu tinha acabado, tinha catorze anos, com um irmão de dois meses e havia perdido a pessoa que eu mais amava no mundo.

[...]

MORRE ANA FRITZ ESPOSA DE ARNALDO FRITZ NESSA MADRUGADA
A esposa do grande ator morreu nessa madrugada (18), a causa da morte ainda é desconhecida, não deram informações. Arnaldo e seu filho Thiago se recusaram a dar entrevistas. O Fritz mais velho falou para os jornalistas presentes na frente do hospital: Vocês são insensíveis de quererem fazer entrevistar alguém que acabou de perder o amor da própria vida, tenham compaixão!

Estava em todo lugar, eu não aguentava mais.

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Continua...

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𝗔𝗺𝗼𝗿 𝗲𝗺 𝗕𝗶𝗼𝗹𝗼𝗴𝗶𝗮 - 𝗟𝗶𝘇𝗮𝗴𝗼Onde histórias criam vida. Descubra agora