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📄ANY GABRIELLY

Uma pergunta rondou a minha cabeça depois de eu presenciar o Noah recebendo uma ligação. Quem era a Emma? Sabia que estaria sendo invasiva demais se perguntasse, então me contentei com a minha imaginação fértil. Minha melhor dedução era de que fosse uma ex namorada e que o término desse relacionamento não foi bom. O jeito como ele pareceu tenso enquanto a ouvia e a maneira como ficou abalado após desligar provava que as coisas não foram fáceis. Isso podia explicar um pouco do seu problema com a bebida. Mas talvez o problema com a bebida não tenha sido uma consequência e sim uma razão.

Os dias começaram a se passar e as coisas se normalizaram na medida do possível no meu casamento. Toda a rotina voltou a ser como era antes e a mágoa me abandonou. Comprei um novo caderno e alguns lápis no supermercado e os escondi na área de serviços junto ao desenho que fiz do Noah. Por mais arriscado que fosse, eu me sentiria totalmente morta por dentro se não pudesse ter a minha arte.

Noah esteve mais sumido e eu não o vi mais pelos corredores ou em sua varanda. Suas cortinas se mantiveram fechadas e a única coisa que indicava que ele ainda estava ali eram os motoboy's que eventualmente traziam comida. Também ouvi a Melanie do andar de cima procurá-lo vez ou outra, mas ele nunca abria.

Em uma manhã de sexta enquanto limpava o carpete diante da porta, ouvi uma voz masculina no corredor chamar pelo Noah. Parei com a limpeza e prestei atenção.

— Eu só quero saber se você está bem. — o homem disse. — Noah, se você tivesse atendido as minhas ligações eu não estaria aqui! — fez uma pausa possivelmente aguardando resposta. — Eu terei que chamar os bombeiros? Posso alegar que acho que você morreu aí dentro.

— Vá embora, Bailey! — Noah gritou.

— Então você está vivo. Menos mal. Por que não abre só pra eu olhar no seu rosto e saber se você está saudável?

Mais silêncio.

O homem do outro lado soltou um suspiro que soou como um lamento.

Abri a porta e automaticamente ele olhou para mim. Precisava fazer alguma coisa também porque estava preocupada. Mesmo que Noah fosse alguém que eu mal conhecia, minhas interações com ele foram significativas e eu sentia falta disso.

— Olá. Eu sou a Any. — apresentei-me, oferecendo a minha mão.

— Oi, Any. Eu sou o Bailey. — apertou a minha mão com firmeza. — Você sabe o que está acontecendo? Eu queria ter vindo aqui outras vezes, mas ele sempre me impediu e eu não queria ser uma visita indesejável. Mas agora ele nem me atende e isso me deixou aflito.

Notei que muito provavelmente Bailey não sabia do problema de Noah com a bebida, o que poderia ser uma indicação de que esse comportamento era uma consequência recente das coisas pelas quais ele passou.

— Eu não o vejo há dias. — respondi. — Geralmente ele saía todos os dias para comprar algo e ficava na varanda, mas não o vi sair mais.

— É, ele teve que assinar aqueles papéis, então essa semana não foi fácil. — suspirou.

Papéis?

— Eu posso tentar chamá-lo se você quiser. — ofereci.

— Acha que ele te atenderia?

— Só vamos saber se eu tentar.

— Ok. — deu espaço para que eu fosse até a porta.

Bati algumas vezes antes de falar.

— Noah? É a Any!

— Eu sei que o Bailey ainda está aí! — ele gritou. — Você não tem vergonha, Bailey? Usar a bondade da Any?

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora