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📄ANY GABRIELLY

Mais uma vez aquilo estava acontecendo. A cena era recorrente, golpes em meu rosto me deixavam atordoada enquanto eu tentava me afastar e fugir. Ficou tudo mais difícil quando as mãos dele vieram para o meu pescoço. Eu estava ficando cada vez mais sem ar, até que a minha noção de espaço se foi.

Acordei me sobressaltando, ofegando alto em desespero, sem me lembrar no primeiro momento de que tudo aquilo foi um pesadelo.

— Calma, calma... — a voz acalentadora de Noah chegou aos meus ouvidos. — Eu estou aqui, você está segura. — abraçou-me.

Aconcheguei-me em seus braços e fechei os olhos enquanto ele me ninava. Aos poucos, minha respiração foi voltando ao normal e eu me acalmei.

— O mesmo pesadelo de novo? — ele perguntou.

— Sim.

— Tem certeza que não quer repensar sobre a terapia?

Nós tivemos aquela conversa quando os pesadelos começaram há uma semana. A ideia ainda não era muito aceita por mim. Como um psicólogo iria me fazer parar de sonhar com o meu marido me espancando? E se eu abrisse toda a minha vida para um estranho e no final nada mudasse? Eu preferia deixar nas mãos do tempo.

— Vamos cuidar do processo primeiro, por favor. — falei.

Ele respirou fundo e soltou um suspiro.

— Tudo bem. — concordou.

Tanto eu quanto o Robert nos apresentamos para a justiça separadamente. Como nenhum de nós concordou em desistir das acusações, a única maneira era marcar um julgamento e deixar que a versão mais convincente vencesse.

A primeira sessão aconteceria naquele dia e eu estava torcendo para que fosse a última.

A noite foi difícil, mas dormir abraçada com o Noah melhorava as coisas. De manhã nós fomos até o tribunal e antes de tudo começar eu tive uma conversa com a Savannah, que me deixou bem tranquila com a sua enorme confiança. Do outro lado da sala estava o Robert e ele me encarou com muita seriedade antes de se acomodar em seu lugar.

A primeira testemunha foi o médico legista que examinou nós dois. O testemunho dele me favoreceu, já que ele provou que eu estava muito mais machucada do que o Robert e que apesar de as marcas em meu rosto não serem compatíveis com as mãos dele, os chutes em minhas costelas batiam com as botas que ele usava naquela noite.

— Uma legítima defesa não deveria ser o mesmo que um espancamento. — Savannah começou a discursar. — Como policial, Robert sabe que a agressão deve parar quando o meliante está controlado. Any teve um nariz e uma costela quebrados, além de dezenas de hematomas e luxações em seu corpo. Que homem com o treinamento que o Robert tem ficaria vulnerável depois de machucar tanto uma mulher menor e mais fraca do que ele? Não faz o menor sentido que ele tenha agido com legítima defesa quando saiu com menos sequelas do que a suposta agressora.

Eu fiquei muito satisfeita com aquilo. Nós começamos vencendo e isso era muito bom. Ao voltar para o meu lado, Savannah acenou positivamente para mim e eu fiz o mesmo gesto.

As próximas testemunhas foram funcionários do hospital e alguns dos vizinhos, incluindo a Mel. O que disseram também me favorecia ou simplesmente eram comentários imparciais. Chegou o momento do Noah testemunhar e após o juramento, ele se acomodou para isso.

Savannah foi a primeira a lhe fazer perguntas e ele contou tudo o que sabia e o que lhe contei. Devo dizer que o testemunho dele foi o melhor, pois estava mais por dentro de tudo do que qualquer outra pessoa ali. Quando o advogado de Robert levantou para fazer as perguntas dele, eu não me preocupei. Não havia nada que Noah não pudesse contornar.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora