Capítulo 8

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Depois de uma semana inteira estudando e fazendo provas e mais provas, se eu visse mais uma questão de múltipla escolha na minha frente, era capaz de matar alguém.

E eu não estou brincando, acredite.

A coisa estava tão feia, que nas questões finais dos exames eu já estava embolando tudo, não sabia nem mais o que era o que, quem era quem e quase apelei para o "mamãe mandou".

E para piorar ainda mais a situação, se é que era possível, como a cafeteria ficava perto do campus, a semana toda foi super agitada, toda hora haviam dezenas de estudantes e professores estressados sedentos de cafeína para se manterem acordados estudando. Mal tive tempo de falar com a Tami naqueles dias, o que foi bem chato.

Na segunda feira seguinte à nossa conversa na lanchonete, eu senti que o clima ainda estava um pouco pesado devido ao que foi dito. Como eu não queria piorar as coisas, evitei tocar no assunto e apenas falar de coisas banais, pelo menos até a poeira baixar, e deu para perceber que ela se sentiu mais a vontade assim, por isso, aproveitei a oportunidade para dar um novo passo.

— Me empresta seu celular? — Eu pedi um pouco antes dela ir embora.

— Claro. Aqui. — Me estendeu o aparelho que estava em cima da mesa. — Quer ligar para alguém?

—Não. Na verdade, vou colocar meu número aqui.

— Seu número? — Ela ergueu a sobrancelha.

— É. Assim quando você quiser pode falar comigo, qualquer dia, qualquer hora, sobre qualquer coisa, quando quiser. Tudo bem para você?

— Tudo bem.

Eu não precisava dizer o motivo de estar fazendo aquilo, ela sabia. Mas apesar disso, não queria pressioná-la a se sentir a vontade comigo, por isso resolvi apenas colocar meu número lá, quando ela quisesse ou se sentisse pronta, eu a estaria esperando.

Fora esse acontecimento, os outros dias passaram bem normais, de dia trabalho, de tarde provas, de noite sessões de estudo. Esse foi o resumo daquela semana.

Já estávamos no fim da semana novamente, e como estava livre das malditas provas, podia descansar um pouco a mente e clarear as ideias.

E com clarear a mente eu quero dizer: ficar jogado no meu sofá em pleno sábado a noite, assistindo alguma comédia romântica sem graça, o cúmulo da falta do que fazer. Eu já havia parado de prestar atenção no filme há algum tempo, estava viajando enquanto apenas olhava para a tela, não sei porquê. Mas em meio a esses devaneios me peguei pensando em como a minha vida havia mudado nos últimos tempos.

Lembrei que apenas seis meses antes eu ainda estava na cidadezinha morando com meus pais, levando uma vida pacata e sem muitas surpresas. Brincava e me estressava com minha irmã caçula e com meu cachorro Bob, passava um tempo com antigos amigos, sentava com a minha mãe para tomar chá, e sabe, era uma boa vida, tenho que admitir.

Me lembrava como se fosse ontem o dia em que recebi a carta dizendo que havia sido aceito na universidade, foi uma felicidade só, mal consegui me conter de tanta alegria. Mas havia um pequeno porém, eu não havia contado para meus pais que me inscrevi para uma bolsa, e nem que teria que me mudar para outro estado. Como então eu daria essa notícia para eles?

Meu pai sempre quis que eu seguisse a carreira militar como ele. Seu avô havia lutado na guerra, seu pai e seus tios também, ele mesmo se transformou em militar condecorado, e queria que seus filhos também se tornassem. Coisa que o meu irmão mais velho baba ovo, Trenton, havia conseguido. Ele se formou com honras e foi servir em outro país, levando consigo o grande orgulho que meu pai sentia por ele, orgulho esse que ele esperava dar para mim também, mas que infelizmente foi ralo a baixo quando durante um jantar falei que havia sido aceito em uma universidade em New York para cursar administração.

Um livro, Um café e Um sorriso [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora