CAPÍTULO XVI: Conversas sobre família

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                        MAGNUS CHASE

Olhei para o relógio que ficava atrás do balcão do caixa, era oito e seis da noite, isso quer dizer que fiquei um bom tempo nessa maldita fila só para comprar algumas batatas fritas, nunca mais eu volto nesta lanchonete. 

Sai do local terminando de tomar meu suco de abacaxi e com raiva por ter demorado tanto naquele lugar, provavelmente as batatas que estavam dentro da embalagem deveriam estar frias e murchas. 

Joguei a caixinha do suco no lixo e parei em frente ao sinal aberto, percebi que do outro lado da rua tinha um grupo com umas quatro pessoas e uma delas estava me encarando com um olhar de julgamento.

Alex falou algo com muito provavelmente, seus amigos, e atravessou a rua correndo quando o trânsito de carros diminuiu.

― Você poderia ter sido atropelado.

― Eu sou ágil e "Oi Alex, tudo bem? Obrigado por ter vindo falar comigo, você é bastante educado por perder seu tempo vindo até aqui" - Alex fez pose tentando imitar a minha voz, o que deu errado.

― Oi Alex, obrigado por ter vindo falar comigo, agora eu vou me mandar - Aproveitei que o sinal estava fechado e comecei a atravessar a rua, escutando os passos de Alex atrás de mim.

― Qual é? Minha noite tá um tédio, deixa de ser chato.

Bufei em resposta.

É, dormir cedo e comer batatinhas em casa não vai rolar hoje. 

― Tava em uma festa? - Perguntei quando decidi prestar mais atenção na combinação de sua calça preta rasgada com desenhos aparentemente feitos por ele mesmo de serpentes e sua camisa social verde escura, com o mesmo all star nojento de sempre.

― Festa de boas-vindas da escola, estava achando um tédio e fui embora com uns amigos.

Acho que a última vez que fui em alguma festa de escola foi no sétimo ano do fundamental, e com certeza acho que é diferente das festas do ensino médio. 

― O que você tem aí? - Alex perguntou olhando para minha sacolinha com batatas. 

― Batatas fritas que talvez estejam frias. 

Alex deu um sorriso estranho e pegou a sacola da minha mão.

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― É sério, a Piper nunca mais quis comer meu macarrão depois daquele dia.

Eu ri alto, Alex estava falando do icônico dia em que ele resolveu colocar pimenta mexicana no molho do macarrão e Piper passou mal quando comeu.

― Tadinha dela - Falei enquanto olhava os carros passando pela cidade. 

Eu e Alex estávamos sentados em uma escada de incêndio de um condomínio, comendo batatinhas fritas meio frias e botando conversa fora. 

― Agora fale mais sobre você, já falei muito sobre meus micos com a minha irmã. 

Comi mais uma batata e pensei em algo sobre mim, o que eu tinha para falar sobre mim mesmo? Sou um cara bem desinteressante. 

― Eu não sei, tipo o que? Que eu sou um cara loiro viciado em livros? 

― Disso eu já sei idiota, sei lá… por que você mora na Valhalla? 

Fiquei em silêncio, era um assunto difícil de explicar, é estranho morar numa casa como a Valhalla mas explicar o motivo de estar lá é pior.

― Depois que a minha mãe morreu no incêndio que teve na minha antiga casa, alguns meses antes do meu aniversário de dezesseis anos, comecei a morar na rua, até conhecer Percy e Will, eles me ajudaram bastante. 

― Como era a sua mãe? 

― A melhor, ela era a melhor de todas, com certeza a pessoa mais gentil e incrível que eu já vi.

Minha voz saiu carregada de admiração e nostalgia, eu não falava sobre a minha mãe com ninguém, lembrar doía, mas lembrar o quanto ela foi boa para mim me confortava. 

― Eu queria ter tido pais legais - Alex disse melancólico. 

― Seus pais não são legais? Pensei que gostasse deles. 

― Aphrodite e Tristan são incríveis, mas não são meus pais de verdade, são meus tios, fui morar com eles depois da minha família me chutar de casa.

Olhei para ele, eu não queria perguntar mais sobre, talvez eu tocasse numa ferida, mas não vou negar que estou curioso.

― Eu sei que você está me olhando e querendo perguntar, você disfarça muito mal. 

Imediatamente desviei meu olhar para a cidade. 

― Sem problemas. Minha família não gostava de eu ser quem eu sou, especialmente o meu avô, ele odiava, depois que eles me mandaram embora, eu contei para a Piper, ela me acolheu com os pais dela, sempre considerei muito eles - Alex suspirou e colocou mais uma batata na boca - Eles me aceitaram como sou e me deixaram ficar com eles, agora somos uma verdadeira família. 

― Eu não sei o que falar, mas que bom que você é feliz com eles.

― É, acho que tenho sorte - Alex sorriu e colocou a mão na embalagem das batatas, que estava vazia.

― Você comeu a última batata? - Ele me olhou irritado.

― Ei, eu que comprei, você que se aproveitou das minhas batatas - Dei ênfase no minhas, porque eram minhas. 

― Estavam bem ruins mesmo, a lanchonete deixou as piores batatas para você. 

Ele jogou a embalagem em mim e começou a olhar as pessoas andando pelas ruas.

Fiquei sem entender e ri anasalado, observando de cima, duas crianças correndo e brincando com pelúcias fofinhas de tubarões, sendo seguidas por seus pais.

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