Um pedaço seu comigo: 31

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Pela manhã retumbava na mente da ministra, emaranhada entre os lençóis bagunçados, as próprias palavras em seu momento de embriaguez. Se sentou lentamente na cama e passou os dedos entre os lábios ainda sentindo o calor singular da boca dele na sua. Suspirou e fechou os olhos. Disse que o amava, implorou que lembrasse deles, lhe roubou um beijo. Estava envergonhada de si mesma e preocupada em ter o deixado mal com isso. Se xingou internamente por ter bebido mais do que poderia aguentar sóbria. As têmporas estavam latejando em uma enxaqueca escruciante, gemeu baixinho e colocou a cabeça entre as mãos. Penteava os cabelos, cheios de fios com nós pelo travesseiro e por não ter desfeito o penteado durante a noite, com os dedos enquanto trazia os joelhos para perto apoiando a testa ali. Não sabia o que doía mais, a cabeça ou o coração.

- Por que fiz isso?!

Respirou pesadamente, desejou não ir ao ministério e ter o risco de encontrar com o homem que deixou para trás absurdamente confuso na noite anterior, se levantou da cama e colocou uma mão à boca enjoada. A bebida não lhe caia bem e cobrava o preço. Correu até o banheiro cambaleante e ao chegar colocou para fora tudo o que tinha no estômago. Ajoelhada em frente ao sanitário se jogou para trás exausta, e tonta, e deixou algumas lágrimas agridoces rolarem por seu rosto. Ele não lembrou com seu beijo e ela foi uma tola em pensar que isso resolveria como em um conto de fadas. Enquanto tomava seu banho recordou o momento em seu gabinete onde ele por pouco não a beijou e pareceu lembrar de algo. Temia que jamais fosse lembrada ao mesmo tempo que pensava que esse era o melhor jeito de o manter bem e seguro. No espelho vislumbrou uma sutil e pequena elevação ao pé da barriga, mas se distraiu com os hematomas menos evidentes em sua pele.

A morena passou pelos corredores do ministério tentando ajustar seu blazer para cobrir a camisa apertada, estava se sentindo sufocada e temerosa que os botões rompesse. Massegeou a testa com a dor de cabeça crescente, havia tomado um remédio, porém não resolvera muito. Se sentiu aliviada ao não encontrar com Haddad, mesmo que seu coração quisesse o contrário. Não sabia o que dizer se ele questionasse sobre suas atitudes e falas na noite passada. Enquanto caminhava as paredes pareceram quase se fechar ao seu redor, sentiu a bile na garganta, tentou alcançar algo em que pudesse se apoiar e tropeçou derrubando pasta e bolsa. A visão estava turva, quase escorregava na parede que se agarrou, o coração batia desenfreado e os olhos se fechavam buscando algum foco. Com a respiração artificial e o chão parecendo sumir nos pés, seus joelhos cederam e sua cabeça tombou no ombro de alguém. Sentia braços a segurando e uma voz distante a chamando, tudo rodopiava e ela mal conseguia responder.

-Simone! O que você tem? Está me ouvindo? - Padilha perguntou, segurando a mulher que não conseguia ficar de pé, dando leves tapinhas em seu rosto pálido.

- Fernando? - Questionou confusa, a voz fraca, seus olhos não conseguiram distinguir a pessoa que a mantinha amparada.

- Não. Sou eu, o Alexandre - Descansou a cabeça dela em seu ombro, quando a mesma caiu para trás, e a sustentou nos braços - Preciso chamar ajuda...

- N-não me deixa ... - Rogou, sussurrando, se sentindo nauseada e fraca para se equilibrar nas próprias pernas.

- Vou te ajudar a ir ao gabinete, tá bom? Aí chamo alguém - Afastou os cabelos do rosto dela, olhou o corredor procurando alguém.

- Humrrum - Concordou, segurando nos braços dele, sequer entendera o que ele disse.

- Vem, devagar. Se apoia em mim - Atravessou um braço em sua cintura e tentou alcançar o que caiu - Ei! - A segurou firme outra vez quando a mulher cambaleou para trás.

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