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📄ANY GABRIELLY

Como eu suspeitava, Noah estava passando por alguma situação difícil, então isso explicava o porquê de ele beber tanto. Eu quis perguntar, mas ao mesmo tempo não queria ser inconveniente. Ele mal me conhecia e mesmo que mostrar um desenho meu tenha sido muita coisa, ele não fazia ideia do que significava para mim, portanto não me devia a biografia de sua vida.

Depois que ele voltou para o seu apartamento eu respirei fundo como se tivesse passado aquela conversa com ele segurando o meu fôlego. Fiz muitas coisas que jamais poderia fazer caso Robert estivesse em casa e de certo modo isso me fez sentir culpada. Mais culpa eu sentiria por saber que teria que esconder a minha interação com o vizinho. Só de pensar no que aconteceria caso o meu marido soubesse que eu mostrei um dos meus desenhos sentia um arrepio de medo pelo corpo.

Não podia negar a mim mesma que gostei de conversar com alguém diferente e ouvir de outra pessoa o quanto eu era talentosa. O jeito como o Noah me elogiou não era nada parecido com o que eu ouvi até hoje. Ele estava sendo sincero e parecia genuinamente maravilhado com o que eu era capaz de fazer. Isso me fez sentir bem e segura de mim mesma mais do que estive em muito tempo. Apesar disso, isso não deveria ficar em minha cabeça e eu não deveria me atrever a conversar com ele de novo.

Mais uma noite chegou e eu esperei o meu marido chegar para recebê-lo como recebia todos os dias. Novamente ele entrou falando sobre o trabalho e novamente perguntou se eu desenhei alguma coisa. Imediatamente eu lhe mostrei o desenho porque estava ansiosa para ver o que ele diria, talvez eu pudesse ter um comparativo sobre se os seus elogios eram mesmo sinceros.

— Lindo! — falou apenas com um sorriso no rosto e largando o caderno no sofá posteriormente. — Ligue a TV no canal de esportes, eu vou tomar um banho e assistir ao jogo antes do jantar. Tire as cervejas do congelador.

Assenti positivamente e depois de sua ida ao banheiro eu peguei o meu caderno de volta e me senti frustrada. Bom, ao menos ele se esforçava para me dar um pouco de atenção e isso significava amor, certo?

Fiz o que ele disse e depois fui para a cozinha guardar o jantar para mais tarde. Robert retornou e sentou no sofá no instante em que eu me aproximei e lhe entreguei uma garrafa de cerveja. Enquanto ele estava entretido, eu resolvi desenhar mais alguma coisa. Não havia muitas pessoas passando na rua naquele momento, provavelmente estavam todos em casa jantando com suas famílias. Apoiada na grade da varanda, olhei para o apartamento ao lado com as luzes acesas e as cortinas abertas. Noah estava ajeitando o cabelo no espelho da sala.

Ele usava uma jaqueta jeans e uma camisa branca por dentro. Em seu pescoço, um cordão dourado fino que combinava com os anéis dos dedos. Uma mecha de cabelo caía na frente de sua testa enquanto ele arrumava os outros fios úmidos. Seu semblante estava sério e concentrado, de um jeito um pouco sombrio que o deixava com uma impressão mais forte e decidida, totalmente diferente daquele homem bêbado e de aparência descuidada que conversou comigo mais cedo.

Noah pegou o seu celular e digitou alguma coisa. Seu rosto manteve-se sério e eu não pude deixar de acompanhar o movimento de seus dedos ao passearem pelo seu queixo bem abaixo do lábio. Não havia sombra de dúvidas de que ele era um homem muito bonito. Sem que eu pudesse controlar, relaxei minhas mãos na grade para observar melhor e soltei um suspiro involuntário. Não me lembro qual foi a última vez que eu reagi assim ao olhar para alguém, mas naquele momento tudo o que eu queria era olhar mais.

Abri uma página em branco do meu caderno e desenhei o esboço no formato do rosto dele. Era apenas um busto com cabelos lisos despojados e com aquela mecha caída sobre o rosto. Não dei forma aos seus olhos, não desenhei os seus lábios ou qualquer sombra natural que fizesse aquilo se parecer logo de cara com ele. Só eu sabia, só eu poderia reconhecer.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora