お宮参り

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    Hoje, é o dia que Taiyō está fazendo um mês. Essa é outra data importante e é como um aniversário. Esse é o omiyamairi. O que seria isso? Se lembra que eu disse que o santuário entrega o certificado do bebê? Pois é nesse dia que o templo entrega esse certificado.
    No templo, se faz um kanji na testa do bebê. O kanji para os meninos é 大, que é o dai e significa grande. As meninas recebem o kanji 小, que é o sho e significa pequeno. Os pais desenham o kanji dos meninos desejando que eles cresçam grandes e fortes e o das meninas para que cresçam delicadas e modestas. É algo muito importante para a vida de um japonês passar por isso.
    Mas o que seria mesmo o omiyamairi? É mais ou menos como o batizado cristão. Explico dessa forma porque mamma sempre fala do batizado, mas meu pai não deixou fazer e ela teve que obedecer.
     Só que esse batizado japonês é quando o bebê é apresentado aos deuses e à toda a sociedade pelo sacerdote. Os meninos fazem a cerimônia trinta e um dias após o nascimento e as meninas trinta e dois. É a primeira vez que o bebê vai ao santuário. E isso é uma data muito importante.
    Então, quem tem condições, compra um kimono bem bonito para o bebê. Tem dois tipos de kimonos para bebês. Abaixo, se usa o shirohabutae, que é um tecido interno branco. O kakegi é usado sobre o bebê e amarrado atrás do porta-bebê. O porta-bebê é onde as mães amarram o bebê e ele fica preso ao corpo dela. Então, o kakegi fica em cima disso. A tradição diz que a avó paterna deve usar isso e levar o bebê amarrado. Mas, como não tem a avó paterna, Sam vai levar o bebê. A senhora Yha que não levaria.
    Os pais e os avós do bebê o levam para o santuário para agradecer aos deuses o nascimento do bebê. Então, o sacerdote faz orações da religião para que o bebê tenha saúde e felicidade em sua vida. Depois que o sacerdote faz as orações pelo bebê, ele balança o tamagushi, que é uma oferenda aos deuses, feita de um  galho da árvore sakaki e decorado com tiras de papel washi, seda ou algodão. O tamagushi é usado também nos casamentos e funerais, além de outras cerimônias feitas nos santuários. Ele é algo muito importante, pois sempre devemos fazer as oferendas aos deuses nessas ocasiões.
    Para a apresentação do bebê aos deuses, somente os avós paternos podem ir ao santuário, mas os pais podem ir também. Os avós paternos ficam muito felizes com a data porque, no Japão, os avós tratam os netos como a menina dos olhos. A coisa mais importante para os avós são seus netinhos. Até mesmo otou-san ficará animado com os netos que vai ter. Sei que ficará como o senhor Hamada está.
     Pelo que eu sei, durante a cerimônia, o sacerdote diz o nome do bebê, o nome dos pais, o endereço da família e a data do aniversário do bebê. Depois, os pais e os avós vão até o altar, se curvam e colocam tamagushis sobre ele. Então, é entregue o saquê em um copo de madeira vermelha a cada pessoa e pequenos presentes são dados à família. O presente para o bebê tem uma pedra e pauzinhos para quando chegar o okuizome, a data da primeira papinha. Ela é muito importante.
    Sam queria fazer o hatsu mairi, que é a apresentação do bebê para Buda, mas vai fazer o omiyamairi, segundo as tradições xintoístas. Sam é mais budista e não xintoísta. Isso deixa ela triste. Ela gostaria de apresentar o filho para o Buda. É como mamma que não me apresentou para Jesus.
    No Japão, as duas religiões são importantes em pé de igualdade, pelo que Sam me ensinou. E algumas coisas os japoneses fazem, mesmo não seguindo a religião que seguem, por ser uma tradição. Por exemplo, há tradições do budismo que é algo do Japão e é tão importante quanto as tradições xintoístas. E alguns budistas fazem as tradições xintoístas. O xintoísmo é uma religião japonesa, o budismo não é. Ele foi para o Japão depois. E o xintoísmo é diferente porque ele é algo espiritual, sem ter livros como a Bíblia católica, nem código moral ou dogmas. Xinto quer dizer caminho dos deuses. Só os deuses importam e não livros.
    Eu fico um pouco triste por não poder ir ao omiyamairi do meu filho porque meu outro filho está para chegar. Eu não estou em condições de ir ao templo em São Paulo. E sei que senhor Hamada não me deixaria ir de qualquer forma. Isso é algo que ele quer fazer com o neto. Algo da família deles. Eu não faço parte da família deles. Eu sou só a empregada da casa.
    E uma coisa que me deixa triste é que não vou poder fazer o Omiyamairi para meu filho que vai nascer. Nós não temos condições de ir ao templo, nem condições de pagar ao sacerdote para vir aqui porque para o omiyamairi é preciso pagar uma taxa chamada hatsuhoryo. Mas penso que os deuses entendem. Eu creio que ele devem entender...
    E eu estou tentando convencer Chin a aceitar que nosso bebê se chame Sora, que é céu. O céu é algo auspicioso e os tempos atuais precisam de nomes auspiciosos. Ele quer colocar o nome do avô dele, Hiroto, que quer dizer bom voo e tem o mesmo kanji de Taiyō. Não é assim que funciona, Chin! O mesmo Kanji para meus dois filhos? Nem se fossem gêmeos!
    Vou tentar perturbar ele até ele aceitar o nome que Sam e eu escolhemos. Ele já escolheu o sobrenome, né? Que é o dele e eu teria que colocar de qualquer forma. Mas vamos fingir que ele colocou o sobrenome e isso vale. Então, eu escolhi o nome. Vamos dividir, né? Seria legal ser assim. Mas não é assim que acontece.
    Foi sorte Sam ter conseguido convencer o senhor Hamada. Espero conseguir o mesmo, pois tenho pouco tempo para isso. Não posso ter dois filhos com o mesmo kanji. Isso não seria auspicioso para nenhum dos dois. Eles precisam de sua individualidade no mundo.
     Sam foi logo cedo com o bebê para São Paulo. A senhora Yha e a bebê também foram. Senhor Hamada quis a família toda reunida e até disse que iria buscar Kade no internato. Tee também foi. Só eu que não fui. Mas meu coração estava lá com meu menino no dia dele. Essa é uma data importante para ele e todo meu amor está com ele.
    Agora, estou em casa deitada na cama. Meu bebê está feliz, eu sinto isso. Sam tem certeza que vai ser um menino. Por isso, nós escolhemos Sora. Mas não me importo se vier uma menininha. Eu amaria ter uma menininha pra amar e cuidar.
    Sei que a tradição diz que ter o homem é mais importante, mas eu queria uma menininha. Se ela vier, vai chamar Ame, que quer dizer chuva. A chuva é boa e molha as plantas, enche os rios. Sem ela, nós não seríamos nada porque não teríamos água. Acho a chuva algo auspicioso. Acho a chuva algo bonito e gostoso. É maravilhoso tomar banho de chuva num dia quente de verão.
    Chin está lá na cozinha ou sala. Não sei dizer onde ele está. Ele tem saído muito, ultimamente. Acho que está com outra mulher. Fico muito feliz. Isso é ótimo. Deixei ele namorar em paz. Não querendo me namorar já está ótimo. Até porque eu já tenho minha namorada. Ele tem o direito de ter uma também.
    Nada para fazer, começo a me lembrar dos últimos meses. Não tem sido fácil trabalhar aqui na fazenda. Não recebemos nossos salários e a maioria dos empregados foram embora. Só sobraram poucos. E todos estão aqui pela gratidão.
    Chin sempre diz que meu pai está irritado. E ele não é o único. Os panfletos dizem cada vez mais sobre o Japão estar vencendo, mas as notícias do rádio dizem o contrário. Chin diz que não sabe em quem acreditar. E é difícil saber, mesmo. Não sabemos o que está acontecendo no Japão e não temos contato com parentes.
    Sam escreveu uma carta para a irmã porque eu convenci ela a mandar. Mas ela unca recebeu resposta. Isso deixa ela aflita e preocupada. Todos os dias, vejo ela com a foto das irmãs. Eu sei que ela faz preces por elas todos os dias. Sei que ela se importa com a família dela.
