Olha, eu uso algumas coisas históricas nessa fic. Não é nada pessoal. Apenas uso o pano de fundo de coisas que aconteceram para ser como se elas existissem.
Os tempos estão cada vez mais tenebrosos, essa é a verdade. A guerra começou para nós, que somos brasileiros. Os japoneses estão em polvorosa, pois muitos japoneses resolveram vir para o Brasi e o Brasil está lutando contra o Japão ou contra aliados do Japão, que é o mesmo.
O clima nessa fazenda nunca foi tão ruim. O professor não foi o único a cortar contato com a família Hamada, após o herdeiro estar lutando contra o Japão. A grande maioria dos japoneses não querem mais comprar os produtos da fazenda. Há um boicote geral.
O dia de hoje foi bem ruim. E quando eu fui dar minha primeira aula para a senhorita Samanun, ela apenas quis ficar lendo um livro. Ela não quis receber aula nenhuma. Disse que sentia muita dor de cabeça e me pediu para ficar sentada com ela embaixo da jabuticabeira. O que foi bem estranho, pois eu nunca pude ficar ali em toda a minha vida nessa fazenda.
Ficamos sentadas lado a lado. Ela ficava lendo e quieta. Eu ficava olhando a fazenda. Ouvi os bichos fazendo barulho. Olhei o céu. Estava bem azul. Tinham umas nuvens branquinhas. Nem me lembro quando eu tinha visto o céu pela última vez. Até que chegou a hora do jantar e eu tive que servir a mesa como de costume.
Cheguei em casa e meu pai havia recebido um panfleto dos Shindo Renmei sobre como os traidores da pátria deveriam ser... Qual seria a palavra? Cortados do convívio. E era óbvio que eles sabem que o senhor Kirk foi para a guerra. Não adianta nem o senhor Hamada dizer que ele foi deserdado, pois a esposa do senhor Kirk mora aqui. Então, é uma situação complicada e difícil.
Meu pai está pensando seriamente em deixar esse emprego e procurar trabalho em outra fazenda. Só não fez ainda, só porque o senhor Hamada o contratou e deu o sustento para nossa família em todos esses anos. Ele tem certa gratidão e respeito.
A verdade é que a grande maioria dos japoneses, em terras brasileiras, não sabem falar o português totalmente correto e só trabalham onde houve uma abertura para eles trabalharem. E isso é tão difícil e complicado.
Muitos se informam pelos panfletos dos Shindo Renmei. Eles nos avisam sobre a guerra, sobre o que o Japão anda fazendo, sobre os japoneses que chegam ao país. Essa é a melhor forma de ter notícias japonesas. E meu pai é um dos que recebem notícias através deles, mesmo sabendo falar o português, até um certo ponto, e poder se informar pelo rádio ou jornal. Só que não temos dinheiro para jornal, muito menos para rádio. Então, só há os panfletos.
Além disso... Os japoneses não confiam nas notícias brasileiras, pois acreditam que estão sendo manipulados contra sua nação. Todos sabem que o Brasil está em guerra contra o Japão e que pode, deve, mentir sobre a nação japonesa para que o ódio contra o Japão ao cresça.
Os japoneses acreditam que nunca desistirão, nem que perderão. Eles entraram na guerra para vencer. Sabemos que o Eixo está muito bem. Pelo menos, é o que os Shindo Renmei divulgam todos os dias. E eu acho que pode ser verdade. Se não fosse, não pediriam ajuda para o Brasil lutar na guerra. Precisam de toda a ajuda possível. Quer dizer que estão perdendo feio.
A parte boa do meu dia foi lady Samanun estar pertinho de mim. Eu pude ficar olhando para ela de perto. Ela ficava lendo o livro em japonês com uma graça e encanto que eu jamais havia visto em nenhuma mulher ou garota daqui.
Aqui, somos todas camponesas, mulheres de fazenda. Mas lady Samanun é uma mulher de outro nível. Ela é especial e delicada. Então, eu olhava para ela sem acreditar... Mas não olhava muito pra ela não se assustar, pensando que eu sou uma maluca. A gente não deve ficar olhando tanto os senhores da casa. E ela deve pensar que uma mulher gostar de outra é algo nojento. E eu sei que deveria pensar isso também, mas eu sinto outra coisa.
Eu estou deitada na minha cama simples e estou abraçada ao meu travesseiro feito de palha. Imagino como ela deve estar se sentindo sozinha naquele quarto grande. Aquela casa é tão grande... Ela veio pra cá há tão pouco tempo. Está sem família, o marido foi para a guerra. O coraçãozinho dela deve estar perdido. É um país diferente.
Eu me sentiria totalmente perdida se estivesse aqui sem minha família. Ainda mais que sou tão apegada à minha mãe. Eu conseguiria viver sem meu pai, mas não conseguiria viver sem minha mãe me chamando de bambina e sem as comidas que ela faz. Mãe é tudo na nossa vida. E lady Samanun está sem a dela. Se bem que a nova família dela, agora, é a família que ela deve considerar a família dela pelo costume japonês. Só que eu acho isso triste.
Melhor eu parar de pensar em lady Samanun e fechar os olhos para dormir um pouco. Acordarei bem cedo, amanhã. Só sei que vai ser mais fácil de se trabalhar agora que eu trabalho só de manhã.
À tarde, tentarei ensinar algumas coisas para lady Samanun... Às vezes, eu chamo ela de lady aqui, mas o correto é chamar ela de senhora. Ela é minha senhora e eu devo respeito a ela. Ela pode me chamar de Mon, mas eu não posso chamar ela de Sam.
Fecho os olhos e vejo a imagem nítida dela sentada no pano em cima da terra debaixo da jabuticabeira. O livro japonês de capa preta em sua mão. Eu não sei ler, só meu pai. Nunca tive livros e ele só ensinou meu irmão, pois só o homem deve ler.
Ver uma mulher lendo é algo tão incrível. Queria saber ler também. Eu sei falar o japonês, mas não sei ler. Só meu pai lê os panfletos dos Shindo Renmei. Ele lê e fala. Meu irmão também lê. Entende? Só minha mãe e eu que não lemos. Ela também não sabe ler. Nem italiano ela sabe ler.
Enfim, melhor eu dormir... Espero sonhar que beijei aqueles lábios outra vez. Que eu sonhe, por favor! Espero muito, meu Deus! Vou até rezar como mamma reza. Vai que Deus ouve, né? Vai que eu consigo, né? Porque eu quero muito. Pelo menos, nos sonhos, a gente se ama.
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Illicit Affairs (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)
FanficApenas mais uma fic Monsam com nome de música da Taylor Swift. Mas essa aqui é de um caso ilícito. Aqui tem menção á história de verdade. Quem quiser aprender um pouco sobre cultura japonesa, história do Brasil, Japão e da 2 Grane Guerra, esteja à v...