Minha cabeça estava um verdadeiro turbilhão de sentimentos. Minha vontade era abraça-lo ali mesmo e brigar para que ele nunca mais ficasse tanto tempo assim longe, mas quando o analisei, não consegui. Paul estava muito abatido, como se estivesse passado por mal bocados. Seus olhos continham olheiras e era tristes. De todos os sentimentos, a preocupação se sobressaiu.
— Lahote? O-o que você está fazendo aqui? Quero dizer, quando voltou? Está tudo bem?
Ele me avaliou dos pés a cabeça e soltou um riso baixo, colocando as mãos nos bolsos.
— Olá pra você também, Ateara.
— Desculpe, não quis ser rude. Você está bem? Como está o seu pai? — Engoli a seco as verdadeiras palavras que eu queria dizer ali.
— Eu sei que você está com raiva e se contendo, mas não precisa, está tudo bem e pode falar. — Paul me fitava sério dessa vez, como se estivesse pronto para me ouvir. Não ia perder a oportunidade.
— Você sumiu, Lahote. Bizarramente sumiu. Literalmente de um dia pro outro e, bom, era estranho só ter notícias suas por terceiros. Achei que estivéssemos bem depois daquela conversa, ao menos para você ser capaz de se despedir de mim ou me dar notícias diretamente… — Sabia que meu tom era meio desesperado, mas foi exatamente assim que eu fiquei — Obviamente deixei tudo isso de lado quando soube que era por questões de saúde do seu pai, mas...
— Sinto muito por sumir assim, e por todo o resto também, Ateara.
— T-tudo bem. De qualquer forma, é bom saber que você está de volta. — Respirei fundo tentando controlar a respiração e, automaticamente, minha fala. Sim, vê-lo ali era a realização de um pedido, mas não sei, aquele não parecia o verdadeiro Paul Lahote. Em condições normais, juro que eu até o abraçaria, mas ele parecia tão travado que não quis avançar. — Enfim, você não me respondeu, como está seu pai?
— Olha, Maya, sobre isso… — Ele fez uma pausa para respirar fundo — A verdade é que meu pai nunca esteve doente ou algo do tipo. Eu jamais me afastaria de você por causa dele, na verdade. Era eu quem precisava de um tempo pra cuidar um pouco de mim, da minha mente. Precisei ficar longe de tudo isso um pouco até para não estragar nada. Juro que pensei em te contar, vir até aqui e conversar com você, mas não consegui e não seria bom. Enfim... Foi isso. — Quando Paul finalizou, eu estava completamente boquiaberta. Ele disse como se uma mentira dessa proporção fosse a coisa mais simples do mundo, como uma coisa qualquer, rotineira. Céus, como alguém é capaz de mentir sobre a saúde do próprio pai para benefício de si próprio?
Inacreditável.
— C-como consegue ser tão… — Eram tantas palavras que eu queria usar para xingá-lo agora, mas acho que uma em especial englobaria muito bem todo o resto — ...Egoísta? Você mente pra todo mundo sobre uma situação séria, sobre a saúde do seu próprio pai, só para beneficiar a si mesmo? Por que tá cansado de uma batalha? Eu achei que…
— Que o quê, Ateara? Vai me dar lição de moral agora? — Seu tom já estava alterado. Esse sim parecia o Lahote de verdade e que eu não sentia tanta falta assim.
— Se controle, Lahote. Acho que você não está com moral nenhuma para dar mais um de seus shows agora. Tem noção do quanto ficamos preocupados? Do quanto sua ausência pesou no bando?
— Não seja hipócrita, Ateara. Sabe, eu também achei que depois daquela conversa nós poderíamos ficar mais próximos, amigos talvez… Até você trair seu próprio bando e fugir de uma batalha nossa pra correr atrás de um sanguessuga!
— Você não sabe o contexto todo, Lahote. E... Não era você quem me queria longe da batalha? Devia ter ficado feliz então quando saí de lá!
— Ele quase te matou, Maya! Como acha que eu me senti tendo que carregar aquilo comigo sem poder nem arrancar um dedo dele, por causa de pedido seu? E-eu quase te vi morrer e não pude fazer nada! E ainda ter que ficar aguardando notícias suas enquanto dependíamos daquele verme para tentar salvar a sua vida!? Caralho, Maya, acho que você realmente não tem noção alguma do quanto é...
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Let's Burn
FanfictionMaya Ateara tem sua vida virada de cabeça pra baixo no último ano. Em busca de apoio, ela segue o último conselho de sua mãe: ler diários antigos que a direcionam para seus familiares, os quais não sabiam sequer do seu paradeiro. O que ela não esper...