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📄ANY GABRIELLY

Voltei para casa o mais depressa que pude. Eu sabia que alguém novo estava morando no apartamento ao lado e torci muito para que fosse uma mulher, mas para o meu desagrado não era. Foi desconfortável dividir o elevador com ele e eu me perguntei constantemente o que o Robert acharia se soubesse que eu troquei aquelas poucas palavras com esse homem estranho. Robert detestava quando eu falava com homens desconhecidos. Talvez eu tivesse que passar mais tempo dentro de casa para não esbarrar com o vizinho por aí.

Concentrei-me nas minhas tarefas da manhã. Queria acabar tudo depressa para poder desenhar na varanda. Meu único passatempo era o desenho e eu ficava ansiosa para aquele momento do dia chegar.

A faxina estava completa e o almoço ficou pronto bem na hora. Eu ficava praticamente sozinha todos os dias e precisava deixar tudo em ordem para quando o meu marido chegasse à noite. Minhas tarefas domésticas eram prioridade, mas pelo menos à tarde eu conseguia relaxar um pouco.

Tomei um banho e vesti um vestido soltinho e refrescante. Fui até a varanda e sentei em uma das cadeiras segurando o meu caderno de desenhos e um lápis grafite. Analisei as pessoas que passavam na rua lá embaixo com o intuito de escolher uma delas para protagonizar o meu próximo desenho. Eu adorava imaginar como seriam suas vidas no processo de criação.

Avistei uma mulher muito elegante saindo da cafeteria da esquina e entrando em um táxi. Imaginei que seu nome poderia ser Diana. Ela deveria ser uma mulher de negócios muito ocupada, com uma etiqueta de classe e roupas escolhidas a dedo. O tipo de mulher que desafiava os homens com o olhar e que daria inveja em qualquer um que não tivesse tanta atitude quanto ela. Eu gostaria de ter mais atitude, mas sabia que não poderia me atrever.

Acabei de desenhá-la e fiquei satisfeita com o resultado. Uma sensação de trabalho cumprido me atingiu e eu apreciei aquilo. Gostava de ver que eu era boa em alguma coisa e sempre quis que as pessoas vissem o que eu sabia fazer. Talvez trabalhar com arte fosse perfeito para mim. Entretanto, trabalhar era mais uma coisa que eu não podia fazer. Robert dizia que sentia ciúmes do meu talento e que não gostava da ideia de outras pessoas olhando os meus desenhos. Eram todos para ele ver e ele dizia que isso era especial por ser só nosso.

Uma movimentação na varanda ao lado chamou a minha atenção. A porta havia sido aberta e por instinto eu levantei e corri para me esconder atrás de uma das minhas plantas. Sentei no chão e espiei por entre as folhas. Noah estava lá e tinha uma garrafa de cerveja na mão. Notei que ele estava com um saco cheio de garrafas vazias mais cedo e agora era pouco mais de onze da manhã e ele já estava bebendo de novo. Talvez estivesse com problemas.

Ele pegou o celular do bolso e depois ligou para alguém. Aguardou um pouco com o celular contra a orelha, mas depois soltou um suspiro derrotado e tornou a guardar o aparelho no bolso. Noah se aproximou da grade e apoiou sua mão ali, observando a rua. Após um grande gole em sua cerveja, eu vi uma lágrima solitária descer por seu rosto, mas rapidamente ele a enxugou e pareceu não querer se permitir chorar. Estava claramente com um problema.

Abri o meu caderno em uma folha em branco e comecei a fazer um esboço do seu rosto. Comecei a imaginar que talvez ele tivesse perdido alguém. Estava de luto? Foi despedido do emprego dos seus sonhos? Terminou uma relação difícil? Pensei em várias possibilidades.

Quantos anos ele deve ter? Quais os seus talentos? Qual é o seu prato favorito? Ele tem uma cor preferida também? Será que gosta de cães ou é do time dos gatos? Ou talvez os dois?

Sorri naturalmente enquanto intercalava o meu olhar entre ele e o desenho. De repente eu me senti curiosa de verdade. Queria poder fazer aquelas perguntas para ele e não apenas dentro da minha cabeça. Fazia tanto tempo que eu não conhecia ninguém novo que nem me lembrava qual era a sensação de se encantar com uma vida diferente da que me rodeava.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora