Teu toque

Fragilidades: 3

Os compromissos em Brasília para os ministros começava com coletivas diversas. Repórteres ávidos por fazer suas perguntas e terem suas respostas esperavam amontoados em frente a ministra do planejamento e orçamento que tinha, ao seu lado, o ministro da Fazenda.

A última interação que os dois colegas de trabalho tiveram não havia sido amigável, trocaram palavras ácidas e farpas que incomodaram em suas peles. Haddad tentara amenizar o clima entre eles nos momentos em que participou de reuniões conjuntas a morena e ela pareceu tentar tornar o contato entre eles o mais aceitável possível. Durante a coletiva os dois respondiam respectivamente os questionamentos sobre economia e os planejamentos futuros para melhoria dos altos preços causados pela inflação. Aos poucos as horas passavam e enquanto ministros de outras pastas se ocupavam de responder outras perguntas desde cultura até meio ambiente, e as propostas para tais questões, os dois ministros que tiveram contatos ariscos até ali pareciam ter uma conversa baixa mais suave e harmoniosa.

- O que foi isso na sua mão? - Perguntou a Tebet quando percebeu a queimadura na palma da mão do colega enquanto ele mostrava algo em seu celular.

- Estava testando novos estilos econômicos e eles estavam quentes demais - Brincou e se surpreendeu com o riso rouco da mulher - Brincadeiras a parte, distração na cozinha - Sorriu.

- Na próxima vez tenha mais cuidado. Pareceu ter sido uma baita queimadura - Tocou suavemente o local com os dedos.

- Terei - O homem engoliu em seco com a gentileza da morena e seus olhos não deixaram os dela quando se encontraram - Na próxima vez já sei o que não fazer - "Pensar em você".

- Isso é ótimo - Sorriu timidamente com a profundidade com a qual ele a encarava - Os nossos erros servem para nos ensinar - Refletiu, sem deixar o toque suave da mão dele.

- Fato - Respirou fundo com a mão quente e delicada dela sobra a sua, seus olhos jamais se deixando, e retirou quando flashs de câmeras focaram neles.

No final daquele dia os dois colegas de trabalho trocaram conversas mais calmas e sorrisos rechearam o assunto acalorado entre eles. Um olhar de soslaio com fascínio, um toque tímido e carinhoso, piadas um para o outro e cada vez a aproximação cautelosa crescia e se tornava algo maior do que poderiam esperar.

Haddad se despediu de Simone na saída percebendo que Eduardo a esperava possessivo, com olhar de advertência que estremeceu a morena, ele sentiu vontade de a manter ali do seu lado, de não permitir que fosse agarrada por aquelas mãos grosseiras, mas nada poderia de fato fazer. A raiva e repulsa pelo marido da Tebet se cravava em seu peito como um espinho irritante, adoraria fazê-lo pagar com suas próprias mãos o que sabia que ele fazia com a morena. Um dia conseguiria ver a justiça sendo feita e estaria lá para apoiar a colega e observar a ruína daquele desgraçado. Nesse dia talvez pudesse enfim ver aquele sorriso avassalador com mais frequência nas feições adoráveis da mulher.

***

A noite caia sombria pela cidade, tanto quanto o coração da mulher ao carro, já sabendo o que lhe esperava quando chegassem ao apartamento. A maneira como o marido falava entre os dentes e a tensão de seu corpo evidenciava que algo no dia o incomodara e ela seria o lugar onde ele depositaria todo o lixo que carregava consigo.

Quando chegaram na sala do apartamento Simone largou sua bolsa no sofá e assumiu uma postura defensiva. Estava exausta dos acessos exacerbados de raiva do marido por motivos fúteis e que por vezes nada tinha haver com ela. Passou as mãos pelos cabelos inquieta, estufou o peito imperiosa e se preparou para as violentas palavras ou a agressividade de seu toque sobre ela. A raiva explodia em sua cabeça e o cansaço de toda aquela vida infernal pulsava com vividez em suas têmporas, estava disposta a revidar qualquer ataque e se impor sobre os absurdos daquele homem que um dia amara com todo seu coração e alma, e hoje apenas lhe causava náuseas e ódio.