Capítulo 15

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O céu era o mesmo ali sob suas cabeças no acampamento ou no topo das muralhas em longas noites de vigília, mas para Mika ele parecia especial, mais bonito, mais profundo, como se a noção de infinito se ampliasse exponencialmente ao fato consciencioso de que estava fora dos muros de seu lar e cativeiro. Poucas pessoas se questionavam ou se contrariavam com o fato de terem que viver enjaulados feito pássaros na gaiola. A maioria se sentia muito grata pela existência dos muros e a proteção que eles traziam, mas algumas poucas almas mais indomáveis, mais sonhadoras, se ressentiam por terem que se sujeitar a viverem num espaço tão pequeno se comparado a imensidão do que já fora o mundo. Isso só podiam especular, mas o pouco que sabiam sobre seus antepassados já lhes dava uma boa ideia de como devia ter sido a era em que o homem andava livre pela Terra — e a dominava.

Este espírito mais aventureiro e indomado era muito mais comum nos dotados do que na gente comum e de acordo com alguns deles era isso que tinha trazido tanta disputa e problemas a cidade. Reiner, mesmo sendo um homem comum, partilhava da emoção e do desejo de ver mais do mundo do que os limites geográficos de suas muralhas e como Mika admirava o céu límpido de muitas estrelas como se nunca o tivesse reparado antes. Estavam lado a lado, cabeças erguidas, contemplando o infinito com espanto e respeito, contando nas estrelas suas próprias impressões e pensamentos, sentindo-se gratos e completos como nunca se sentiram antes, presos seja numa muralha, seja numa condição ou seja numa família.

— Haviam cientistas que estudavam o céu antes — falou Reiner — Dizem que eles eram capazes de saber a posição das estrelas e até de enumerá-las.

— Devia ser uma profissão muito romântica.

— Imagine, dar nome a cada uma dessas estrelas. Quantas devem existir no universo? Milhares? Centenas de milhares?

— É impossível saber a proporção disso. Deve ser o mesmo tanto de grãos de areia que tem nesse deserto. Impossível de contar.

— O mundo é tão vasto e tão misterioso. Nós não devíamos viver enjaulados feito bichos lutando por migalhas.

Mika encarou o grandalhão louro com um semblante preocupado.

— Essas não foram as palavras de Tom Rivaille antes da Grande Revolta?

— A meu ver ele não estava errado.

Aquele era um assunto delicado e evitado em todas as rodas de conversa, entre dotados e pessoas comuns, e Mika não daria corda para ele seguir adiante.

— O que realmente te motiva a estar aqui, Reiner? É aquilo mesmo que você disse? Você se sente tão preso em seu casamento assim, que prefere estar aqui fora arriscando sua vida?

— Um casamento pode ser uma prisão tão grande quanto uma muralha, rapaz. Você não sabe disso ainda porque não se casou. Eu apenas...sinto que pertenço mais aqui do que lá. Algumas pessoas são felizes por estarem protegidas dos mistérios e dos perigos do mundo aqui fora. Eu não. Nunca me senti assim.

Ouviram passos e imediatamente mudaram de assunto, por uma precaução alinhada de forma muda e automática de que apenas as estrelas deviam testemunhar aquela conversa.

— Chegou a hora — anunciou Katrina.

Seria o time Rivaille mais o time Makali e dez soldados muito bem treinados, gente de confiança do comandante Huller, contra duzentas criaturas sonolentas ou mais. Incursões à noite traziam a vantagem da notória dificuldade das criaturas em se mover e se defender, dado que estas entravam numa espécie de estado de hibernação. Os tenentes contavam com isso para partirem com um contingente tão pequeno, e é claro, com os poderes especiais de Persei e Katrina. Munidos de mapas, lanternas a pilha, armamento pesado e vontade, percorreram a distância entre o acampamento e a usina em jipes, numa noite tão clara que até parecia iluminada por luzes artificiais. A lua brilhava solitária no fundo escuro como uma perola no mar negro. Abriram o portão de ferro já bem gasto com um estrondo que remetia a ferrugem e velhice e se posicionaram na entrada principal da usina. Rivaille virou-se para Mika e mais três soldados:

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