Inferno: 24

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Simone recebeu, quase trinta minutos após Haddad ir embora, a ligação de Ricardo lhe informando que estava levando Fernanda até ela. Seu coração pulou furioso no peito e necessitou respirar profundamente para achar o fôlego que faltou. Um raio de sol encandeou seus olhos e sua mão protegeu a visão quando o carro parou em frente a sua propriedade. Mesmo sentindo as forças deixando seu corpo ela correu eufórica até o automóvel querendo desesperadamente ter suas filhas nos braços e nunca mais as deixar desprotegidas.

- Fernanda!

Ricardo trouxe a mais velha da Tebet nos braços e essa parecia semiadormecida. A adolescente pediu para ficar de pé, mas enfraquecida acabou por balançar perigosamente para a frente e ser sustentada por sua mãe que afastou os cabelos de seu rosto quente e suado. Colocando o braço de sua filha nos ombros a carregou até o interior da fazenda de onde Ester descia lentamente com a proeminente barriga. A mesma se apressou até a sobrinha, e sua irmã, e pareceu lançar um olhar preocupado para Simone ao sentir a temperatura de Fernanda.

- Precisamos estabilizar a temperatura corporal dela - Comentou a médica percebendo só naquele momento a presença de Ricardo - Quem é esse?

- Um amigo de Fernando - Contou rapidamente - Vamos levar a Nanda até o banheiro e eu vou buscar Eduarda.

- Simone... Tenho algo pra te contar - Ricardo pigarreou quando o mesmo olhar severo foi lançado pelas três Tebet a sua frente.

- Eu consigo levar ela até o banheiro - Ester garantiu amparando Fernanda.

- Tem certeza? - Seu coração estava em um limbo doloroso entre suas duas filhas.

- Traz a Duda, mãe - Fernanda murmurou em um estado de delírio.

- Vai lá - Ester indicou para a porta e ajudou a sobrinha para sair dali.

Simone foi até a frente da fazenda com os braços cruzados e uma mão à boca esperando uma notícia devastadora. Podia sentir que os pulmões eram apertados até sufocar em agonia quando o homem a fitou como se não conseguisse falar. Apertou a blusa em uma vã tentativa de aquietar o estômago que retorcia como um mar revolto de sentimentos e temores. Desejou correr até que suas pernas ardessem e os pés desgastassem no chão, necessitava ter o outro pedaço de seu coração o mais perto que pudesse. Sem as duas ela não sobreviveria por muito mais tempo. Suportou todos os horrores por elas e agora sequer servia para as defender como mereciam, como precisavam. Tentou elaborar alguma frase, quis xingar a pessoa a sua frente que prometera achar suas filhas se fizesse o que fora pedido.

Em sua mente ecoou como uma infernal tortura o som dos gritos de sua caçula chamando por ela e a impotência voltou a habitar sua pele e incendiá-la até que restassem apenas cinzas de sua alma. Os olhos de Fernando implorando para que o deixasse estar perto ainda arrancando seu coração. Mesmo quando abria mão de tudo permanecia sem nada, sem o que lhe fora prometido se seguisse ordens. Estava cansada, não aguentava mais tanto tormento e rasgaria até mesmo o véu do tempo se isso trouxesse ao menos o que mais importava nessa vida aos seus braços outra vez: Suas meninas.

- Onde está minha filha?! - Sua voz saiu mais firme do que seu corpo conseguiria manter e suas mãos foram até a gola da camisa do homem feroz - Você disse que a traria... DISSE QUE ENCONTRARIA AS DUAS! - Gritou enfurecida e desesperada enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.

- Simone, por favor, calma. Eu procurei por ela, mas só achei a Fernanda - O homem respirou fundo e tentou tirar as mãos dela de cima de si, mas a mulher o balançou com força.

- Esse não foi o acordo. NÃO FOI! - Sua voz se elevava e diminuía à medida que sua garganta fechava com um nó de angústia.

- Eu prometo que vou voltar lá e achá-la - Ricardo gaguejou e foi solto por ela com desleixo.

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