Eu pesquisei em várias fontes, várias mesmo, para fazer isso aqui. Pesquisei yuino ceremony. Umas dez daquelas matérias que aparecerem eu entrei. Fora as de sites brasileiros. Em cada lugar fala de uma forma, mas eu reuni alguns fatos sobre o noivado japonês como era antigamente. Hoje em dia, não é tão assim. Diz-se que apenas 30% dos japoneses ainda seguem a tradição do encontro com as famílias e as festas de trocas de presentes. Se tiver errado alguma coisa, desculpe. O consenso é de que o yuino é o noivado e a troca de presentes entre as famílias. E eu falo sobre o Omiai porque não posso deixar de fora. E o Omiai ainda é feito, mas não dá 10% dos japoneses.
Saio da casa dos senhores, pensando sobre o yuino. Fico pensando sobre como a Sam está lá no quarto dela com toda a calma porque ela gosta do senhor Kirk. Mas eu gosto dela. Não quero fazer isso. Meu coração está doendo. As lágrimas querem escorrer pelos meus olhos. E eu nem posso chorar porque a vida é assim. A gente se casa, né?
O que seria o yuino? Você deve estar querendo saber, né? Vou contar o que o meu pai me ensinou. Ele sempre dizia, Mon, quando você crescer, vai ter o seu yuino. Otou—san vai escolher um noivo para você e a família do noivo vai dar presentes. Nossa família vai dar presentes preciosos para o seu casamento, também. Você será a flor mais bela de todas.
Yuino significa conectar e contribuir. Explicando bem, seria como conectar coração à coração ou família à família. O que eu acho bem bonito. Mas eu queria que meu noivado fosse com a Sam. Não me sinto a flor mais bela. Me sinto a flor ressecada e murcha que vai cair da árvore e cair no chão, feia, saca, morta.
Vou te contar como surgiu o yuino, enquanto caminho até minha casa. Eu te juro, melhor falar e pensar sobre tradições japonesas do que pensar que vou fazer parte da celebração de uma tradição que nem gostaria de celebrar.
A tradição era de que um amigo das duas famílias fizesse a troca de presentes e ajudasse no arranjo do casamento. Porque os casamentos eram arranjados. E ainda são, eu sei. Mas falando de onde surgiu a tradição, é que o amigo ajudava a arranjar o casamento e a fazer a troca dos presentes. Hoje, as famílias podem se reunir sem um representante e trocarem os presentes na cerimônia do yuino, elas mesmas.
Mas também tem o omiai, que eu tive com o Chin naquele dia. As famílias fazem os candidatos se encontrarem e se conhecerem para ver se há a união. Omiai significa algo como encontrar para ver. Você encontra a pessoa e vê se gosta. Se gostou, já pode casar.
É como eu disse... Foi o que o Chin fez comigo naquele dia. Me viu, gostou, já vamos nos casar. Mas, no Japão, o omiai costuma ser feito em uma espécie de agência de encontros. As famílias vão ver quais são os candidatos e escolhem um. As mães dos noivos são quem costumam fazer isso. Aí combinam tudo e os dois se encontram. Se os dois se gostarem, já se casam dias ou meses depois. Depende da pressa do noivo. O Chin tá muito apressado, credo! Nem sou tudo isso para homem ficar louco por mim.
Vou continuar a explicar o yuino, que ganho bem mais do que me lembrar disso. O costume japonês é de fazer várias festas para as trocas de presentes no yuino, mas somos pessoas de origem humilde e não temos como fazer tantas festas. Então, será uma só. E o costume é de que o yuino seja em uns três meses antes do casamento, o que me deixa tranquila por saber que ainda vou ter uns meses de liberdade, mesmo que já seja noiva e esteja com a corda no pescoço.
O que se ganha de presente no yuino? Dinheiro, que é colocado no envelope shugi—bukuro para o casamento. Esse envelope especial é amarrado com fios de ouro e prata difíceis de abrir. Enquanto isso, os outros presentes são colocados em envelopes feitos de papel de arroz ornamentado.
Também se dá a vestimenta masculina usada como calça para o noivo, chamada hakama, e ela representa a fidelidade que haverá no casamento. Ainda tem a concha de molusco, chamada naganoshi, que representa longevidade. Tem o tomo shiraga, que é a corda de cânhamo, representando que o casal vai envelhecer juntos. Tem a alga marinha kombu, que representa a criança ou gravidez saudável.
São muitos presentes né? Mas continua... Tem a comida seca feita de lula ou choco chamada surume, que representa um casamento longo. Tem um leque chamado suehiro, que representa o futuro feliz. Sem contar, os flocos de peixe seco desidratado e defumado chamado katsuo—bushi.
E, ufa, por último o yanagi—daru que é o dinheiro para comprar o saquê ou o próprio saquê. Explicando para não haver dúvidas... Saquê, os noivos bebem no casamento como símbolo dos votos matrimoniais. Mas o yanagi—daru significa doçura. Expliquei tudo, eu acho que sim... Espero que sim.
Jim e eu crescemos sonhando e imaginando como seria o nosso casamento. Era divertido, quando a gente era crianças, a forma em que sonhávamos sobre todos os presentes e sobre como a gente imaginava que teríamos um noivo bonito e perfeito, assim como mandava a tradição. Mas eu tive um noivo feio. Ela teve o Nop e o Nop não é de se jogar fora. Acho que ela teve mais sorte.
Chego em casa e tiro a roupa que Sam me deu, colocando uma minha. Não quero noivar com uma roupa dada pela pessoa que eu gosto de verdade. Não seria fiel ao meu amor, se fizesse isso. Não sei, é como se eu deixasse meus sentimentos em meu quarto e fosse com um falso sentimento para fora dele. No meu quarto, o meu amor está protegido e ninguém pode tirar de mim. Mas fora dele, eu pareço sentir o que todos querem de mim.
Minha família e eu, ficamos na cozinha e deixamos Chin e sua família dentro da sala. Porque a tradição manda que a família do noivo cuide dos presentes. É só a família do noivo que cuida da organização de todos os presentes dados pela família da noiva e do noivo. E a família da noiva entra depois que tudo está pronto.
Então, esperamos, assim como o combinado. Ficamos todos em silêncio. Mamma está na expectativa, mas meu pai está sério, assim como Nop. Os homens são sempre mais sérios. E eu estou séria também. Meu pai gosta que eu seja sempre séria e obediente, ainda mais nessa cerimônia em que a noiva tem que ser formosa como mandam os costumes.
Assim que eles chamam, nós entramos na sala. A família Shinkai nos recebe bem felizes. Eles sorriem para mim, ao fazerem a reverência, e eu retribuo a reverência, mas não sorrio para eles. Até minha mãe, que não é de fazer reverência, faz para a família e o noivo. Até mesmo ela sabe que é importante. Porque é respeitoso e meu pai já explicou isso para ela.
Os presentes são vistos por todos nós. Como moramos no Brasil e não somos de famílias bem de vida, fizemos nossas representações com o que temos condições. É aquela coisa... É simples, mas é feito com o coração do Brasil.
O noivo me dá alimentos como batata e chuchu de presente. Retribuo com alimentos. Ganhamos uma pequena quantia de dinheiro para o casamento. Eu ganho um leque velho. É simples, mas é bonito.
Penso que Sam e senhor Kirk devem ter feito toda a tradição, assim como diz os costumes e formas japonesas. Mas não é porque não estamos seguindo certinho o que a tradição manda, que meu noivado vai ser menos noivado. Eu estou presa a esse homem e não tem como escapar, mesmo se tentar. Porque pra onde vou, mesmo se tentar?
Mas, enfim... Há a tradição de dar o anel de noivado para a noiva. Chin me dá um anel simples que imagino que ele deva ter guardado muito dinheiro pra comprar. As esposas costumam guardar os anéis e não usar no dedo. Sam não usa o dela, por isso. Assim como eu não vou usar depois de casar. A mulher que está noiva deve usar o anel sempre, a casada costuma usar apenas em ocasiões especiais.
Nos despedimos da família e Chin sai, parecendo estar bem feliz, depois de falar com meu pai por um tempo. Dou graças a Deus, como mamma costuma dar porque quero ir embora logo. Estou louca para voltar para perto de Sam. Voltar a vestir minha roupa e sentir meu amor no meu peito.
— Mon, já está combinado. Você se casa em duas semanas. — Meu pai fala e tudo dentro de mim congela porque eu não esperava por isso.
— Sim, otou—san. Mas a tradição não é três meses? — Pergunto com a cabeça baixa.
— Chin vai ter condições de te manter melhor que eu. Filhas grandes devem se casar logo. — Ele diz como se o assunto estivesse encerrado e eu me calo.
Mas, pensando comigo, me dá a impressão que meu pai está me casando com o Chin o mais rápido possível para se livrar das despesas que eu dou. Mas eu não dou despesas.
Vou para o meu quarto e pego a roupa que Sam me deu. Abraço ela, como se falasse que isso é tudo o que eu tenho. Depois, tento me vestir. Mas não sei colocar ela direito, ainda. Além disso, me atrapalho toda porque estou nervosa demais.
Eu não quero me casar com aquele homem. Ele é feio. Só tem uma pessoa que eu aceitaria me casar. Se ela me pedisse, nem que fosse um pedido bobo e feio, eu aceitaria. Eu aceitaria tudo. Porque ela é linda e meu coração é dela.
Nossa, eu daria tudo para me casar com ela! Seria tão lindo, o nosso noivado. Juro, queria viver em um mundo diferente deste, onde eu pudesse me casar com quem eu gosto de verdade e ela gostasse de mim também. Eu queria viver num mundo onde Sam gostasse de mim e não fosse casada com outra pessoa. Fosse só minha.
Fecho os olhos e imagino a cena do meu yuino com ela. Eu estaria tão feliz! Os nossos presentes seriam preciosos, mesmo que fosse só uma batata velha e murcha. Porque batata velha costuma brotar. Então , a gente plantaria a batata e nasceria a plantinha do nosso amor. Não me chame de brega! Eu sou uma moça com sentimentos. Gostaria de ter minha batata velha brotando cheia de amor porque seria minha e dela. Só nossa. Nossa plantinha linda.
Suspiro comigo mesma pensando que sou uma moça apaixonada por uma mulher casada. E bem no dia do meu noivado oficial, eu penso em uma mulher. Percebo que eu não posso pensar em Sam. Não é legal fazer isso com o homem que acabou de me entregar o anel. Que espécie de noiva eu sou? Desrespeitando o anel do meu noivo dessa forma?
Agora, estou pensando aqui comigo que eu vou me casar em tão poucos dias. Eu vou ter que beijar aquele homem e sentir ele me tocar. Eu me sinto com nojo, mas não deveria. Eu sei que não deveria, mas... Ele vai olhar minhas vergonhas. Eu não vou olhar as vergonhas daquele homem! Devem ser feias! Que nojo!
Não veria nenhum problema se ele fizesse o que mamma disse que homens costumam fazer, que é ir atrás de outras na rua se as mulheres não cuidam bem dos seus maridos. Prefiro que ele vá atrás de várias. Pode até fazer coleção de mulheres! Mas me deixando em paz já está ótimo. Que ele não me toque nunca, nunca mesmo!
Vejo que não consigo colocar a roupa que Sam me deu, do jeito certo. Então, coloco a minha roupa, outra vez, e volto para a casa dos senhores. Entro na casa bem devagar, passo pelas senhoras sentadas na sala e elas nem me olham. Entro no quarto de Sam e me sinto tão feliz por estar aqui. Ela está deitada e a vela está acesa em cima do criado.
— Por que está vestida assim? — Ela me olha com curiosidade.
— Não consegui colocar de novo, né? Estou nervosa. — Coloco a roupa que ela me deu em cima da cama.
— O que aconteceu? — Ela passa a me olhar com atenção.
— Eu vou me casar daqui uns dias. — Fico mais triste quando vejo a forma que ela me olha porque eu esperava que ela ficasse triste.
— Você não quer se casar? — Ela é tão calma que me faz querer gritar.
— Não. — Assumo a verdade porque é ela me perguntando, mas mentiria se fosse outra pessoa.
— Não se preocupe, sakuranbo. Nem tudo dura pra sempre. — Meu Deus, como ela pode ser tão calma?
— Por que diz isso? — Não consigo entender.
— Porque eu vi pessoas morrendo na guerra. Nem tudo dura pra sempre, né? — Ela fala com tanta calma e me arrepio inteira.
— Não sei... — Suspiro, meio assim.
— Vem se deitar. Amanhã vai ser um novo dia, né? — Ela bate a mão na cama ao lado dela para eu deitar.
— Preciso colocar a roupa. — Suspiro de novo.
— Pode vir assim mesmo. — Ela sorri de leve.
— O tecido não é fino, pode incomodar. — Fico meio assim.
— Eu não me importo. Venha. — Ela bate de novo na cama e eu vou.
Ela apaga a luz e fico pensando muitas coisas antes de dormir. Ela está calma porque já está casada e deve gostar do marido. Não consigo estar calma sabendo que vou me casar com quem eu não amo. Que vida infeliz vou ter pelo resto da vida, ao lado daquele homem? Não é justo. Eu queria morrer. Viveria só se ficasse nesse quarto para sempre.=/=
Logo cedo, Sam me ajudou a colocar a roupa que ela me deu. Fiquei feliz porque ela me explicou, outra vez, como colocar a roupa. Ela sempre tem paciência com meus erros. Além disso, gosto de sentir suas mãos leves em cima de mim quando coloca a roupa em volta do meu corpo. Ela me trata como um bebê e eu gosto disso.
E devo dizer que acho que ela gosta quando eu faço ela comer frutas por causa do bebezinho na barriga dela. Ela é o bebê também, né? Sinto como se fosse meu bebê, também.
Nós estudamos juntas todos os dias e eu sempre elogio quando ela acerta as coisas. Ela já está falando mais o português que o japonês quando conversamos. Mas ainda costuma mistura os dois quando vai falar. Às vezes, fala só o japonês. Mas está tudo bem.
Eu sempre elogio quando ela fala frases inteiras em português, mesmo que as frases só tenham duas palavras. Ea parece ficar bem feliz com o elogio. Assim como eu fico feliz quando ela me elogia quando leio as palavras certas. Eu já aprendi algumas decorado. Já estou lendo.
Pensando aqui... Nunca falei sobre como é o almoço e a janta entre nós duas, né? Ela come na mesa dos senhores porque não tem como ela ficar comendo tudo no quarto e eu como na cozinha com a Jim.
Hoje, eu aproveitei e dei uma coxa de galinha para a Jim comer. As empregadas não comem mistura, só arroz e feijão. Mas Sam já deixou a ordem que eu vou comer mistura, mesmo que coma na cozinha. Isso deixou a senhora Yha muito irritada, mas Sam não ligou. Jim não quis aceitar a coxa de galinha, mas eu fiz ela comer, enquanto vigiava se a senhora Yha ou as irmãs apareciam. E elas não apareceram porque estavam comendo. Ainda bem!
Mhee estava esperando para limpar a mesa. Fiquei com dó dela porque eu sei como é ficar ali parada vendo eles comendo comidas gostosas e a gente não podendo comer. Ainda vou dar algo pra ela comer também. Nem que seja pra ela matar a vontade. Porque a gente sente vontade de comer também. Somos pessoas.
As pessoas costumam dizer que uma mulher com vontade de comer alguma coisa é porque está grávida. Né? Mas isso é errado porque o homem pode sentir vontade de comer alguma coisa e a mulher, não.
Bom... O dia corre tão rápido que, quando Sam está deitada na cama para dormir e eu me deito também, só consigo pensar que esse foi um dia a menos de liberdade que eu tenho. O que me deixa muito triste. Então, só espero, enquanto espero ela apagar as velas porque eu vou dormir e acordar em menos mais um dia para meu casamento. Mas ela não apaga as velas, o que me faz estranhar.
— Mon... — Escuto a voz dela e me viro para trás.
— Oi? — Olho para ela e ela está deitada de frente para mim.
Eu olho para ela e ela olha para mim. Vejo seus olhos grandes que são tão pequenos. Como pode a pessoa ter olhos grandes e pequenos, né? Como explicar isso, né? Como pode, né? Né? Né? Mas Sam tem.
— Você vai se casar, né? — Ela fica me olhando com esses olhões e meu coração começa a disparar. Será que ela consegue ouvir?
— Sim. — Suspiro.
— E... — Ela pisca de uma forma...
Fico olhando para os olhos dela. Tão grandes e pequenos, né? Piscam tanto. O que está acontecendo com ela? Ela lambe os lábios e deixa eles molhados, o que me faz olhar para eles. Lábios bonitos. Não, não posso pensar isso! Agora sou eu que estou piscando muito. Socorro!
— Você já... Sabe beijar para casar? — Ela fala bem rápido e eu fico sem entender.
— Não entendi. Se eu beijei? — Olho para ela e ela para de piscar, me olha no fundo dos olhos e respira fundo.
— Você já beijou? — Ela fala com mais calma.
— Não. — Eu assumo porque não tem pra que dizer que já beijei.
— Eu posso te ensinar, se você quiser. Assim você casa já sabendo. — Ela continua calma e eu sinto que caiu uma pedra enorme na minha cabeça.Eu até poderia fazer uma fic sobre chinesas e mostrar um pouco a cultura da China que é super hiper interessante só que eu sou traumatizada. Juro, ano passado eu estava tão feliz estudando as religiões da China. Eu postei no twitter sobre que estava estudando o budismo tibetano e o que tinha aprendido. Juro, ninguém tinha curtido. Aí do nada... DO NADA horas depois eu vejo que um monge famoso de conta de longo alcance veio lacrar em cima de mim em vez de falar que eu poderia estudar em outras fontes melhores e me passar as fontes.E na minha bio e no nome tá que eu sou autista. Se o monge que é monge faz isso, imagino os chineses. As pessoas amam dar lacrada e tirar print pra humilhar os outros em outras redes ou até no próprio Twitter. As vezes a pessoa que levou a lacrada só não sabia que estava errado. Não machuca explicar. Até porque eu escrevi que estava estudando. Eu queria aprender sobre eles e não ficar rindo deles na internet como o monge quis rir de mim.
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Illicit Affairs (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)
FanfictionApenas mais uma fic Monsam com nome de música da Taylor Swift. Mas essa aqui é de um caso ilícito. Aqui tem menção á história de verdade. Quem quiser aprender um pouco sobre cultura japonesa, história do Brasil, Japão e da 2 Grane Guerra, esteja à v...