Consequências: 26

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Sirenes ao fundo, uma multidão amontoada ao derredor de um carro irreconhecível e amassado, flash de câmeras e repórteres ávidos por ter certeza da pessoa que estava entre as ferragens. As luzes encandeavam a visão, vidros estilhaçados se espalhavam e faziam barulho no chão com o atrito provocado pelos sapatos de autoridades. Polícias esperavam bombeiros e socorristas no local do grave acidente. Janelas estouradas com o automóvel virado de cabeça para baixo dava uma pequena visão da vítima ensanguentada e arrebentada dentro do veículo. O sangue lhe escorria pela cabeça e deixava os cabelos pegajosos, uma poça se espalhava pelo teto destroçado do carro e descia rumo ao escuro chão em uma linha vermelha assombrosa. A noite escondia o cenário ainda mais caótico a luz do dia. O homem dentro do carro parecia semimorto e os profissionais suavam para retirá-lo dali.

- Puxem ao meu sinal - Falou o capitão ajustando o equipamento na porta destruída e travada.

Quando enfim quebraram a porta uma retirada segura e meticulosa se iniciou para tirar a vítima do automóvel sem o ferir mais do que já estava machucado. Ao estar na maca o homem continuava inerte e desacordado, os paramédicos tentavam estancar o sangue fluindo de seu abdômen. Fora levado à ambulância e os paramédicos iniciaram os primeiros socorros. Com a sirene ligada e acelerando para longe da fita de investigação seguiram ao hospital mais próximo.

Rasgaram a camisa do ministro para verificar seus batimentos, lhe mantiveram com uma máscara de oxigênio, e perfuraram um acesso em seu braço. Estava fraco, os batimentos eram miseráveis e a oxigenação superficial. Tentavam estabilizar ele e manter imobilizado tendo em vista as costelas quebradas. Um dos paramédicos ligou para seu número de emergência, que ainda era sua ex-mulher já que não tivera tempo para mudar, e esperaram a chegada até o hospital. Chegando ao local o retiraram com emergência e foram abordados por Estela que se jogou ao peito do homem.

- Haddad! Fala comigo, você precisa ficar aqui - A mulher afirmava eufórica segurando a mão fria dele e seguindo apressada os médicos que o levavam - Haddad!

- Senhora, precisa manter a calma e nos deixar fazer nosso trabalho - Exigiu um médico que verificava o estado do mesmo enquanto corriam para a sala cirúrgica.

- Salvem ele, por favor! Façam o que for necessário, mas o salvem - Implorou e saltou para longe quando ele abriu repentinamente os olhos.

Haddad sentiu seus pulmões queimarem como fogo na carne, todo seu corpo estava tão profundamente dolorido que quase o anestesiava em delírio, a respiração era insuportável para encontrar fôlego e os olhos estavam borrados. As pálpebras pesavam e os ossos doíam como se fosse triturado em um liquidificador. Recordou as palavras de Simone como flashs rápidos e torturantes de memória, eram ecos fantasmagóricos perturbando sua mente. Lembrou do impacto do carro e da dor dilacerante antes de desmaiar. Estava assustado, destruído, as lágrimas derramadas pelos cantos dos olhos refletiam confusão e pavor.

Tentou se mover, queria sair dali, queria buscar a mulher que amava com toda sua alma e pedir perdão e implorar que não o deixe. Afastar-se dela doía como brasas no peito. Piscou várias vezes por causa das luzes ofuscantes no corredor, onde era levada rapidamente na maca, e fechou seus punhos buscando o toque dela que nunca viria. Seus lábios se abriram secos, a boca possuía um sabor metálico e a tontura forte estava o deixando enjoado. O sangue pulsava para fora de seu corpo o deixando fraco. O mundo girava rápido e antes de cair em uma inconsciência profunda, e longa, pensou nos lábios mais doces que já provara e no amor que lhe salvava a cada nova batida de um só coração.

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