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📄NOAH URREA

Enquanto Any desenhava naquele papelão, eu folheava o seu caderno com muita atenção, reparando nos detalhes de cada desenho e vendo como todos pareciam ter sido feitos com muito amor e dedicação. Aquele tipo de coisa deveria estar sendo comercializada e era difícil para mim entender os motivos de ela simplesmente ter resumido o seu grande dom a um passa tempo.

Um dos últimos chamou a minha atenção por parecer apenas uma silhueta de um homem. Sem olhos, sem nariz ou boca e qualquer detalhe que fosse no rosto. Esse era diferente e me deixou curioso.

— Any, este está incompleto? — perguntei mostrando o desenho.

— Não. — ela disse após erguer a cabeça e de repente pareceu um pouco tímida. — A intenção era essa.

— Tem alguma história por trás dessa escolha de estilo? Eu adoraria saber. — mostrei interesse.

— Eu só... imaginei. Tentei imaginar um rosto, mas eu trabalho melhor com a memória visual. Achei que assim ficou bom, você não?

— Como eu disse, até se você desenhar um círculo vai ficar bom.

Eu não podia ver o seu sorriso atrás daquela máscara cirúrgica, mas sabia que ele estava ali porque as suas bochechas se ergueram e os seus olhos se apertaram. De repente eu me vi prendendo a minha atenção naquele mar verde que brilhava sob a luz natural do sol. Eram lindos, talvez os olhos mais bonitos que eu já vi.

— Noah? — ela arqueou a sobrancelha olhando para mim.

Pisquei parando de encará-la daquela forma assustadora e até me repreendi mentalmente por ter feito isso. Qual era o meu problema? Eu tinha muito o que aguentar ainda e ficar secando uma mulher casada não estava na minha lista de afazeres.

Peguei o cantil que guardava no bolso interno da jaqueta e dei um gole no uísque puro. Sabia que Any provavelmente estava me olhando com repreensão, então segui com o olhar nos desenhos dela.

— E... acabei! — ela declarou e depois me mostrou o desenho novo que acabara de fazer. — O que acha? Foi meio complicado lidar com a superfície diferente, mas eu adoro essas experiências e acho que fiz o meu melhor.

Era uma senhorinha segurando uma flor e estava tão bom que era impressionante.

— Você é a melhor. — a elogiei. — Já tentou grafite? Seria incrível ver um grafite seu.

— Não, isso eu nunca tentei. — riu. — Ei, você quer ficar com esse desenho também? É um presente, então não precisa me devolver eventualmente.

— Você é uma caixinha de surpresas. Até ontem nem queria me mostrar o seu caderno.

— Eu não conhecia você.

— A gente ainda não se conhece. — enfatizei.

— De fato. Mas eu acho que não preciso saber de toda a sua história de vida para ver que está sendo sincero e que aprecia mesmo a minha arte. Isso me faz querer que você veja o que eu faço.

— Tenho certeza que muitas outras pessoas também iriam apreciar.

Ela soltou um suspiro e desviou o olhar.

— Obrigado por isso, Any. — mudei de assunto porque não queria deixá-la incomodada.

Ela ficou de pé e se aproximou da grade, esticando o braço para que eu alcançasse o papelão. Fui até a grade também e peguei o desenho, sorrindo para ela em seguida depois de ter o desenho comigo.

Meu celular começou a tocar em meu bolso antes que eu iniciasse uma nova conversa. Quando peguei, não reconheci o número, mas atendi mesmo assim.

— Quem é? — eu sempre atendia as minhas ligações de maneira aborrecida porque sabia que deveria ser algum parente intrometido.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora