Rompimento

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Eu me movia no automático. Era como se ainda não tivesse caído a minha ficha de que realmente estava ali. Nora tratou de me acomodar bem e me trazer um copo de água, o que fez com que eu me sentisse ainda mais a vontade com sua presença. Ela puxou uma cadeira e sentou-se à minha frente, onde pude notar melhor suas características.

Nora era uma mulher de presença forte. Seu cheiro, apesar de totalmente humano, tinha uma mistura mística que trazia curiosidade. Ela usava um óculos grande, mas não o suficiente para se tornar desproporcional, e que até se escondiam um pouco pela lateral de seu longo cabelo castanho escuro.

Ela se ajeitou e, após respirar fundo, começou.

— Sem mais delongas, irei me apresentar melhor. Assim como você, eu também tenho ancestrais poderosos, Maya. As minhas, no caso, sempre foram conhecidas por serem “bruxas do amor”. Está em nosso sangue entender, estudar e proteger esse sentimento tão poderoso. Quando sua mãe chegou até mim, foi por puro destino. Eu tinha acabado de me consagrar uma feiticeira depois de anos de estudos e preparações, e lembro como se fosse hoje da minha ida àquela lanchonete para comemorar. Foi assim que a conheci. Elizabeth estava tão debilitada e machucada internamente, que eu não consegui ignorar sua presença e fui falar com ela. As chances dela ter uma depressão pós parto eram extremamente altas. Ela nem sequer se importou com a minha aproximação.

— Minha mãe te contou algo naquele dia? O que sabe sobre o motivo dela vir para Seattle?

— Hoje eu sei de tudo, querida. Naquela época, eu sabia apenas que sua mãe não queria ferir a esposa do seu pai, nem o seu irmão que era apenas uma criança, além de não querer carregar o peso de viver em um lugar onde provavelmente apontariam o dedo pra ela e pra você pelo resto da vida, pela forma como você foi concebida. Sua mãe não queria que você sofresse as consequências das escolhas dela. Por isso, preferiu e acreditou que ficando longe de tudo, seria o melhor. Elizabeth precisou escolher entre o amor romântico e o amor maternal, Maya. Se ela escolhesse seu pai, teria que enfrentar tudo aquilo e talvez não estaria inteira pra você devido a depressão ou sei lá o que mais que poderia desenvolver, então ela escolheu ser inteira por e para você.

Eu não conseguia culpá-la. Minha mãe não sabia do imprinting e de toda sua força, poder e magia. Obviamente, também não compartilhou essa informação com Nora. Apesar de amar muito o meu pai, ela só sabia que ele era um homem "normal", casado e com um filho ainda muito pequeno. Qual garantia ela poderia ter de que ele não faria o mesmo com ela!? Talvez, se ela soubesse do imprinting como eu sei, lutaria um pouco mais, como eu estou lutando agora. Mas ela não sabia. Não deu tempo de saber.

— E hoje você sabe de tudo? Como?

Eu não iria falar nada da tribo. Nossas lendas são restritas, não saímos contando para todo mundo. Eu precisava saber primeiro tudo o que ela dizia saber, pra só assim seguir com a conversa. 

— Quando eu ajudei sua mãe, era pra ser algo bom, mas eu me senti péssima. Era como se eu estivesse fazendo algo errado. — Nora suspirou e demorou um pouco para retomar — Continuamos mantendo contato, logo soube que ela havia se apaixonado pelo Christopher e estava tão feliz… Eles se amavam tanto, você estava saudável na barriga, ela estava saudável. Tudo parecia um "final feliz", mas ainda sim, meu sentimento era agridoce. E foi assim que nos despedimos e eu decidi seguir para a reserva Quileute em busca de respostas para a minha condição, onde fui muito bem acolhida na época. Sua avó, Molly, foi quem me recebeu e me explicou tudo o que de fato aconteceu entre seus pais.

Agora sim eu tinha a certeza de que ela sabia de tudo. Minha avó era a confidente da minha mãe e também sabia a verdade por trás de todos os acontecimentos com meu pai.

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