Epílogo

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📄ANY G. URREA

Paris era exatamente como eu imaginei. De tirar o fôlego. Eu conseguia sentir amor em cada esquina daquelas ruas e apreciava o modo como o lugar parecia ter sido tirado direto de um livro de romance água com açúcar daqueles que vai te arrancar sorrisos sinceros e lágrimas de emoção. Mas a França não conseguiria ser tão boa se eu estivesse ali sozinha. Os momentos compartilhados com o meu marido eram de longe os melhores.

Guardei várias coisas específicas na minha cabeça e no meu coração. O dia em que o vi pela primeira vez, o primeiro rabisco em meu antigo caderno para retratá-lo, a primeira frase que me disse, seu sorriso que até o momento era o meu favorito, o primeiro beijo, a primeira noite e um punhado de primeiras coisas que eu fiz com ele. Nunca imaginei que me faltava tanto e que eu sabia tão pouco sobre o amor antes de conhecer o Noah. E quando esse amor se materializou dentro de mim, eu senti o sentimento se tornar ainda maior do que achei que pudesse ser.

A minha gravidez foi uma fase bastante agradável. Eu me senti bonita em todos os meses, irritada em alguns momentos e eventualmente desconfortável quando o bebê resolvia brincar de apertar a minha bexiga. Fui tanto ao banheiro na última semana de gestação que achei estar com alguma incontinência.

O parto foi difícil como me alertaram que seria e assim que acabou eu fechei os olhos e só quis apagar para recuperar as minhas forças. Entretanto, ao sentir a enfermeira colocar o bebê sobre mim, abri os olhos novamente e foi como se toda a minha energia tivesse voltado. Ali estava a minha maior preciosidade ainda chorando, esticando os bracinhos e tão pequeno que eu tive receio de não estar segurando direito.

— É um menino. — Noah disse para mim, aproximando-se e envolvendo um de seus braços no bebê. — Olá, Gabriel.

Queríamos que o nosso filho tivesse o nome de um anjo, apesar de não sermos pessoas muito religiosas, então escolhemos o que se encaixou nas concordâncias um do outro.

Mais tarde, nossa família e amigos puderam conhecer o bebê por uma chamada de vídeo, já que todos moravam em outros países. Os amigos que fizemos na França nos visitaram e conheceram o Gabriel, estávamos recebendo apoio de todos os lados.

Posso dizer que aquele oficialmente era o melhor momento de nossas vidas e que nada iria ser capaz de superá-lo. Eu via o quanto Noah estava feliz, como fazia questão de sempre segurar o bebê e fazer parte de cada detalhe. Havia dias em que ele se apressava e dava banho no bebê antes que eu pudesse. Quando Gabriel dormia, eu começava a desenhá-lo. Gostava mais disso do que de tirar fotos.

Morávamos em um bairro afastado do centro de Paris, um lugar pacífico onde famílias de classe média alta moravam. Tínhamos uma cerca branca e um parquinho no quintal, a casa era grande, com espaço o suficiente para caber um time de futebol, mas a ideia de colocar esse número de pessoas para fora do meu corpo não era uma cogitação.

O meu trabalho era o melhor. Eu pintava e vendia as obras em uma velocidade absurda e, apesar de não gostar muito de aparecer em eventos, sempre era procurada por pessoas da elite para trabalhos particulares. Tudo estava indo tão bem que parecia um sonho e, de fato, era um sonho. A diferença era que eu estava acordada e tudo era tão real que eu podia tocar sob os meus dedos, cheirar no clima e sentir a felicidade nas vibrações do meu corpo. Era muito bom estar em um lugar que eu amava, fazendo o que amava, com as pessoas que amava.

Noah também se saía muito bem em seu trabalho e até começou a escrever um livro sobre as mudanças da literatura europeia ao longo das décadas. Seu livro seria a base dos estudos universitários de milhares de estudantes. Eu tinha tanto orgulho dele quanto ele tinha de mim.

No dia em que o meu filho estava completando o seu oitavo mês, eu tive que resolver algumas questões na galeria e fiz o que pude para acabar rápido e voltar para casa a tempo de pegá-lo acordado. Infelizmente, ao passar pela porta da frente, vi Noah o ninando em seu peito na poltrona da sala.

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