Para esse eu usei coisasdojapao.com.br e a Wikipédia em inglês sobre os eventos da 2 Grande Guerra. Lá tem mês a mês. O Tufão Cobra, ou Tufão Halsey atingiu em 17 de dezembro de 1944 as tropas americanas no Pacífico e matou 790 pessoas, afundando 3 destróier, danificando 9 navios e derrubando dezenas de aviões. E um fato, tufão é quando acontece no Pacífico e Índico e furacão é quando acontece no Atlântico. Pra você guardar. Pega o mapa mundi e olha a África. Ela fica bem no que seria o meio do mundo, né? Do lado da África pra cá faz furacão, da África pra lá é tufão. Basicamente tufão e furacão são a mesma coisa. O nome muda só por causa da região.
Dezembro chegou e, com ele, o calor da moléstia. Sam está mais barriguda do que nunca. A senhora Yha está pra ter seu bebê. Às vezes, eu até me esqueço de que ela está grávida, tambem. Ela não parece ter um bebê em sua barriga. Ela não se comporta como uma mulher que seja mamãe de um bebezinho. Na verdade, ela parece ter raiva. E ela fica olhando para a minha gravidez com uma cara estranha. Eu não gosto. Pode fazer mal para meu bebê.
Não, a gravidez dela não durou dez meses. Ela durou vinte, né? Acho que o bebê não quer sair pra ver essa mãe. Né? Tá encalacrada lá dentro. Pra você ver como essa criança não quer nascer. Sam tá quase parindo e a senhora Yha ainda tá grávida. Até meu bebê está chutando com alegria já avisando que vai jogar futebol, lá no Corinthians junto com os pobres e sofredores que pediram pra morrer de desgosto. E ela ainda está grávida!
Mamma está feliz com o Natal chegando porque é a época do nascimento de Jesus, mas otou-san não se importa com isso porque no Japão não tem isso. O Natal é coisa de católicos. No Japão, há poucos católicos, pelo que meu pai diz. Lá, a maioria é xintoísta ou budista. Na verdade, até mistura um pouco dos dois. Mas o Natal é só mamma que gosta e eu aprendi a amar também.
Na fazenda, só os católicos vão comemorar. E mamma sempre fez questão de que a família comemorasse. Não sei se Nop vai fazer Jim fazer algo no Natal, mas Chin não se importa com Natal. Sam também não se importa. Acho que sou a única que se importa, depois de mamma.
Hoje, Sam está com desejo de comer doce. O que vai ser bom pra mim porque eu vou poder comer doce também. Nos últimos meses, nós sempre comemos frutas, doces, bolo, café, leite... Tudo mais, sempre juntas. Sam faz questão que eu coma e alimente meu bebê com o melhor que ela também come. Então, estou indo na cozinha pegar os alimentos do dia.
— Jim, hoje vai precisar de doce de abóbora e de leite. Tem? — Pergunto toda alegre e ela me olha chorando. — O que aconteceu?
— Eu estou grávida. — Ela sorri e chora junto.
— A família vai aumentar, né? — Fico tão feliz.
— Sim. Vou pegar o doce. Vai ser bolo, como sempre, e alguma fruta? — Ela ainda parece meio sem saber o que fazer.
— Sim. E eu vou pegar uma fruta pra você também. — Olho pra ver se a senhora Yha está por aqui, mas ela não está ainda.
— Não precisa. — Ela fala bem rápido.
— Não começa com isso. Eu vou levar sempre que for em casa, tá? Deixo na porta da sua casa e você come, né? — Sou taxativa.
— Tudo bem, obrigada, Mon. — Ela sorri e me entrega as coisas.
Sorrio para ela e volto para o quarto da Sam. A senhora Yha está deitada na sala e finge que não me vê. As filhas do senhor Hamada vão chegar hoje. E sei que elas vão ficar na delas. Espero que fiquem, mesmo. Tee, agora, se formou e vai passar mais tempo aqui. Kade vai voltar para a escola só em fevereiro para seu último ano.
Ouvi o senhor Hamada dizendo que vai arrumar um noivo japonês pra Tee. Mas não sei se ele vai conseguir porque a guerra está cada dia mais pesada. E a verdade é que nenhum japonês que está no Brasil quer muito contato com a família Hamada. A única opção dele seria arrumar um noivo para ela no Japão. Lá, acho que ninguém vai saber que o filho dele está lutando contra o Japão. Ele faz questão que os filhos só se casem com japoneses. Então, não restou opções.
Entro no quarto e Sam está sentada olhando a foto das irmãs dela. Eu sei que ela sente muito a falta do Japão. Se eu pudesse, se tivesse como, daria um jeito de ajudar ela a ir ver a família dela no Japão. Ela não fala comigo sobre como se sente. O japonês não costuma muito a se abrir. Tanto que mamma é mais aberta que otou-san. Os brasileiros são diferentes. São mais abertos, também. E Sam é muito de guardar para ela o que sente. Eu também sou um pouco assim. Mas ela é mais. Muito mais. Tanto que eu só sei o que ela sente se ela me fala.
— Trouxe o café, Ume. — Coloco a bandeja em cima da cômoda e entrego o café com leite e o bolo pra ela.
— Tinha doce? — Ela me olha calma como sempre, mas sei que ela está cheia de vontade.
— Sim. — Balanço a cabeça.
— Quero só o doce, Sakuranbo. — Ela não aceita o bolo e o café com leite.
— Aqui. — Entrego o doce pra ela.
— Jim é maravilhosa. — Ela sorri quando coloca o doce de leite na boca.
— Ela está grávida também. — Sorrio.
— A família só aumenta, né? — Ela sorri mais ainda.
— Sim, Ume. — Concordo.
— Leve frutas pra ela e a faça comer mais no almoço e janta. — Ela come mais um pouco de doce.
— Eu já disse que vou levar uma fruta para ela todos os dias quando for em casa. Vou deixar na porta. — Eu sorrio porque sabia que Sam se importaria.
— Leve. No café da tarde, vamos guardar fruta pra ela. — Ela concorda e come mais doce. — Você quer doce, Sakuranbo?
— Não, pode comer. — Nego porque sei que o bebezinho está querendo doce e o meu não quer agora.
— Vem aqui. Vou te dar um pouco. — Ela oferece o doce pra mim e eu como porque quero doce, sim.
Nunca comi doce feito aqui na fazenda. Mamma faz pouco doce. Só quando dá. E quase nunca dá. A mãe do Chin também não é de fazer. Só sei que quando toco a colher na boca, sinto o doce tocar minha língua. Parece que eu vou flutuar de tão gostoso. Doce de leite é a melhor coisa do mundo! Meu bebê está tão feliz que até chuta.
— Está muito bom. — Fico feliz. — Jim tem mãos de fada, né?
— Ela faz comidas como ninguém. — Sam sorri e eu começo a comer meu bolo com café.
Estamos sorrindo quando escutamos um grito alto. Levantamos rápido e vamos para fora do quarto. Chegamos na sala e vemos a senhora Yha com a mão na barriga. Ela está com uma cara de dor e já até imagino o motivo. O bebê!
— Chamem Hamada, avisem que chegou a hora. — Ela fala parecendo estar mais irritada do que feliz que o bebê vai nascer. — E chamem a parteira.
— Vai lá. Eu vou ajudá-la. — Sam me fala com a calma de sempre. Ela nunca sente desespero?
— Sim. — Saio correndo e vou até o escritório do senhor Hamada que fica lá embaixo, na sede da fazenda.
— Hamada-san, o bebê. — Falo após fazer a reverência.
— Sim, chame a parteira. — Ele se levanta com mais calma do que Sam. Acho que porque ele já teve três filhos.
— Sim, senhor. — Saio correndo após fazer a reverência.
Saio correndo atrás da senhora que trabalha fazendo os doces da fazenda. Ainda continuam fazendo os doces porque eles duram um tempo nas compotas e o senhor Hamada disse que logo vão ser vendidos porque a guerra vai acabar. Eu não sei se vai terminar logo, mas espero que sim.
Chamo a senhora e ela vem comigo com tanta calma quanto todos. Acho que puxei mais pra minha mãe do que para meu pai porque eu fico estressada demais. Japonês é sempre calmo e sereno. Até imagino como vou estar no meu parto. Acho que vou ficar maluca de todos os modos.
Entramos na sala e a senhora vai com a senhora Yha para o quarto. Mhee vai ajudar com as coisas e eu vou com Sam para fora porque ela diz para a gente ir juntas para fora. A senhora Yha não quer nós duas ali. Aquele é um momento dela.
Bem nessa hora o carro com as filhas do senhor Hamada chega. Elas passam por nós como se não nos visse, correndo para dentro. Eu agradeço de que elas se esqueceram que eu existo. Nunca pensei que esse dia chegaria.
— Elas vão ficar felizes com a chegada do bebê. — Fico pensando que sim porque é mais um membro para a família.
— Só elas podem dizer se sim ou não, Sakuranbo. — Sam sorri de leve.
— Eu ficaria, Ume. — Suspiro.
— Você é uma flor preciosa. — Ela continua a sorrir e toca a barriga com a mão direita. — Ele está agitado. Parece até que está dançando.
— Ele sabe que a família está em festa. — Eu sorrio e sinto meu bebê mexer também. — O meu também está agitado.
— Eles dançam juntos, né? Vão ser como o céu e o sol, sempre unidos. — Ela sorri para mim e eu também sorrio.
— Sim, Ume. — Nos sentamos debaixo da jabuticabeira e as maritacas cantam felizes.
— Queria comer jabuticaba. — Ela suspira e pega o livro.
— Também queria, mas passou a época, né? — Também suspiro.
— Foi bom quando tinha e a gente chupava aqui embaixo. — Ela sorri, abre o livro e pega um papel dentro.
— A melhor fruta é a panhada do pé. — Me lembro de como foi o pé cheio e nós duas panhando e chupando.
— Sim. Leia esse pedaço pra mim. — Ela me entrega o livro e aponta.
— Desde... O... Início... Todos... Os... Seres... São... Buda... Como... Água e Gelo... Sem água... Não... Há... Gelo... Fora... De nós... Não... Há... Buda... — Leio.
— Isso, Sakuranbo! — Ela sorri para mim.
— Esse é qual? — Fico curiosa.
— Esse é Hakuin Ekaku, um budista muito importante. Ele mudou o budismo. — Ela dobra o papel e coloca dentro do livro.
— Você é budista? — Continuo curiosa.
— Sou mais budista, mas minha família agora é mais xintoista. O que me faz ser também. — Ela fecha o livro.
— Mamma é mais católica e otou-san é xintoista. Agora, eu sou mais xintoista igual a você. — Entendo o que ela falou.
— Mas qual você segue aí na sua alma? — Ela me olha.
— Não sei. Eu sempre segui os dois. — Não sei mesmo.
— Você vai ensinar o cristianismo para o bebê? — Ela continua a me olhar.
— Não sei... Você acha que eu devo? — Olho para ela.
— Se eu puder, vou criar nossos filhos e deixar eles escolherem, mas minha alma vai querer que eles sigam o budismo. — Ela sorri.
— Espero que eles saibam escolher porque eu não sei. — Fico meio assim.
— Você não se importa se eles escolherem a minha religião? — Ela continua a me olhar.
— Não... Eu sei que sua escolha de religião deve ser boa também. — Sou sincera.
— Você é como a borboleta que pousou na flor. Tão gentil, Sakuranbo. — Ela sorri com carinho e eu também sorrio para ela.
— Você é mais que eu, Ume. — Seguro a mão dela de leve.
Retiro minha mão para ninguém perceber. Ficamos mais um tempo embaixo da jabuticabeira estudando. Depois, vamos para dentro tomar banho e comer algo. Parece que a senhora Yha ainda não teve o bebê. Senhor Hamada está sentado no sofá e está tranquilo. Lê um panfleto.
Depois de tomar banho, vou buscar a comida e aproveito para pegar mais frutas. Agora, as frutas são para Sam, Jim e eu. Nós somos três grávidas. Se alguém desconfiar do tanto de frutas, Sam vai fingir que está tendo desejos de mais frutas.
Levo as coisas para o quarto e passamos a tarde juntas. Ela pratica mais o português e eu pratico mais a leitura. Acho que logo estarei lendo bem. Sam disse que vai me ensinar a escrever em japonês. Eu acho aquilo muito difícil de aprender. Ela não ensinou ainda porque eu precisaria dos materiais e a senhora Yha ficaria estranhando eu estar aprendendo a escrever. Ler é mais difícil de ela saber.
As horas passam e acho que o bebê ainda não nasceu. Será que vai demorar tanto assim, o meu parto? Já é a hora da janta. Sam está jantando na mesa e eu estou com a Jim. Logo após terminar de jantar, eu vou para casa fazer a janta de Chin e arrumar a casa. Mas agora estamos esperando.
— O bebê já nasceu. — Sam aparece na cozinha.
— Que bom! — Eu fico feliz.
— Nasceu com saúde? — Jim pergunta.
— Sim. É uma menina. — Sam sorri.
Nós três nos olhamos. Jim e eu trocamos aquele olhar que só nós duas sabemos o que significa. Não vamos falar para Sam sobre que a gente sabe que a senhora Yha queria muito um menino para herdar a herança. Ainda mais se o senhor Kirk morrer na guerra. E que ela torcia para ele morrer logo. Bate na boca, Mon!
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Illicit Affairs (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)
FanfictionApenas mais uma fic Monsam com nome de música da Taylor Swift. Mas essa aqui é de um caso ilícito. Aqui tem menção á história de verdade. Quem quiser aprender um pouco sobre cultura japonesa, história do Brasil, Japão e da 2 Grane Guerra, esteja à v...