    E, por falar na família dela, Sam já me disse como é a família dela lá no Japão. Eles vivem com os funcionários mais próximos, vivendo em casas próximas. São todos uma família e trabalham todos unidos.
    No início, eu não entendi muito bem como era isso de ser uma família só. Eu passei a entender o porquê porque ela explicou. Ela disse que, se fosse dona de tudo, ela faria todos os funcionários serem parte da família. Mas, no caso, os funcionários mais próximos. Porque precisa haver um laço de confiança e fidelidade.
    Eu fico pensando que seria bom viver algo assim. Um lugar onde os patrões e os empregados são vistos como família. Todos se cuidam e trabalham juntos. Mas havendo a hierarquia do poder. Um chefe para mandar em tudo. Seria o pai de tudo. No Japão, é o pai da Sam. Aqui, era para ser o senhor Hamada. Mas ele não faz sermos assim. Ele não se importa com a gente. Anda dando cada vez menos comida para nós como pagamento, mas o trabalho permanece sempre o mesmo tanto. Isso não é ser família.
    Eu nunca reclamo. Nem Chin reclama. Mas nós sabemos que, se continuar assim, por muito tempo, as coisas não vão ficar fáceis em nossa casa. Não agora que temos uma criança para criar. Jim e Nop parecem sentir o mesmo. Pois, uma coisa é você trabalhar sem receber e ser só você para alimentar, mas tudo muda quando temos nossos filhos para criar.
    Só que é aquela coisa... Não podemos ir embora por causa da gratidão. E ainda temos esperança de que tudo vai se resolver, as coisas vão melhorar. O senhor Hamada não é um homem ruim. As coisas só não estão fáceis para ele. Ainda mais depois que o filho foi lutar na guerra. Os japoneses estão irritados com ele.
    E uma coisa me chamou a atenção após a morte do senhor Kirk. O senhor Hamada está diferente. Ouve o rádio mais do que nunca. Outros japoneses não ouvem a rádio. Eles se informam pelos panfletos como otou-san. Chin disse que muitos não querem ouvir o que os brasileiros dizem nos rádios. Mas o rádio do senhor Hamada diz que a Alemanha está para cair em definitivo. Ela vem perdendo muito dos países que tinha conquistado. Até pensei que ela tinha pedido, mas não perdeu ainda.
    Os japoneses não ligam se a Alemanha perder. Eles só não acreditam que o Japão vai perder. E pensam que o Brasil está mentindo sobre as notícias porque lutam contra o Japão. Eles não querem se informar sobre a guerra pelo rádio. E acho que se souberem que o senhor Hamada está ouvindo, vão odiar mais ele. Chin e meu bpai vão embora na hora.
    Otou-san e Nonno brigaram outra vez nos últimos dias. Tiveram até que separar os dois. Mamma veio me ver mais cedo e parece estar muito triste. Perguntei o que estava acontecendo e ela disse que nada estava acontecendo. Mas Chin me contou que meu pai brigou com meu avô e precisaram separar.
    Os ânimos estão explodindo aqui nesse lugar. Todos trabalham muito e recebem pouco. A guerra está nos consumindo de todas as formas e de todos os lados possíveis. Nossas famílias são de origens diferentes e de países diferentes, mas somos família. Deveríamos ser. Não ficar brigando.
    Espero que tudo isso acabe logo porque vai ser difícil criar um bebê num clima desse. Não existe nome auspicioso que vai ajudar. A tristeza que a guerra causa nos corrói e nos consome. Nenhum bebê deveria nascer ou crescer num clima desse. A verdade é que nenhum bebê deveria nascer no meio de uma guerra.


Para esse eu usei en.wikipedia.org e japanessme.com. E eu falo ali que algumas tradições são feitas por quem não é da religião porque eu percebi isso nas minhas pesquisas. Algumas tradições importantes são do xintoísmo e algumas do budismo e todos fazem. E eu li que hoje em dia o japonês costuma fazer coisas das duas religiões e da católica também. Tipo, fazem o batizado budista, fazem o casamento numa igreja católica e ficam noivos como manda a religião xintoísta. Coisas assim. Esse aqui foi um capítulo sobre como está as coisas na fazenda. Vai ser importante para depois. É um capítulo de ligação.

Illicit Affairs (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora