No último dia antes de partirem, receberam uma visita ilustre: o capitão Erwin, em pessoa, foi até o casarão para uma audiência privada com Rivaille. Mika ficou tão excitado com aquela visita que mal sabia como se portar. O capitão era de longe o seu ídolo — um homem forte, centrado, claramente influente no governo e exímio estrategista, que tinha como responsabilidade simplesmente o plano mais importante para a sobrevivência e desenvolvimento das cidades — e daria tudo para ter somente um hora com ele, a sós, para ouvir e sugar todo o conhecimento que fosse capaz.
Se provar estava sendo a maior dificuldade de Mika desde que ingressara no Esquadrão. Muitos poderiam considerar que só de ingressar no Esquadrão já era prova suficiente, mas não para ele. Mika queria muito mais, e sabia que tinha que consegui-lo, com a ajuda de seu dom ou não. Já considerava a possibilidade de nunca desenvolver um dom, de ser um daqueles "mestiços" que nascem com o gene das habilidades recessivo e não conseguem desenvolvê-la muito menos passá-la adiante. Para estes era o pior do mundo que os aguardavam, pois perdiam todo e qualquer interesse especial que o exército e o governo podiam ter neles e acabavam se tornando ainda menos que os soldados comuns. Mika não queria ser um desses párias. Se os deuses haviam decidido não agradá-lo com seus dons maravilhosos, ele daria um jeito de ser indispensável para a cidade à sua própria maneira. Só precisava descobrir qual, e certamente, um homem notável como o capitão Erwin podia ajudá-lo nisso.
Ficou durante as duas horas que Erwin e Rivaille conversaram de vigia na escada, aguardando o momento oportuno para apresentar-se ao capitão e tentar entabular qualquer tipo de contato. Geller reprovava enormemente sua postura:
— O capitão lá vai querer saber de um novato como você, Wacoski. Por isso existe a hierarquia no exército. Vire tenente primeiro, ou primeiro imediato como eu, aí talvez você tenha uma chance de falar com ele.
— Até quando você vai ficar se gabando de ter virado primeiro imediato? — irritou-se Katrina que já estava de saco cheio de escutar as baboseiras de Geller.
— Até quando isso continuar te irritando, benzinho.
— Eu mesmo gostaria de uma audiência privada com o capitão, mas isso é impossível — falou Lud — Geller está certo. A hierarquia existe para nos separar de figuras importantes como ele. Ele não se interessa por nós, há coisas mais urgentes a tratar.
Ouviram ruídos lá em cima e imediatamente fingiram estar fazendo alguma coisa: Annie voltou a tirar pó dos moveis com um espanador, Geller e Reiner fingiram conversar algo extremamente importante, Lud mergulhou na primeira coisa escrita que viu na sua frente, Katrina foi pra cozinha e Mika ficou parado feito um idiota na ponta da escada, como uma tiete aguarda seu artista favorito na saída do Anfiteatro.
Normalmente o capitão passaria direto, apenas cumprimentando os demais com um breve aceno e sua presença desapareceria dali em alguns segundos. Rivaille encarou Mika com seus olhos vidrados no capitão e lembrou-se do que Lud lhe disse. Seria bom tentar dar algo pra aquele moleque diferente de pancadas e xingamentos, pra variar. Era importante manter o espírito de todos vivos e estava claro ali o que era mais importante pra ele. Rivaille tinha que fazer Mika olhar daquela forma para ele, todos eles, ou teria falhado em seu papel.
— Este é o Mika Wacoski, de que lhe falei. — ele deteve o capitão por um instante e todo mundo na sala só faltou cair de costas
— É um prazer soldado — o capitão abriu um sorriso e apertou as mãos deles efusivamente — Dezesseis anos, não é isso? Foi nesta idade que me alistei no exercito. Decidi descer daqui da muralha Rose a muito contragosto de meus pais e entregar meu coração ao exército. O tenente me falou de sua vontade de servir, soldado, e isto é tão ou mais importante que um dom de família, acredite em mim.
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Deuses e Homens
FanfictionNum mundo destruído pela própria ganância e ambição da humanidade, o que restou desta enfrenta o seu predador natural: criaturas humanóides quase indestrutíveis que devoram qualquer ser humano que estiver por perto. Recuada para dentro de suas cidad...