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📄ANY GABRIELLY

Pensei muito sobre a conversa que eu tive com o Noah. Foi natural contar sobre a minha vida para ele porque ele parecia interessado de verdade e isso me incentivou e me animou a falar. Um misto de confusão tomou o seu rosto quando eu disse que desisti da arte por ter me casado e por um segundo eu cheguei a pensar que esse fato o indignou. Mas ele era um estranho, não sabia os meus motivos e não tinha razões para se sentir indignado por qualquer coisa que eu não tenha feito com a minha própria vida. No final, fui eu mesma quem escolheu seguir assim.

Quando eu estava na academia de artes, era uma das mais brilhantes e recebi uma incrível proposta para trabalhar na França criando obras para uma renomada galeria. Lembro-me de receber o convite e ficar tão feliz até chegar a chorar de emoção. A primeira pessoa para quem eu contei foi o Robert. Nós estávamos namorando na época e eu sabia que mudar para outro país iria exigir uma modificação no nosso relacionamento. No momento em que eu contei, ele revelou que estava prestes a me pedir em casamento e eu ir embora iria colocar esse plano para debaixo do tapete.

Eu o amava demais e nunca havia imaginado uma vida sem ele. Posso admitir que estava dependente daquela relação e recusei Paris para me casar com quem eu acreditava ser o amor da minha vida. Nos casamos em pouco tempo depois disso e no início tudo foi magnífico, mas aí as coisas mudaram gradativamente e quando eu notei já estava presa nas paredes daquele prédio fadada a não usar mais os meus desenhos para nada além de um hobby. Agora eu já não sabia mais se foi a decisão certa, mas me recusava a parar para pensar porque não queria me frustrar sobre coisas que eu já não podia mudar mais.

Robert era o meu marido, ele me sustentava e eu o escolhi. Não podia me arrepender de ter seguido esse caminho porque foi o que eu julguei ser melhor para a minha vida e mesmo que eu quisesse mudar algo, não poderia.

Mas talvez, só talvez, eu pudesse conversar com o meu marido sobre a possibilidade de eu retornar para a galeria de artes. Aquele lugar me deixava feliz e as dinâmicas das aulas despertavam a minha criatividade como nenhuma outra coisa no mundo. Falaria com o Robert sobre aquilo assim que ele voltasse do trabalho naquele dia e não mediria esforços para deixá-lo propenso a me dizer algo positivo.

Fiz o jantar mais caprichado que consegui e mantive a casa um brinco. O piso até reluzia de tão brilhante. Depois de um banho, vesti o meu melhor vestido, usei um pouco de maquiagem e coloquei o meu perfume mais caro. Queria estar bonita e atraente para persuadi-lo a concordar com o que eu desejava.

Assim que Robert abriu a porta, eu corri para pendurar o seu casaco e logo depois entornei seu pescoço com os meus braços e lhe dei um beijo longo e inesperado. Ele segurou a minha cintura e chutou a porta atrás de si para fechá-la sem finalizar o toque dos nossos lábios. Quando nos separamos, eu abri um sorriso e o vi sorrir também.

— Está de muito bom humor hoje? — perguntou.

— É bom reacender o nosso clima romântico às vezes, não acha?

Ele respirou fundo e depois suspirou de um jeito prazeroso.

— Que cheiro incrível! — elogiou.

Senti um calor no meu peito por ele ter notado a minha escolha de perfume.

— Pois é, eu... — fui interrompida por ele.

— O que você cozinhou? — afastou-se indo até a cozinha.

Então o cheiro era o da comida...

Tudo bem, isso não me desanimou. Que Robert elogiasse o que ele quisesse e apreciasse o que preferisse. O importante era chegar ao ponto que eu pretendia.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora