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📄NOAH URREA

De algum jeito, eu estava me sentindo mais conectado com a Any. Era estranho porque quando a conheci jamais imaginei que eu fosse ter algum contato a mais além de saudações de bom dia desconcertantes e acenos de cabeça por pura educação ao nos esbarrarmos pelo prédio. Mas toda a nossa convivência se tornou um mar de boas surpresas para mim e agora eu estava em meu apartamento jantando com ela depois de termos cozinhado juntos.

Conversamos sobre tudo e todos os assuntos fluíram naturalmente. Ela tinha opiniões e pensamentos muito interessantes sobre as coisas mais aleatórias possíveis e animou-se tanto quanto eu durante as trocas de palavras.

— Às vezes eu imagino que talvez eu seja uma espécie de Van Gogh. — ela foi dizendo. — É claro que eu não estou me comparando à genialidade dele, o meu estilo é totalmente diferente. O que quero dizer é que talvez os meus quadros se tornem caros e famosos depois que eu morrer.

— Não se você investir neles agora. — retruquei. — A época em que o Van Gogh viveu era carente de comunicação se comparada à esta época. Hoje encontramos tantos recursos para se autopromover... Ainda acho que você deveria tentar.

— Você tem que parar de dizer isso. — ela riu de um jeito tímido. — Estou ótima onde eu estou.

— Eu ouço você dizer, mas não parece certo. Quer mesmo passar o resto da sua vida sendo apenas uma dona de casa?

— Não. Eu também serei uma mãe em algum momento. — olhou para cima como se pensasse.

— Seria bom pensar em algo que tenha a ver apenas com você.

— E o meu caderno? Você tem o folheado muito? — pude notar que ela tratou de mudar de assunto.

— Todos os dias. — admiti. — Os seus desenhos são a coisa mais bonita que eu tenho nesse apartamento.

Ela sorriu para mim e soltou um curto suspiro. A maneira como ela sempre me olhava me deixava curioso. No início era o ar de alguém que queria que eu me afastasse, mas agora toda vez que ela me encarava eu sentia que ela queria dizer alguma coisa, talvez emitir um desses sons que as pessoas fazem quando veem algo fofo.

— Eu adoraria que você fizesse mais um desenho. — eu disse ao me levantar.

Fui até a sala, peguei o caderno dela e um lápis, depois retornei para a cozinha e os deixei sobre a mesa. Após pegar uma nova garrafa de cerveja para mim, tornei a sentar no lugar onde estava antes.

— O que tem em mente? — perguntei para ela.

— Vejamos... — ela olhou em volta.

— Só desenha aquilo que vê?

— Na maioria das vezes. — confirmou. — O que mais me chama atenção aqui... — depois de conferir o ambiente em volta, seus olhos pararam em mim. — Eu posso desenhar você? — e lá estava a sua timidez.

Eu quis dizer que ela não precisava ficar sem jeito porque eu sabia que já havia me desenhado antes, mas tive medo de que essa revelação a fizesse sair correndo.

— Isso seria incrível. — falei apenas.

Any abriu uma página em branco e começou a rabiscar um esboço. Ela intercalava o olhar entre mim e o caderno e devo dizer que me senti um pouco tímido por estar sendo analisado daquela forma tão atenciosa, principalmente por saber que a minha imagem estava servindo de base para uma artista.

Apoiei meus braços na mesa e o meu queixo em uma das mãos. A olhei com certa intensidade e vi suas bochechas ficarem vermelhas. Me perguntei se aquele ruborizar surgia com tanta frequência ou se era apenas quando ela olhava para mim.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora