Capítulo 16

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Tiveram que voltar mais duas noites seguidas para terminar o serviço.

Na primeira noite o grupo que seguiu com Makali tivera a mesma, ou até mesmo mais sorte que o grupo que seguiu com Rivaille. Na área da torre de resfriamento, que se tratava de uma caixa d'água enorme que de longe lembrava uma chaminé, toneladas de concreto e ferro sustentando um vaporizador gigante que era por onde se expelia o gás resultante da condensação do urânio e água em energia, segundo Lud, haviam cerca de cinquenta criaturas, penduradas no entorno feito bigatos no tronco de árvores, a ressonar ou nem isso, completamente apáticas a qualquer coisa que acontecia ao seu redor. A equipe eliminou-as com facilidade e passaram o resto da noite a buscar em vão por outras naquelas instalações. Porém nas noites seguintes a missão não foi tão simples. Desceram até o segundo subnível, pela escadaria na sala dos reatores, que levava a um nível subterrâneo por onde passavam as tubulações. O lugar era extremamente apertado, podendo só passar uma pessoa por vez, e agachada. Descobriram que o lugar estava empesteado — criaturas aninhavam-se no apertado espaço entre as tubulações, o teto, e o chão, enroscadas nos canos e nas manoplas, ao que parecia ser ao longo de toda a extensão das tubulações. Uma cena horripilante de se ver. O lugar não favorecia o combate por não haver espaço suficiente para movimentação, então Makali e Rivaille decidiram mandar apenas alguns poucos para exterminá-los. Foram Persei, que paralisava as criaturas que tentavam reagir ao menor sinal de estarem despertas, Katrina, que as eletrocutava metodicamente atingindo-as no ponto vital, Geller, Rivaille e mais dois do time Makali, que executava-as de surpresa tirando-as de seu estado sonolento apunhalando-as na base da cintura sem lhe darem chance nem de compreenderem que estavam sendo atacadas, movendo-se como cobras entre as raízes profundas de uma árvore anciã. O trabalho ali era moroso e metódico e levou duas noites para ser concluído.

Mas ao fim eles podiam garantir que a usina estava 100% livre para os trabalhadores a reerguerem e a colocarem de volta ao funcionamento, e o melhor de tudo, sem nenhuma baixa. A madrugada, ainda muito escura, iluminou-se com o farol dos jipes do comandante Huller que vieram lhe buscar nos limites da usina. O clima era afável e todos estavam com excelente humor, brincando e vangloriando-se pelo sucesso absoluto da missão.

Todos, menos Mika.

Entre uma incursão e outra eles descansavam no terreno da usina, em acampamentos improvisados, montando guarda para caso alguma criatura escapasse do isolamento a que tinham as submetido assim que descobriram todos os seus covis, o que felizmente não aconteceu, e para o caso de algum Bastardo aparecer para lhes tirar o sono, o que felizmente não ocorreu também. Neste intervalo conversavam sobre a ação da noite anterior, seus feitos e a performance notável de Annie, Judith e Monrow e a estratégia brilhante de Rivaille para limpar a área do condensador renderam boas histórias, deixando todos espantados e admirados. Naturalmente a novata foi parabenizada por todos os demais e Annie permitiu-se até sentir-se bem com isso. Sentia-se como uma heroína e além da sensação boa de dever cumprido ainda se regozijava do orgulho que Rivaille estava sentindo dela, o mesmo orgulho que seus pais sentiriam com certeza se ainda estivessem vivos. Em resumo, havia arrasado. E quando alguém arrasa daquele jeito, isso pode despertar tantos sentimentos bons quanto ruins à sua volta. Mika estava enciumado, com inveja e sentindo-se injustiçado como nunca. Já não bastava ter que conviver diariamente com o sucesso da irmã e seu fracasso, por não ter desenvolvido o seu dom ainda. Agora ainda teria que aguentá-la posando de estrela, para o tenente e todos os demais, como se lhe devessem a honra de lutarem ao seu lado e de ainda estarem vivos? Bobagem.

— Mika, você está bem? — ela perguntou no final da segunda noite, enquanto revezava com ele na torre de vigia e todos aguardavam aflitos a equipe que seguira com Rivaille para dentro das tubulações.

— Estou ótimo, por que não estaria? — ele respondeu com sarcasmo e revolta — Mas me diga, como é se tornar a estrela do time logo na primeira missão? Muito intimidante?

Deuses e HomensOnde histórias criam vida. Descubra agora