Sei o que quero: 6

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Na manhã seguinte a ministra despertou com o corpo dolorido e hematomas intensificando a cor, indo de vermelho a um roxo. Ela os tocou com cuidado e estremeceu, o olhar, refletido no espelho do banheiro, baixou por alguns segundos sem conseguir encarar a si mesma naquele estado. Os olhos inchados pelo choro que durou toda uma noite até que adormecesse, os cabelos desgrenhados e os lábios franzidos e pálidos. O enjoo matinal a atingia naquela manhã, molhara o rosto para aliviar o incômodo e olhando uma última vez para seu reflexo machucado e abatido ela soltou um suspiro, levantou seus ombros em uma postura mais determinada, jogou os cabelos para trás e decidiu o que fazer naquela manhã.

Após um banho, uma blusa preta com mangas longas, calça de mesma cor e um casaco azul por cima a mulher deixou que a maquiagem escondesse os males da noite passada e arrumou seus cabelos. Pegou uma bolsa grande onde colocou tudo que precisava, bebeu uma água sem apetite para se alimentar e enquanto permanecia no silêncio e vazio daquela cozinha suas mãos repousaram em seu ventre, acariciando ali involuntariamente. Afastando pensamentos negativos a mulher imaginou ter aquele bebê entre seus braços e preencher seu coração com todo o amor que seus filhos conseguiam lhe despertar, idealizou uma vida onde pudesse viver com suas meninas e mais aquele ser que gerava. Livres, felizes, juntas, uma lágrima solitária deixou o canto de seu olho até sua bochecha, um pequeno sorriso se formou em seus lábios trêmulos e baixando o olhar até o abdômen ainda plano ela deu de ombros.

- Quem sabe um dia fiquemos as quatro juntinhas e em paz? - Conversou com a barriga, a voz soando meiga, as mãos fazendo movimentos carinhosos ao redor - A mamãe vai lutar por isso, é uma promessa a você e suas irmãs.

Deixando o apartamento com a bolsa ajustada em seu ombro ela caminhou até o estacionamento olhando as notícias em seu celular. Se preocupou com as que envolviam Haddad e se guiou por elas para achar o mesmo, chegando no suposto hotel em que dizia que havia se hospedado ela procurou por sua hospedagem na recepção e quando o homem autorizou sua entrada uma respiração aliviada saiu de si. Estava aflita pela forma como ele fora embora no outro dia e se culpava pela situação, mesmo que sua culpa não fosse, e ao chegar no quarto percebeu que o colega acabara de acordar, provavelmente com a ligação da recepção, os cabelos bagunçados, a roupa do dia anterior amarrotada em seu corpo, o rosto inchado e sonolento, olhos ressacados e garrafas secas espalhadas pelo chão. Ele havia bebido e logo as sobrancelhas dela franziram com isso, enquanto ele caminhava do banheiro até ela, os passos um pouco atrapalhados, a própria se apressou em seu encontro e o fez sentar na ponta da cama.

- Acho que alguém exagerou na bebida - Repreendeu, sentando em frente a ele e descansando sua bolsa no colchão.

- Descobrir uma traição não é algo muito magnífico - Foi direto, jogando as mãos para o ar, a voz rouca.

- Descobrir uma traição? - Indagou confusa, pegando algumas coisas em sua bolsa.

- Exatamente - Riu com ironia - Cheguei em casa depois da briga e bom, encontrei Estela com outro na nossa cama - Expressou indignação.

- Nossa Senhora! - Arregalou os olhos - Sinto muito - Lamentou enquanto molhava um algodão com antisséptico.

- Ah eu também - Entortou os lábios - Não acredito que ela pôde fazer isso.

- Haddad, isso soa bem hipócrita - Acusou - Você não pode e nem deveria estar julgando ela - Pontuou, pegando a mão dele e checando o punho machucado.

- Fala isso pelo que sinto por você? - Deixou sua mão na dela e fez uma careta quando sentiu a ardência do algodão nas feridas.

Teu toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora