Capítulo 12

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Entretida como estava com a leitura, Annie não percebeu que alguém adentrara o recinto, e muito menos que este alguém era ninguém menos que o próprio Rivaille. Ficou imediatamente sem graça e sem saber o que fazer com as mãos, se devia guardar o livro ou continuar como se não estivesse fazendo nada demais, ficou oscilando entre um levantar, permanecer sentada, falar e ficar em silêncio, num papel tão ridículo que sentiria mais vergonha de sua reação depois do que de ter sido pega lendo um material que obviamente era particular.

Rivaille caminhou em silêncio e tirou o livro das mãos dela, mirando a capa com interesse. Depois devolveu-o e disse tranquilamente:

— Você se interessa muito pelas suas origens, não é?

— Não é bem minhas origens que me interessam mais.

— O que é?

Annie não tinha muita certeza se devia falar, afinal, ele era um dotado, seu superior e absolutamente leal ao Esquadrão.

— Também me interesso pela sociedade em si, como ela era representada antes e como ela é representada agora.

— Além de bonita tem opinião – Annie ruborizou imediatamente mediante aquela frase, no que ele achou graça – Gostaria de saber mais o que pensa sobre isso.

— São apenas bobagens. Tínhamos muito tempo ocioso vigiando a muralha e para pensar nessas coisas.

— No que você ficava pensando?

Em como os dotados são tratados mais como uma ameaça a ser controlada do que como heróis propriamente ditos, apesar do governo e dos sacerdotes propagandear o contrário, só pra começar.

— Como é pra você? Como foi pra você, ser o único sobrevivente de sua família?

Rivaille fechou o cenho e Annie esperou que ele lhe desse uma bronca, um grito ou quem sabe uma pancada, mas ele não fez nada disso. Katrina havia a prevenido de não perguntar nada sobre o passado dele e sua família, mas ela tinha que insistir nisso.

— Foi duro, mas eu sobrevivi e é só isso que importa.

— Senhor, eu não tive a intenção...

— Claro que não teve, ninguém nunca tem. Nem as pessoas intrometidas que me olham com o mesmo olhar de comiseração que você está me olhando agora.

— Me desculpe, eu...

— Escute. Você é uma garota inteligente, já deu pra reparar. Eu preciso de pessoas que eu possa confiar e que confiem inteiramente em mim. Você confia em mim, garota?

— 100%, senhor. As palavras do juramento não foram ditas da boca pra fora.

— Eu percebi isso, mas percebi também que você não parece muito certa do que está fazendo. Se freia nos treinamentos, principalmente quando tem que usar suas habilidades, não se envolve nas discussões do grupo, por mais idiotas que elas sejam, está sempre ali, nas sombras, a observar, sem impor sua vontade ou sua personalidade. Eu conheço a minha equipe melhor que a mim mesmo. Até seu irmão e Reiner eu posso dizer que estou começando a conhecer, mesmo com poucos dias de convívio. Mas você, eu não posso dizer isso. Porque você não se abre pra mim nem pra ninguém. Eu quero que você se abra pra mim. Totalmente.

— Sim, senhor.

— Então... qual é a sua dúvida, garota?

Annie teve vontade de se enfiar embaixo da mesa com aquela conversa toda. Não era boa em mentir, principalmente quando era colocada contra a parede daquele jeito, mas simplesmente não podia verbalizar tudo que pensava, poderia ser considerada uma maluca, ou pior do que isso, uma traidora. E de jeito nenhum que ela era uma traidora, mas quem garante que Rivaille não pensaria nisso, ou algum outro membro de sua equipe? Então ela preferia manter seus pensamentos para si e não falar nada muito pessoal, apenas participando das conversas de forma neutra e amena, preferindo passar despercebida do que impor suas opiniões.

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