Esperança

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Nora e eu conversamos por mais algum tempo sobre feitiços, efeitos colaterais e demais cuidados, até que levantei movendo meus ombros para trás e balançando minhas mãos em sequência, em uma tentativa de mostrar para meu próprio corpo que estava pronta e preparada para tudo que fosse preciso.

— Pare, Maya. Não é como se eu fosse fazer isso agora. Pelos deuses, você tem se alimentado direito? Tem ao menos dormido? Espero que tenha entendido que eu amadureci durante todo esse tempo e não sou mais tão irresponsável quanto fui com sua mãe.

Virei para ela incrédula. Ela não estava ali para ajudar!?

— O quê? Eu não tenho tempo a perder, Nora! Eu sou forte, acredite. Pode fazer seja lá o que for.

— Maya, as coisas não acontecem em um passe de mágica. Não ache que tenho uma varinha aqui e como uma fada madrinha tudo irá se resolver. Está assistindo muitos filmes da Disney.

— Oh, claro! Vamos fingir que nada disso existe. Qual é…

— Três dias, Maya. Três dias se alimentando bem, com oito horas de sono, como um ser humano normal.

Nora se levantou e ficou apoiada em seu enorme móvel que possuía dezenas de livros em volta.

— Acontece que eu não sou um ser humano normal. Eu consigo fazer isso, Nora. Eu prometo. Vamos lá, sei que consegue sentir meu coração quebrado em mil pedacinhos!

Ela suspirou derrotada, me lançando um olhar repleto de dúvidas.

— Se algo der errado…

— Nada vai dar errado. Eu não sou minha mãe, Nora. Por favor, realmente não posso perder tempo.

— Tudo bem. Vamos fazer isso. — A feiticeira começou a se preparar pegando alguns itens de sua prateleira, enquanto me indicou com o olhar uma escada que provavelmente daria acesso ao local que ocorrerá o ritual — Não acha melhor ligar para alguém antes? Lá embaixo não tem sinal.

— Não. Somos só eu e Cameron na cidade e, acredite, ele aqui não iria ajudar em nada.

Ela apenas assentiu e continuou com os preparativos. Desci as escadas sem nenhum receio do que poderia ter lá embaixo. Com razão, visto que só encontrei uma cadeira ao centro de um círculo riscado no chão, com símbolos que não entendia direito. Ignorei o resto indo ao único lugar possível para sentar ali: a cadeira.

Nora logo se fez presente no pequeno espaço, descendo as escadas com vários livros e artefatos curiosos nas mãos, que quase cobriam a altura da sua cabeça por completo.

— Quer ajuda com isso?

— Nope. — Ela continuou me ignorando enquanto observava todo o lugar atentamente, provavelmente tentando se certificar que não estava esquecendo de nada.

Por segurança, observei melhor todo o espaço, até mesmo para entender se meu lobo caberia bem ali se fosse preciso me transformar para me defender de algo.

— Se quiser se transformar, terá que sair de dentro do círculo. Ele é uma barreira contra tudo que é sobrenatural. — Nora disse com a voz calma, e encolhi os ombros culpada.

— Desculpe, não quis ofender. — Fui sincera. Eu me sentia muito bem em sua presença e estranhamente confiava nela, mas ainda sim, eu possuía um animal selvagem dentro de mim que se incomodava com o fato de estar “preso” em um ambiente estranho.

— Não ofendeu, querida. Inclusive, se eu visse você dessa forma com qualquer outra pessoa, seria a primeira a lhe repreender. Você se sente confortável em minha presença porque sou a dona do feitiço que te protege, Maya. Mas por favor, não se coloque em riscos dessa forma com estranhos… Eu vou literalmente tirar de você a única proteção que posso te dar no meio desse mundo que vivemos. Não faça com que eu me arrependa.

Let's BurnOnde histórias criam vida. Descubra agora