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📄ANY GABRIELLY

Após mais um dia de faxina na casa de Noah, eu passei algum tempo desenhando enquanto conversava com ele. Noah realmente apreciava a minha arte e era ótimo falar sobre isso com ele e lhe mostrar o processo de criação. Ele até me desafiou a recriar a Monalisa com os meus traços, no meu próprio estilo.

— Posso dizer com muita segurança que Da Vinci morreria de inveja. — ele disse após eu lhe mostrar o resultado final.

— Não minta para mim. — dei risada.

— É verdade. Eu prefiro mil vezes você.

Essa frase poderia ter outro significado se fosse colocada em outro contexto. Pensar sobre isso me deixou nervosa e acanhada. Tive que esfregar o meu rosto para me certificar de que mais uma vez eu não estivesse ficando vermelha como uma mulher estúpida que não conseguia ouvir elogios sem ter um excesso de dopamina no cérebro que descia para o rosto e o deixava vermelho como uma maçã. A questão era que não era nada comum para mim ter alguém constantemente me dizendo o quanto eu era boa sem que eu precisasse apelar por atenção.

— Eu já tentei desenhar uma vez. — ele disse abrindo uma página em branco. — Eu sempre fui péssimo.

— Você deve saber alguma coisa.

— Ah, claro... — começou a desenhar. — Vou te deixar impressionada com o meu talento. Talvez você até pense que o meu talento é uma ameaça para o seu. — sua voz era engraçada, um claro tom de piada.

— Tenho certeza que sim. — entrei na brincadeira.

— E o melhor... Eu sou mais rápido que você. — mostrou-me o que havia feito.

Eu ri ao ver um desses bonecos feitos com cinco rabiscos ao lado de uma casa no padrão geométrico que crianças usam. No canto superior estava um sol com dois olhos e um sorriso.

— Você ri porque não é capaz de compreender a profundidade da minha obra. — Noah continuou a fazer piada.

— Sim, é claro. — tentei segurar o riso. — Eu achei rústico.

— As pessoas deveriam pagar por isso. Monalisa? Ultrapassado.

Não aguentei e comecei a rir de novo. Noah riu junto comigo e nossas vozes altas e alegres se misturaram, preenchendo o apartamento e fazendo tudo ao redor parecer mais colorido e mais claro do que realmente era. De repente ele parou de rir e manteve apenas um sorriso no rosto enquanto me observava. Eu parei também e o encarei de volta, curiosa sobre o que ele estava pensando.

— O som da sua risada é tão bonito. — ele disse. — Você deveria rir assim sempre.

— Eu deveria. — concordei. — Mas a minha vida não tem sido muito divertida, Noah.

Automaticamente, ele pousou sua mão sobre a minha.

— Por que não? — perguntou de um jeito cuidadoso.

— Ah, não sei... — desviei o olhar e pensei no que diria por um instante. — Talvez esteja tudo monótono demais. — voltei a olhar para ele. — Eu sinto falta de coisas novas, de sentir adrenalina e de conhecer alguém que me faça flutuar. Sabe a sensação de encantamento dos primeiros encontros? Isso vai embora quando nos casamos e os anos passam.

— Isso não vai embora se o amor não for. É claro que a gente fica menos ansioso, mas isso é bom. Significa que você sente segurança perto da pessoa que escolheu. Mas as borboletas no estômago quando se têm um momento mais íntimo sempre estarão lá se existir amor.

Fiquei em silêncio e refleti sobre aquilo. Se era mesmo verdade significava que eu não amava mais o meu marido e se eu não o amava mais estava presa a uma pessoa desprezível que jamais seria capaz de me dar qualquer coisa que me fizesse querer ficar. Mas eu era obrigada a ficar porque não tinha para onde ir e nem podia imaginar o que ele faria caso eu tentasse ir embora.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora