Descobertas

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O resto da semana foi "tranquila". Fui para a escola algumas vezes, mas quando me sentia mal ou a febre aumentava, seguia o conselho de Sam e me afastava. Como isso já persistia há um tempo, decidi procurar a curandeira da reserva, que me consultou e disse que era uma virose local, comum entre os jovens em certas épocas, nada grave, mas também me orientou a me afastar de outras pessoas quando os sintomas estivessem mais fortes.

Cameron continuava sem me dar nenhuma notícia, nem mesmo um SMS, e aquilo me matava por dentro. Ele foi meu único amigo durante toda a minha vida e perdê-lo era muito, muito ruim. Nos conhecemos desde crianças; Quando seu pai foi embora e sua mãe casou novamente, ele sofreu muito. Aos seis anos, quando sua mãe teve um novo filho, Cam foi deixado totalmente de lado, o que o de certa forma o aproximou muito da minha família e  com isso, nos tornamos ainda mais inseparáveis. Costumávamos dizer que quando fossemos para a faculdade, moraríamos juntos e nunca mais teríamos que nos despedir no fim do dia. Era nossa meta.

Não sei ao certo quando percebi que estava apaixonada por ele, mas quando o vi beijando uma garota na frente de todo o ginásio sem ao menos me contar que gostava de alguém, algo em nossa amizade se quebrou. Na verdade, isso terminou de me quebrar, pois o pior de tudo é que isso aconteceu justamente quando soube da doença da minha mãe e estava indo contar pra ele. Eu já estava totalmente sem chão.

Durante o início e até a metade do tratamento da minha mãe, eu o evitava apenas parcialmente. Não era mais a mesma coisa, mas ainda sim trocávamos o básico de informações e cumprimentos. Só então quando ele me contou que pediu Elena oficialmente em namoro, foi que pedi um tempo definitivo em nossa amizade.

Meu foco era cuidar da minha mãe, da Alex, e fazer de tudo pra finalizar o ano letivo. Eu não tinha tempo para sofrer por Cameron… E era simples: ter que ver ele por perto com outra pessoa, me fazia sofrer. De forma prática, tomei essa decisão.

Após a piora do quadro clínico de Elizabeth, agilizei o máximo de matérias na escola para focar 100% nela. Foi assim que consegui aprovação em todas as provas finais, faltando cumprir apenas o restante da carga horária, o que deixei de stand by.

Quando mamãe morreu, não tive sequer a coragem de ligar para Cameron ou avisá-lo de qualquer outra forma. Posso ter sido injusta ou egoísta, mas ter que ver e receber Cameron com sua namorada no funeral era a última coisa que eu precisava naquele momento. Esse foi um daqueles momentos que eu tinha que pensar em mim e na minha irmã, acima de qualquer coisa.

Respirei fundo tentando me recompor, já estava chorando demais pelas lembranças, quando ouvi leves batidas na porta do quarto.

— Querida? — tia Joy falou em um tom baixinho, ela sempre tentava respeitar ao máximo minha privacidade. — Desculpe te atrapalhar, mas você tem visita.

Nem sei explicar o susto que tomei naquele momento, mas meu pensamento foi direto em uma pessoa: Paul Lahote.

Afinal, bastava eu começar a chorar que ele aparecia.

Corri até o banheiro para lavar o rosto e prendi o cabelo em um coque alto. Fui até o espelho e verifiquei se estava bem vestida, pelo menos, visto que a cara estava amassada. Talvez fosse só passar raiva, mas ainda sim, tinha que estar bem apresentável. Chega de mostrar vulnerabilidade. Segui até a sala e encontrei um ser sentado de cabeça baixa, enquanto balançava a perna, nervoso. Para minha surpresa, eu estava errada em minha teoria anterior.

— Jacob?

— Oi, Maya. Desculpe aparecer sem avisar. Você está melhor? — Ele levantou rápido.

— Claro, sem problemas. Sim, a febre vem e vai, os sintomas também, a sensação é que tá ficando mais forte… Mas por agora está tudo bem. Obrigada por perguntar. Posso te ajudar com algo?

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