Capítulo 75 - A Decisão de Gazmir

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O silêncio, antes belo e magnifico, agora era opressor. Os olhares ansiosos do grupo se concentravam em Gazmir, que estava no centro daquele dilema angustiante. Os seus amigos, libertados por um instante, observavam-no com apreensão, desejando fervorosamente que ele fizesse a escolha certa.

Gazmir estava parado diante de Zalazar, a sua mente dividida entre a tentação e a desconfiança. Ele olhava para o ser, com a sua forma agora quase humana, que deveria ser belo, mais era apenas uma sombra do que ele havia visto, como o grande príncipe.

A estátua alada, permanecia imóvel, os seus olhos fixos em Gazmir, como se soubesse que tinha o controle da situação. O sorriso suave que curvava os seus lábios, não diminuía a sensação de perigo iminente, como se estivesse apenas esperando o momento certo para revelar a sua verdadeira aparência.

A proposta dele era uma sedução irresistível. Gazmir sentia à vontade de se fortalecer, de se tornar mais poderoso. Zalazar reconhecia o seu potencial, e Gazmir sentia uma certa admiração por esse ser que via algo especial nele.

Olhando-o profundamente, Zalazar continuava com as suas palavras, o seu olhar carregado de promessas tentadoras.

"Gazmir, você tem potencial ilimitado. Poder, riqueza, mulheres, a imortalidade... tudo pode ser seu. Basta dar um passo em direção ao meu lado. Sinta o poder fluindo através de você, o mundo a seus pés. Imagine tudo o que você poderia realizar." – Disse o ser e Gazmir sabia que se aceitasse isso realmente seria possível.

Ainda hesitando, a sensação de tentação o envolveu e um sentimento de força e poder fluiu de dentro dele.

"Tudo isso é incrível, mas... por que destruir a Floresta da Vida e da Morte? E o que você quer com John?" – Mesmo se sentindo mais poderoso, Gazmir, não abandonava a sua curiosidade e cautela.

Zalazar sorriu, sua voz suave e persuasiva.

"Gazmir, a Floresta é uma criação do Criador, um equilíbrio falso que ele impôs sobre este mundo. Ela precisa ser desfeita para restaurar a verdadeira ordem. Quanto a John, ele possui algo que me interessa, algo que ele não entregará facilmente. Mas você pode convencê-lo, não é mesmo?"

Gazmir sentiu-se dividido. A tentação continuava a puxá-lo, as palavras de Zalazar ecoando na sua mente. Ele estava prestes a aceitar quando algo o fez recuar.

"Espera, Zalazar. O que você quer de John?"

Rindo baixinho, como se soubesse que estava prestes a conseguir o que queria, Zalazar respondeu: "Gazmir, John guarda um segredo, um conhecimento antigo e poderoso. Se ele compartilhar isso comigo, poderemos tomar o controle deste mundo, e você será o meu braço direito, o governante de Evros."

Pensando por um momento, a tentação agora quase irresistível. Ele sabia o quanto poderia fazer pelo seu povo com tal poder. Finalmente, ele decidiu ceder, mas não sem antes fazer uma última pergunta.

"Está bem, Zalazar. Mas antes de fechamos esse acordo, diga-me como você obterá esse poder de John?"

"Quando eu tiver a cabeça dele, então terei o poder que quero" – Foi a resposta de Zalazar.

Isso ligou um alerta vermelho na cabeça de Gazmir. Ele não se importava muito do porquê Zalazar queria destruir a Floresta da Vida e da Morte. Mas por que ele pediria a cabeça de John? Essa pergunta ecoava na sua mente, lutando contra a tentação que Zalazar representava.

Enquanto ele ponderava, as palavras do velho sacerdote ecoaram na sua mente. Ele deveria lembrar do que realmente importava. Respirando fundo, ele afastou-se do fascínio de Zalazar e buscou em suas memórias a sua determinação.

John não era apenas o filho do seu melhor amigo Orgest e de Doreen, mas também era como um filho para ele. Gazmir o criara desde que John era apenas um bebê, um pequeno e frágil recém-nascido.

Ele lembrou-se dos primeiros dias, quando John mal conseguia abrir os olhos, das noites sem dormir e dos esforços para cuidar de uma criança tão pequena. Mas, com o tempo, John tornou-se um jovem impressionante, e Gazmir estava incrivelmente orgulhoso de tudo o que ele havia se tornado.

Foi por John que Gazmir largou tudo. Ao proteger aquela jovem criação, o destino se voltou contra ele. Ele havia enviado a sua esposa e os dois filhos para esconderijos fora de Valen, mas os homens do maldito Beneris Janger, encontraram primeiro a sua esposa. Ela foi levada de volta para Valen e queimada viva em praça pública. As suas últimas palavras que Sylas lhe contou foi para ele se manter firme e cuidar de John e dos filhos deles.

Os seus filhos, duas crianças, uma de sete e outra de nove anos, foram encontradas logo depois e o seu destino foi ainda mais terrível. Elas morreram sendo comidas vivas durante dias por milhares de vermes.

Se não fosse Agolli, seu amigo e aliado, que ajudara a criar John desde o início, ele teria provavelmente desistido de tudo, incluindo a própria vida. Ele foi um bom soldado, mas um terrível marido e pai, por permitir que eles morressem dessa forma. Gazmir sentiu o peso da culpa nos seus ombros, sabendo que a sua fuga com John havia levado a essas terríveis consequências.

Enquanto refletia sobre as suas responsabilidades e lealdade, Gazmir sentiu a pressão das palavras de Zalazar ainda pairando sobre ele. Mas a imagem de John, crescido e responsável, e as lembranças de todos os momentos que compartilharam, deram a certeza da decisão que ele deveria tomar.

A lembrança mais forte, a que realmente o fez tomar a sua decisão, foi o amor que sentia por John. Ele havia-o criado desde que era um bebê frágil. Havia passado noites sem dormir, cuidando do pequeno príncipe. Agolli e ele compartilharam a responsabilidade de criar John, passando por inúmeras dificuldades e desafios juntos. E agora, Zalazar pedia que ele traísse tudo isso, que entregasse a cabeça de John.

Gazmir não conseguia conceber tal traição. Ele amava John como um filho, e apesar de tudo o que havia acontecido, John era a esperança que o mantivera são nesses anos turbulentos. Ele lembrava-se dos sorrisos de John, das suas travessuras e do jovem que ele se tornara, e tudo isso o impedia de seguir o caminho sombrio proposto por Zalazar. Não podia fazer isso com John, não podia traí-lo dessa maneira.

As palavras ousadas de Gazmir ressoaram sobre a silenciosa montanha, ecoando com uma determinação que cortava o ar. O seu olhar encontrou-se com o de Zalazar, desafiador e firme:

"Jamais trairei os meus amigos."

Os demais, ainda incapazes de falar, observavam a cena, com os olhos repletos de emoção e respeito pela coragem de Gazmir. Era como se a bravura dele tivesse solidificado ainda mais a confiança que tinham nele.

No entanto, o semblante de Zalazar, que havia se humanizado durante a conversa, retomou sua forma grotesca original. Gazmir agora podia discernir os detalhes sinistros; o corpo da criatura lembrava o de uma serpente, com quatro braços e quatro olhos, e uma cauda equipada com um ferrão afiado, semelhante ao de um escorpião.

A voz de Zalazar voltou a ressoar num idioma arcano e sombrio, causando um intenso sangramento nos ouvidos de Gazmir. O medo intensificou-se quando ele começou a puxar freneticamente os seus aliados, tentando arrastá-los para longe da estátua, numa corrida desesperada para escapar.

No entanto, antes que pudessem se libertar, a terra tremeu violentamente. O céu acima deles se metamorfoseou em um teto de caverna, e as pedras e escombros começaram a desabar com uma urgência assustadora, preenchendo o ambiente com uma nuvem de poeira e tumulto. Gazmir e os seus amigos foram envolvidos pelo caos, enquanto o teto se desmoronava implacavelmente sobre eles.

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Nota do Autor:

Faltou uma revisão nesse capitulo previa nesse capitulo, mas esses últimos capítulos foram mentalmente desgastantes e o próximo será ainda mais complicado.

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