Com o passar das semanas, dias que não pareciam ter o brilho ou o calor do sol, noites efêmeras e profundamente débeis. Simone se mantinha trancada ao quarto, dormia agora no quarto de Fernanda, querendo evitar o contato com Haddad. Ele respeitara seu espaço, mas insistia na alimentação. A mulher que se recuperava das feridas físicas, e as gravadas em sua alma, rejeitava as refeições parecendo mais magra e ainda mais pálida. Seu rosto possuía uma tristeza doentia, seus olhos opacos, os lábios ressecados e esbranquiçados. Deixava o lugar apenas para tomar um banho, sentindo-se tonta e fraca ao levantar da cama, negava a ajuda do homem sempre que lhe era oferecida. Podia ver a preocupação gritante nos olhos dele, mas não conseguia reagir, sentindo todo o corpo afogado em sentimentos conflituosos.- Só coma um pouco. Só estou pedindo isso, não vou conseguir sair daqui se não te vir alimentada - Haddad tentava a convencer, com uma bandeja de café da manhã sendo posta na cama dela.
- Não tenho fome - Afastou o objeto com uma indiferença nas feições.
- Mesmo que não tenha, o que acho difícil com o pouco que anda comendo, você necessita. Quer morrer? - Sua voz soava angustiada - Por favor, querida. Estou te implorando - Se ajoelhou ao lado dela, que estava sentada à cama, e trouxe as mãos da mesma nas suas as beijando com carinho.
- Vai trabalhar tranquilo se eu tomar o suco?! - Sugeriu.
- Só o suco? Isso não sustenta ninguém, Simone - Reclamou.
- Então se eu comer o pão você vai trabalhar com o coração menos pesado?! - Olhou para o pão com uma respiração pesada e depois para ele.
- Vou! Mas ainda vou pedir o seu almoço e mandar pra cá - Confessou.
- Não faz isso - Inclinou a cabeça para o lado, o rosto sombrio, os olhos rodeados de olheiras.
- Faço! - Apontou com a cabeça para a bandeja - Vamos senhorita, coma um pouquinho que seja.
- Ok, ministro - Esboçou um sorriso forçado e mordeu o pão, cedendo aos pedidos naquele momento.
Com os dias passando-se ela voltara ao hospital para retirar os pontos, e checar a recuperação de suas fraturas. Fora recomendado melhor ingestão de alimentos. Para acalmar a turbulência preocupante nas feições do homem, a morena se alimentou um pouco melhor, mesmo que fosse um sacrifício fazer algo passar por sua garganta. Quando se via sozinha no apartamento, mesmo querendo voltar ao trabalho e ocupar sua mente o máximo possível, a mulher voltava ao quarto que seria de sua pequena. Ela desmoronava em choro, em súplicas, em desejo desgarrador por ter o que não lhe voltaria por mais que pedisse. As vezes as palavras de Estela voltavam a sua mente como ecos insuportáveis, reforçando o que a própria pensava e temia.
"Você pode ter Fernando hoje, mas isso não irá durar muito mais tempo. Quando essa aventura que vocês tem perder a graça, quando só tesão não for suficiente, quando ele se cansar do grande problema que você é... Voltará para mim."
Ela era de fato um grande problema para si mesma, para ele, para todos a sua volta. Não entendia quando ele se daria conta disso e, então, lhe deixaria para trás. Não queria o perder, o amava suficientemente para o querer por perto, mas sabia que se continuasse levando isso adiante lhe perderia de qualquer maneira e da pior forma. Não deixaria que o homem por quem se apaixonara perdidamente fosse arrebatado daquele mundo por sua culpa, pelas mazelas que carregava e das quais não conseguia se livrar mesmo tentando desesperadamente. Tentou acreditar que talvez fosse só um desejo, o gosto pelo proibido, mas tudo o que passaram juntos e ele continuar ali, intacto por ela, lhe fazia crer em suas palavras e tornar tudo mais difícil. Precisaria se despedir, teria de abrir mão do que amava, para não o perder também. A mulher segurava o vestido que ele havia comprado para a bebê, apertava contra sua barriga buscando sentir que havia vida outra vez crescendo em seu ventre, as lágrimas desceram rascantes por seu rosto. Seu celular vibrou e ao alcançá-lo, e ler a mensagem recebida, a mulher respirou pelas narinas como se saíssem dali fumaça e jogou o aparelho contra a parede em ira fervente.
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Teu toque
FanfictionSimone Tebet é chamada para ser ministra do planejamento e orçamento, no atual governo, e está pronta para dar mais um passo em sua carreira política até perceber que suas ideias divergem com o atual ministro da fazenda, e seu colega de longa data...