Capítulo 16 - Entre Sombras de Solidão

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Elara observou o salão do palácio com uma expressão de descontentamento. As cores vibrantes das roupas dos convidados e os sons alegres das músicas pareciam contrastar com o seu próprio estado de espírito sombrio. Ela preferiria estar em qualquer outro lugar do que nessa festa, cercada por nobres que frequentemente lhe pareciam vazios e fúteis.

Enquanto tentava se afastar discretamente de um grupo de nobres chatos que a cercavam, ela deu uma desculpa educada e deslizou pelo salão. Os seus passos a levaram até a mesa onde comidas e bebidas eram servidas, e enquanto ela pegava uma taça de vinho, os seus pensamentos a levaram a um lugar mais sombrio.

A solidão parecia envolvê-la, apesar da multidão à sua volta. A perda do seu marido e filhos num trágico acidente marítimo havia deixado um vazio no seu coração que nem a sua posição nobre e riqueza podiam preencher. Ela podia sentir os olhares curiosos dos outros nobres sobre ela, cheios de pena e curiosidade. Eles comentavam entre si, mas sempre com palavras ambíguas e subterfúgios, tentando descobrir mais sobre a sua situação atual sem parecerem indiscretos.

Enquanto ela estava perdida nos seus pensamentos, outros nobres indesejados aproximaram-se, com sorrisos falsos e palavras melosas. Eles faziam perguntas sobre a sua vida, sua fortuna, como ela administrava a propriedade após a morte do marido. Eles eram mestres em esconder as suas intenções sob camadas de falsidade, e Elara podia sentir a irritação crescendo dentro dela.

Sentindo-se sufocada pelas conversas superficiais e olhares curiosos, os seus olhos captaram um vislumbre de Aldric, o príncipe, conversando com um homem estranho de vestes peculiares. Elara viu uma oportunidade e, com um suspiro aliviado, usou isso como desculpa para se afastar dos nobres indesejados e aproximar-se daquela conversa.

" Príncipe Aldric, Sr. John, permitam-me cumprimentá-los. Parece que estão tendo uma conversa bem interessante.", ela cumprimentou com um sorriso educado, interrompendo a conversa dos dois homens.

Aldric trocou algumas breves palavras com ela e afastou-se rapidamente. Esse príncipe sempre foi assim, ela aproximava-se e ele fugia.

Só ficou ela e John, que trocaram conversas amenas. Num dado momento ele virou-se para ela com um sorriso caloroso. "Dama Elara, permita-me tenho que admitir que poucas pessoas me surpreendem e que a sua senhoria tem uma conversa muito agradável."

Elara dirigiu um olhar curioso a John. "É um prazer ouvir isso, Sr. John. Ouvi falar que a suas perspectivas têm sido bastante intrigantes nesta noite."

John retribuiu o olhar. "Dama Elara tenho apenas expressado a minha visão de mundo com vários nobres e trocado ideias interessantes com todos aqui."

Elara assentiu, sentindo um leve calor nas suas bochechas. "Às vezes, a troca de ideias é o que há de mais valioso em eventos como esse. Muitos de nós aqui temos vidas cheias de privilégios, mas também desafios."

John lançou um olhar cúmplice a ela, como se entendesse algo por trás das suas palavras. "Verdade, Dama Elara. Todos trazemos os nossos fardos, mesmo que nem sempre estejam visíveis."

Ela olhou para John com uma expressão sincera. "Sr. John, às vezes a vida nos coloca em caminhos inesperados. Em certas situações, algumas vezes coisas boas acontecem, em outras, apenas nos decepcionamos. Parece que você trouxe uma nova perspectiva para esta noite."

John assentiu, olhando-lhe com um brilho curioso nos seus olhos. "É engraçado como o destino pode nos levar a conexões inesperadas. E às vezes, compartilhar um momento de entendimento com alguém pode fazer toda a diferença."

A conversa entre eles parecia não ter sentido para um observador de fora, porém ela entendia certas coisas ocultas no que John dizia.

Ela e John mergulharam numa conversa mais pessoal, explorando as suas próprias jornadas, sonhos e anseios. A multidão, as vozes e a música pareciam desaparecer por um momento, deixando-os imersos no seu próprio mundo de palavras e entendimento mútuo.

Ela sentia-se jovem novamente e pela primeira vez nesse último ano, esqueceu as suas preocupações. Não que ela tivesse se apaixonado pelo jovem nem nada do tipo. Apenas gostava de como John era bom em conduzir a conversa e como ela, não precisava fingir o tempo todo.

Elara olhou para John com uma expressão curiosa, os seus olhos buscando algo mais profundo. "Diga-me, Sr. John, sobre esse novo reino que você mencionou. Qual é a verdadeira motivação por trás desse empreendimento?"

John sorriu com amabilidade, mas ela percebeu que ele mantinha algo de volta. "Dama Elara, acredito que, em algumas ocasiões, devemos permitir que o passado permaneça onde está. Focar no presente e no futuro é o que nos permite encontrar novas oportunidades e significados."

Elara não ficou satisfeita com a resposta e continuou a insistir, sua curiosidade e inquietação evidentes nos seus olhos. "Mas certamente você deve ter os seus próprios motivos, as suas próprias histórias que o trouxeram até aqui."

John desconversou habilmente, desviando o foco da resposta direta. "Às vezes, as histórias são como pedras que carregamos, e precisamos decidir quando é hora de soltá-las e seguir sem olhar para trás."

Um calor reconfortante parecia emanar das palavras de John, e ele continuou, a suas palavras adotando um tom mais suave e compassivo. "Como diz a sabedoria antiga, 'há um tempo para tudo debaixo do céu... um tempo para chorar e um tempo para rir, um tempo para abraçar e um tempo para se afastar.' Quando enfrentamos perdas e lutos, é importante encontrar um caminho para a cura e a renovação."

Elara admitiu a si mesma que nunca ouvira nada assim antes. As suas palavras eram tão diferentes das conversas vazias e dos jogos de poder comuns na corte. Ela sentiu uma conexão genuína com John, como se ele pudesse ver através das camadas externas que ela apresentava ao mundo.

A conversa continuou, e Elara encontrou-se cada vez mais à vontade com John. Ele compartilhou histórias sobre as suas viagens e as suas experiências, e ela percebeu haver uma profundidade nele que ela não esperava encontrar. Ela sorriu genuinamente quando ele sugeriu que ela considerasse recomeçar em outro lugar, citando palavras de uma fonte que ela não conhecia.

"Às vezes, quando estamos num ponto de virada, é como se uma nova terra de oportunidades se abrisse diante de nós", disse John. "Li certa vez, que as vezes é necessário nascer de novo. Então eu entendo com isso que um novo nascimento significa ser uma nova pessoa".

Elara gostou do que ouvia, e a conversa fluiu de maneira natural e significativa. De certa forma não respondeu o que ela queria saber, mas ainda assim ela estava satisfeita. Ciente que já havia conversado com John por mais de uma hora e vendo certo olhares estranhos, ela se desculpou com John dizendo que ia ao banheiro.

Quando a festa finalmente chegou ao fim, ela voltou para sua mansão, agora parecendo maior e mais fria do que nunca. No entanto, uma centelha de esperança começou a acender no seu coração, alimentada pelas palavras e pela presença de um homem que parecia trazer uma luz diferente para sua vida. John era um mistério e as suas palavras igualmente misteriosas, o que mais era descobriria sobre ele?

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