18. um sorriso tão verdadeiro quanto uma cédula de três dólares

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Você sabe que eu não consigo
Me mostrar para você
Me entregar à você
Eu não posso te mostrar esse meu lado miserável
Então coloco uma máscara e vou te encontrar
Mas eu ainda quero você

(The truth ontold - BTS)


O rapaz passou pela porta do estabelecimento, sendo recebido por uma lufada de ar quente provinda do aquecedor. Vagou as orbes cor de terra por todo o espaço, parando ao encontrar quem procurava. Um suspiro escapou por entre seus lábios ressecados. O que estava fazendo com a sua vida? Mentindo para um país, para si mesmo, para Yoongi. A troco de que? Ele caminhou por entre as mesas, a caminho de uma em especifico perto da enorme janela no canto inferior. Jin tinha razão, não havia mais motivos para todo aquele teatro, não havia razões plausíveis para ele agir como um adolecente rebelde e falar coisas absurdas a um homem inocente. Ele não era mais uma criança carente, mas que tipo de homem estava se tornando?

Cassandra estava focada em seu celular, por isso não notou a aproximação do rapaz, nem quando Taehyung ocupou o lugar à sua frente. Ele suspirou novamente, esses encontros eram sempre tão... embaraçosos.

— Cass — chamou em uma falsa doçura, com uma intimidade que não tinham. A garota loira finalmente desviou a atenção do aparelho e sorriu largamente na sua direção.

— Tae! — exclamou animada, errando a pronúncia da letra a e Taehyung não conteve sua expressão desgostosa. Sabia que seu nome era singular entre os londrinos, mas não entendia a dificuldade em de Cassandra ao pronunciar uma simples vogal. — Perdão, estava absorta na minha conversa com Laura. Por sinal, sabia que ela está noiva? Foi um choque, ela conheceu Andrey há tão pouco tempo...

— Oh, é mesmo?

Taehyung não fazia ideia de quem era Laura, muito menos seu noivo, mas seguiu seu teatro com um sorriso gentil. Falso. Era um sorriso de papel, se pingasse uma gota d'água ele desmontaria e só restaria vestígios. Taehyung continuava ouvindo Cassandra tagarelar sem parar pois notou o fotógrafo do outro lado da rua, provavelmente trazido pela princesa. Ela gostava de atenção, não perdia uma oportunidade em suas visitas a Nova York.

E ele não poderia julgá-la ou se incomodar com toda aquela atenção, pois era exatamente o que queria. Holofotes, flashes, microfones, fotos e seu nome espalhado por toda a Londres. Queria que seu pai o visse, que se orgulhasse em dizer para os amigos que o rapaz ao lado da princesa era seu filho. Mesmo que às vezes se sentisse como um troféu sendo exibido por Cassandra, um rostinho bonito estampado em capas de revistas.

Ao menos seu pai o via.

Ele via o namorado da princesa e ao menos uma vez por mês ligava para perguntar como estavam as coisas. Perguntava sobre seu relacionamento, nunca sobre a faculdade e contava histórias fúteis sobre os eventos em que frequentava, pessoas fúteis que conhecia. Oliver Kim não era o homem mais interessante, nem o melhor pai do mundo. Mas era o seu pai, e Taehyung o amava.

— ... me perguntando quando será o casamento, acredita? — a voz de Cassandra o tirou de seus devaneios, a palavra casamento reverberou pela sua cabeça em um alerta vermelho. Não fazia ideia do que a princesa falava, mas sorriu sem graça ao assisti-la soltar uma curta gargalhada. — Mas eu disse a eles que não penso em matrimônio por hora, e que você tem ciência disso. Vovó não concordou, mas eu não me importo.

Taehyung sorriu novamente, um sorriso tão verdadeiro quanto uma cédula de três dólares. Pelo restante da tarde, continuou aquele teatro, ignorando seu interior efervescente e os sentimentos conflituosos que lhe assombravam a respeito do rumo que sua vida estava tomando. Ele não disse nenhuma frase com mais de três palavras durante todas aquelas horas ao lado de Cassandra, forçou tantos sorrisos que sentia suas bochechas doerem, segurou a mão fria e delicada de uma desconhecida e aceitou os selares tímidos que ela lhe dava vez ou outra.

E quando a deixou dentro da limousine prateada no final do dia, observou o outro lado da rua com certa surpresa. Jungkook estava sentado na sua moto e observava o carro com a princesa se afastar cada vez mais. Taehyung suspirou ao atravessar a rua. A última vez que viu o amigo foi há três dias, quando todos se juntaram para visitar Yoongi. Ele não perguntou sobre o estado de saúde do músico a nenhum, na verdade pouco falou com Namjoon nesses dias.

Moravam juntos mas parecia haver um muro de Berlim entre eles, Namjoon estava tão perto, mas não longe. E a pior parte é que ele sabia quem era o responsável por erguer cada tijolo daquele muro. Ele, sempre ele.

— O que faz por aqui? — Taehyung questionou casualmente após cumprimentar o amigo.

— Eu estava passando e vi você saindo do café com a sua namorada. — Jungkook fez questão de enfatizar aquela palavra, não poupando o escárnio no tom de voz.

— Jun, não quero discutir hoje... — exclamou cansado e suspirou. Aquele dia já havia sido cansativo o bastante, não precisava de uma dose de sermão para depender de calmantes para dormir. Ele encarou o amigo, incerto sobre se deveria ou não perguntar o que estava martelando na sua mente desde o final de semana. — Como... Como está o Yoongi?

— Bem, mas acho que se ele souber que se preocupou com ele provavelmente vai ficar mal de novo. — Jungkook suspirou. — Por mais que eu tente, juro que não consigo te entender, Taehyung.

— Eu não me importo com Yoongi. — o rapaz exclamou na defensiva, mas para si do que para o amigo. Jungkook o analisou com um olhar cansado. Parecia estar de saco cheio de todo aquele drama.

— Certo — ele se levantou da moto e segurou o capacete. — Continue mentindo, talvez um dia você passe a acreditar nisso tudo.

Jungkook colocou o capacete na cabeça e moveu-se com sua moto para longe do amigo. Taehyung observou as costas do amigo cobertas por uma jaqueta de couro desaparecer e suspirou. Sentia-se a mais estúpida das criaturas, seus amigos aos poucos se afastavam mais e mais dele, e sabia que era o único responsável por aquilo.

"Todas as crianças crescem, menos uma..."

Peter Pan não era o único que se recusava a amadurecer.

N/A: a partir de hoje, estarei liberando capitulos durante a semana também e mais de um. hoje publicarei dois de uma vez por conta do atraso da semana passada, e provavelmente voltarei ainda essa semana (isso se a internet deixar). qualquer coisa estarei avisando no meu mural, até o proximo capitulo e não esqueça de clicar na estrelinha!

Vᴏʟᴜ́ᴠᴇʟ • ᵗᵃᵉᵍᶤOnde histórias criam vida. Descubra agora