Teu toque

A família que escolhemos: 9

Pelo amanhecer Simone e Haddad tomaram o café da manhã juntos, apreciando os raios de sol que adentravam pela janela com um afago inexplicável e brilho exuberante. O casal se sentia um pouco mais alegre e leve podendo despertar um ao lado do outro, as mãos trocando caricias entre seus dedos, sorrisos desenhando seus lábios. Os olhares dizendo mais do que palavras eram capazes de expressar. Quando se arrumaram decidiram ir um após o outro, Simone esperou um tempo, observando o quarto que poderia usar para montar para sua bebê. Um suspiro longo a deixou e as mãos aqueciam carinhosas seu abdômen plano.

Quando chegou a esplanada a mulher fora cercada por repórteres apressados em tirar dúvidas sobre boatos do governo, os flashs das câmeras a cegando, o tumulto a sua volta lhe deixando tonta. A cabeça girava, o estômago revirava, ela tentava avançar respondendo brevemente e superficialmente as vozes que se misturavam e a deixavam confusa. Um zunido atingiu seus ouvidos, seus olhos ficaram semicerrados com a luz ofuscante do sol, as mãos gesticulando enquanto falava. Com o auxílio de seguranças conseguiu escapar do burburinho que estressava seu corpo, tendo de emergir logo após isso em uma reunião longa e cansativa a fazendo sentir-se enjoada. Tentava se acomodar em sua cadeira, manter a atenção no que era proposto e conversado, anotações fluindo, mas então seus olhos desfocaram de suas letras e as náuseas revolveram seus sentidos.

- Querida, você está se sentindo bem? - Questionou, Haddad, ao lado dela percebendo seu corpo inquieto.

- Preciso sair - Engasgou-se em suas palavras, a mão tapando a boca, e os olhos fechando por um segundo.

Ela se levantou apressada, pedindo licença a todos, e correu até o banheiro sentindo que os minutos pareciam horas enquanto vomitava tudo o que comera naquela manhã. Quando por fim terminou, lavou seu rosto na pia e respirou fundo para controlar a sensação ainda incômoda que a dominava. Já em seu gabinete ela sentou-se em sua cadeira um pouco fraca e fechou os olhos, relaxando o corpo buscando melhorar para voltar aos seus afazeres. A porta se abriu e Haddad adentrou o lugar com um olhar compreensível e uma xicara em mãos. A entregou a xícara e se ajoelhou em frente a ela, tocando sua barriga com carinho e a fazendo sorrir com encanto.

- Ei princesinha! Você precisa ajudar sua mãe - Conversou com a barriga sob as risadas de Simone - Ela está se esforçando muito aqui - Acariciou o ventre plano.

- Bom, espero que ela te ouça - Riu - E isso? - Apontou para a xícara.

- É um chá de hortelã gelado, ajuda com o enjoo - Aproximou a xícara dela.

- E como está tão ciente dessas dicas? - Perguntou, tomando um gole e sentindo o líquido refrescá-la.

- Ando pesquisando - Sorriu, se levantando e procurando algo em seu terno - Trouxe um presentinho para essa pequenina - Olhou para sua barriga e lhe entregou uma caixa pequena.

- Olha só meu amor, você já está sendo mimada - Abriu a caixa e havia um par de sapatos pequenos, de cor vermelha, com pompom na ponta do calçado - São lindos, Fernando - Se emocionou, aproximando os sapatos de sua barriga - Imagina só ela com eles - Fungou.

- Vai ficar perfeita como a mãe dela - Beijou a testa dela.

Simone se levantou e o abraçou amorosamente, sentindo-se mais envolvida nos sentimentos por ele a medida que o tempo avançava. Não queria lhe envolver em toda confusão de sua vida, mas ao mesmo tempo não conseguia o manter longe. Sempre eram atraídos um até o outro e se deixavam levar por tudo o que sentiam e desejavam viver.

***

O sol já estava se pondo saudoso lá fora, dando espaço para a noite e sua intrínseca melancolia. Enquanto analisava alguns documentos, e fazia suas anotações sobre, a mulher sentia as pálpebras pesando. Esfregou os olhos com os dedos tentando afastar o sono, colocou o rosto entre as mãos e respirou fundo. Não recordava ser tão trabalhoso estar grávida e manter uma rotina pesada. Se levantou para tomar um pouco de água, esticar seu corpo, e voltar a ativa. Quando voltou a sua mesa, não sabe quanto tempo mais continuou a fazer suas análises, mas em algum momento cedeu ao sono e adormeceu sob a mesa, a cabeça apoiada em seus braços e os cabelos escuros espalhando-se pelos papeis. Sua mente pesava e o sono a envolvia fortemente lhe arrebatando da realidade.